Pianista prodígio da Baixada Fluminense terá aulas com o Presidente da Funarte

O presidente da Funarte, o pianista Miguel Proença recebeu um jovem talento do teclado Isaque Alves, 11 anos, no dia 17 de maio, sexta-feira, no Teatro Dulcina, espaço da Fundação, no Centro do Rio de Janeiro. O menino foi convidado pelo músico para aulas de piano gratuitas, como reconhecimento ao talento do jovem artista e incentivo à sua carreira.

Habituado à descoberta de novos valores na música, o dirigente, de renome internacional no piano, ficou impressionado com o repertório dele, avançado para a idade; e com o desempenho do pequeno músico, a partir de vídeos que viu no site do Jornal Extra – que cobriu o encontro – e na TV. Isso motivou Proença a procurar o pai de Isaque e oferecer aulas gratuitas a ele. “Se ele fazia aquilo ainda sem técnica no piano, o que faria se a aprendesse?”, pensou o presidente.

O encontro do menino com o presidente já foi para a primeira lição, no piano de cauda, pertencente à Funarte – de marca reconhecida. Isaque tocou Marcha Turca (Mozart) e o Noturno Op. 9 Nº. 2, de Chopin. O presidente mostrou algumas técnicas e transmitiu as primeiras dicas ao novo aluno. O garoto e seu pai, Marcos Paulo da Silva, estavam visível e compreensivelmente emocionados e agradecidos. “Foi incrível conhecer Miguel Proença! O que mais gostei foi tocar junto com ele. Com ele vou acrescentar várias coisas boas à minha carreira: criar novos repertórios, conseguir ter técnica e tudo mais que o pianista deve ter”, comemorou Isaque. O presidente vai buscar espaço em sua agenda para as aulas, o com o apoio da sua esposa, a também pianista Marly Proença.

“Isaque é um símbolo da atividade profissional de pianista. Ele tem somente 11 anos e vai longe! Daqui a um ano vocês vão ouvi-lo novamente. Verão que, com uma boa orientação, o talento dele vai crescer extraordinariamente!” comemora o presidente; e explica: “Fiz uma opção por valorizar música brasileira. Depois de consolidar minha carreira, decidi sempre procurar fazer alguma coisa pelo Brasil e por seus músicos”, explica Proença – considerado um dos maiores intérpretes de Villa Lobos.

Esteve presente ao encontro a nova coordenadora de Teatro e Ópera do Ceacen – Funarte, Renata Januzzi – administradora e formada em artes cênicas – bem como outros servidores da instituição. A Coteatro é responsável pelo Teatro Dulcina.

Da vaquinha virtual à TV: surge um grande artista

A família de Isaque tem poucos recursos financeiros. Mora numa casa simples, no bairro de Heliópolis. Sua mãe, Solange Alves da Silva, trabalha em casa de família. Seu pai, Marcos, é cozinheiro. Mas pode ter sido ele a sua primeira inspiração, pois toca vários instrumentos nas horas vagas. Seu filho começou no piano com apenas nove anos – idade que está na faixa considerada a melhor para a iniciação musical. Inspirado pela atmosfera das Olimpíadas Rio, em 2016, o garoto fez um pedido ao pai: queria tocar o tema do filme Carruagens de fogo (cujo enredo é sobre a corrida e a superação, no esporte e na vida). Mas Isaque nunca havia tocado o instrumento. Mesmo assim, seu desempenho surpreendeu.

“Ele tocou tão direitinho que resolvi levá-lo na escola de música de um amigo […] e ele ficou impressionado com o menino logo na primeira aula. Disse que meu filho não era normal. O que outros alunos levavam dias para aprender, ele fazia na hora”, relatou Marcos ao jornal Extra. O professor disse a ele, três meses depois , que nada mais podia ensinar a Isaque. O pai também não tinha condições de pagar mais aulas. Porém, o garoto seguiu treinando; até que um vídeo dele viralizou na internet, tocando Bach (Minueto em Sol Maior), que alcançou em menos de um dia, mais de 15 mil visualizações.

