Funarte chora a morte de Flávio Silva, um sustentáculo da música brasileira

Flavio Silva - 2013. Foto S. Castellano

A Fundação Nacional de Artes – Funarte amanheceu chorando pelo falecimento de Flávio Silva. Musicólogo, pesquisador e servidor aposentado da instituição e membro da Academia Brasileira de Música, Flávio morreu dormindo, na madrugada do dia 8 de outubro, terça-feira, em seu apartamento, em Copacabana, Rio de Janeiro (RJ), onde morava com sua esposa, a pianista Laís de Souza Brasil – também acadêmica da ABM. Seu corpo será velado no dia 9, quarta-feira, das 13 h às 16 h, na Capela B, Crematório da Penitência, no Caju – Rio de Janeiro.

Na Funarte, onde trabalhou como servidor, por 40 anos, o gaúcho Flávio Silva idealizou e coordenou, por muitos anos, programas como a Bienal de Música Brasileira Contemporânea, O Prêmio Funarte de Concertos Didáticos, os Painéis Funarte de Regência Coral, as edições de partituras e várias outras iniciativas, reconhecidas por seu valor para o aprimoramento artístico, a pesquisa acadêmica e a divulgação da música erudita. Seus estudos também alcançam a música popular e a história de suas várias linguagens.

Flávio Silva Escreveu e organizou várias obras em texto, como o livro Camargo Guarnieri : o tempo e a música (Edições Funarte – 2001), além de muitos estudos, ensaios e artigos sobre vários aspectos da música e da cultura. Membro da Academia Brasileira de Música, foi bolsista da Fundação Vitae e recebeu da ABM o segundo lugar em concurso de monografias, com um estudo sobre relações entre músicas clássicas e populares no Brasil entre 1920 e 1950 – mediadas, em especial, pela influência do disco e do rádio. “As pesquisas envolvidas por esses trabalhos levaram-no a encontrar gravações esquecidas de coros escolares cariocas, gravadas em discos em 1940, e que motivaram um dos artigos que publicou na Revista Brasiliana”*. O canto orfeônico nas escolas foi um dos muitos temas de suas pesquisas, que contemplaram o legado de grandes nomes brasileiros, como, por exemplo, Villa Lobos e Francisco Mignone – cujas obras catalogou para a ABM. Frequentemente participava, como palestrante, conferencista e debatedor, de eventos na área da música e da cultura brasileira em geral. Deixou vários estudos em andamento.

Diz o presidente da Funarte, o pianista Miguel Proença: “A morte de Flávio Silva é uma perda irreparável para a história da música e para as artes do Brasil. Além de grande musicólogo e pesquisador, foi um servidor exemplar da Funarte. Seu desempenho, paixão e fidelidade a um trabalho incansável produziu inúmeros frutos. Eles ajudarão as novas gerações de músicos, que poderão conhecer melhor a história da música brasileira. Conheço Flávio desde a mocidade. Ele foi meu colega em Porto Alegre e sempre admirei sua personalidade única e carismática – a qual marcou seu trabalho. Manifesto minha profunda dor e os mais sentidos pêsames à família, em especial à minha querida colega pianista Laís de Souza Brasil, em nome de todos os servidores e colaboradores desta Fundação. O meio musical sentirá muito essa ausência”.

Pequena biografia*

Flavio Vieira da Cunha Silva nasceu a 7 de fevereiro de 1939, em Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul. Os estudos de piano, iniciados com uma tia, foram continuados em Porto Alegre, com Milton Lemos e Natho Henn. Frequentou os cursos internacionais de férias de Teresópolis e mudou-se para o Rio de Janeiro em 1958, passando a estudar com Hans Graff, Alda Caminha e Homero Magalhães, além de realizar estudos gerais com Esther Scliar e Guerra-Peixe. Em 1960, ingressou na embaixada da França como discotecário e foi aprovado para o curso de Filosofia da Faculdade Nacional de Filosofia (Rio de Janeiro). Durante dois anos, foi redator de programas da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB). Em 1968, obteve bolsa para estudos de musicologia em Paris, tendo se dedicado, sobretudo, à etnomusicologia, com Jacques Chailley, Tran Van Khê, Simha Arom, Claude Laloum, Émile Leipp e Claudie Marcel-Dubois, sob cuja orientação e, com apoio de Luiz Heitor Corrêa de Azevedo, preparou a memória Origines de la samba urbaine a Rio de Janeiro, só concluída em 1974, após voltar ao Brasil e fazer intensa pesquisa em cerca de 2.500 periódicos cariocas publicados, sobretudo, entre 1916 e 1918.

Em 1977, ingressou na Funarte, como funcionário do então Instituto Nacional de Música, no qual exerceu as mais diversas funções, envolvendo organização musical e divulgação da música em todo o país. Ocupou vários cargos, inclusive o de diretor do atual Centro da Música, do qual é coordenador de música erudita. Coube-lhe organizar diversas edições das Bienais de Música Brasileira Contemporânea. Editado pela Funarte, seu livro sobre Camargo Guarnieri contém estudos de vários especialistas, aos quais acrescentou textos seus. Participou da edição de outras obras sobre música pela Funarte, e de gravações de música brasileira.

Eleito para a Academia Brasileira de Música, em 2008, foi empossado a 15 de março do mesmo ano, para ocupar a Cadeira nº 28.

Deixa dois filhos, Gustavo e Rosana, do seu primeiro casamento, com Ana Maria Saldanha; um neto, Thom, filho de Gustavo; e a esposa atual, Laís. Deixa ainda a gratidão eterna da Funarte e de seus servidores e colaboradores. Que este texto marque uma homenagem eterna, de afeto e admiração.

Acesse aqui entrevista com Flávio Silva, realizada pelo Portal da Funarte

Acesse aqui vídeo com depoimento do musicólogo