Isso levou duas professoras a quererem ensinar piano de graça ao menino: uma de São Paulo e outra do Rio, Patrícia Mol, da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Por estar mais próxima, foi escolhida; e preparou Isaque para competições. Para o aprimoramento do filho, Marcos teve que vender seu velho teclado e fazer uma vaquinha virtual para custear um piano acústico, comprado por sugestão da professora. Ela recomendou que, além da dedicação ao instrumento, o aluno também buscasse aprofundamento em cultura geral e, principalmente, ouvir muita música. Funcionou: ele foi vice-campeão no Concurso Nacional de Piano da Escola de Música Villa-Lobos (Rio). Tirou também segundo lugar na seleção para o curso de piano clássico da EM – UFRJ, entre 180 candidatos, com idades entre 9 e 14 anos, com nota 9,5 – somente a dois décimos do primeiro colocado. Isaque ainda se apresentou  num programa de TV apresentado por Sílvio Santos, tocando habilmente Chopin, Mozart, Bach, Beethoven e Zequinha de Abreu.

“Quando o aluno está pronto o mestre aparece”

O velho ditado se aplica bem ao encontro entre Miguel e Isaque. O menino quer ser profissional da música, ser concertista e se apresentar na Europa. Mas sua família pensa em como vai conseguir manter os estudos de música erudita dele – antes sem professor, somente com aulas de teoria. Por isso, a oferta de Miguel e Marly Proença chegou na hora certa. O pai do garoto disse ao Jornal Extra que a Prefeitura de Belford Roxo também se comprometeu a ajudar.

“Sempre descobri talentos e incentivei carreiras – inclusive no interior do país. Muitos deles tornaram-se ótimos artistas e professores; alguns tocam no exterior e lecionam em escolas de vários países do mundo”, relata Miguel. “Esse trabalho também representa inclusão social e sempre me preocupei com isso. Entre os jovens com poucos recursos, tem surgido grandes músicos”. Por isso, o presidente da Funarte quer que uma das prioridades da entidade seja a cidadania e à inclusão social.

Oportunidades para crianças e jovens: cidadania e novos públicos

O dirigente citou como exemplo o apoio que prestou à uma organização sem fins lucrativos socioeducacional musical, a Ação Social Pela Música do Brasil (ASMB) – que promove a formação da cidadania e a inclusão social por meio do ensino coletivo da música de concerto, desde 1994. Ela reúne crianças, adolescentes e jovens, moradores de comunidades em situação de vulnerabilidade social, em orquestras jovens no Estado do Rio de Janeiro (capital e Petrópolis), na Paraíba e em Rondônia.

“Chamei músicos da Europa a ensinar os participantes dessa iniciativa. Os contatos e experiências ajudaram orquestras da ASMB* a tocar na Alemanha e na Holanda, onde encantaram a plateia e repercutiram na mídia”, relata Proença. Ele acrescenta que, em suas gestões (Sala Cecília Meireles e Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro), sempre convidou bons professores e ajudou a criar formações orquestrais. “Um dos meus objetivos sempre foi impulsionar talentos. Aos que vão para o exterior, convido para voltar ao Brasil e estimular a formação de público”, completa.

Acesse aqui vídeo com Isaque

Acesse abaixo vídeos do encontro entre o menino e o presidente da Funarte

Mais sobre a ASMB

Consta que quase quatro mil crianças e jovens sejam beneficiados por essa ONG, a partir de 12 núcleos. Na capital fluminense, ela atua em quatro comunidades em risco social. A Orquestra Jovem do Brasil e a orquestra Mercosul são exemplos  do trabalho da instituição – criada pelo falecido maestro David Machado, por inspiração do maestro José Antônio Abreu, a partir do método El Sistema. A ASMB é dirigida hoje pela viúva de Machado, a violoncelista e produtora Fiorella Solares.