Funarte lamenta a morte da atriz Nicette Bruno

Nicette Bruno, em Anjo Negro. 1948. Imagem: Acervo Foto Carlos - Cedoc Funarte

A Fundação Nacional de Artes – Funarte lamenta a morte da atriz Nicette Bruno, ocorrida na manhã do último domingo, dia 20. Ela faleceu com complicações do covid 19, aos 87 anos. Estava internada numa clínica, na Zona Sul do Rio de Janeiro, desde o dia 26 de novembro.

O sorriso, a generosidade e o amor, eram as suas marcas registradas, visíveis tanto na vida pessoal quanto no trabalho. Isso foi mencionado por amigos da atriz, por seus parentes e colegas, e por anônimos, nas diversas homenagens que a artista vinha recebendo desde a internação. Uma corrente de fé foi formada em torno de sua recuperação e se tornou assunto comentado na mídia. A comoção generalizada também foi grande, após a confirmação do falecimento.

Em um trecho do depoimento à TV Globo, em 2005, Nicette Xavier Miessa fez uma auto-apresentação. Nela, explicou que sua família por parte de mãe, Eleonor Bruno Xavier (médica e atriz), era Bruno e, como era uma família muito direcionada para o lado artístico, adotou esse nome. Acrescentou que o lado do pai, Sinésio Campos Xavier, funcionário do Tesouro Nacional, era mais ligado às finanças e, por isso, Nicette não achava adequado usar o nome dele.

A atriz compôs uma ilustre família de artistas: além de sua mãe, seu marido, Paulo Goulart e filhos, Paulo Goulart Filho, Beth Goulart e Bárbara Bruno.

A artista nasceu no dia 7 de janeiro de 1933, na cidade de Niterói, na Região Metropolitana do Rio do Janeiro. Aos quatro anos de idade iniciou sua carreira artística, na Rádio Guanabara, no programa infantil de Alberto Manes. Estreou no cinema aos 14 anos, na comédia Querida Suzana (1947), dirigida por Alípio Ramos, em que interpretava uma jovem de uma escola de moças. Nessa produção, Anselmo Duarte e Tônia Carrero eram seus colegas de elenco. Desde então, foram mais de dez filmes na carreira – como Avental Rosa (2018), de Jayme Monjardim, no qual a atriz fez uma participação especial.

Grandes companhias teatrais tiveram a honra de trabalhar com Nicette. Sua iniciação na cena foi em Romeu e Julieta, de Shakespeare, com direção de Esther Leão, pelo Teatro Universitário (TU), em 1945. Em A Filha de Iório (1947), de Gabriele D’Annunzio, a atriz interpretou a personagem Ordella. Em 1948, participou de Anjo Negro, de Nelson Rodrigues (direção de Ziembinski). Esses foram trabalhos para o Teatro Popular de Arte (TPA), companhia de Maria Della Costa e Sandro Polloni.

Aos 17 anos, após diversas atuações cênicas, ela fundou, em 1951, o Teatro de Alumínio, na Praça das Bandeiras, em São Paulo. Atualmente, o espaço cultural é conhecido por Teatro Íntimo Nicette Bruno (TINB). Foi no local que Nicette, aos 19 anos, conheceu o ator paulista Paulo Goulart, durante a turnê do espetáculo Senhorita Minha Mãe (Louis Verneuil). Em 1952 começaram a namorar. Oficializaram a união, em 1954, e passaram a dividir a direção da equipe.

Em 1962, o casal mudou-se para Curitiba, onde passou a desenvolver atividades junto à Escola de Teatro do Guaíra, participando da fase áurea do Teatro de Comédia do Paraná, entre 1962 e 1966. Nicette integrou, entre outros, o elenco de Um Elefante no Caos (1963), de Millôr Fernandes, e A Megera Domada (1964), de Shakespeare – ambos os espetáculos dirigidos por Cláudio Corrêa e Castro. Em 1967, já de volta a São Paulo, o casal juntou-se a Antônio Abujamra e criou o Teatro Livre, celeiro de grandes sucessos na época, como, por exemplo, Boa Tarde, Excelência, de Sérgio Jockyman.

No Rio de Janeiro, Nicette participou de Meu Reino por um Cavalo, original de Dias Gomes, uma encenação de Antônio Mercado, em 1989. Trabalhou também em Somos Irmãs (1998), de Sandra Louzada, sendo contemplada pelos prêmios Shell e Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), de Melhor Atriz; e, em 2000, mais uma vez em parceria com o amigo Abujamra, surgiu em Crimes Delicados, de José Antônio de Souza.

A atriz tornou-se ainda mais querida e reconhecida pelo público, ao iniciar sua carreira na televisão em 1981, no seriado Obrigado, Doutor. Sempre trabalhou ativamente em telenovelas, minisséries, seriados, humorísticos e infantojuvenis, além de participações especiais em programas de auditório. Sua primeira atuação em novelas foi em Sétimo Sentido (1982), de Janete Clair. Um ano depois, já fazia parte do elenco de Louco Amor (1983). No currículo da atriz podemos destacar 22 novelas de sucesso. O seu último trabalho na TV foi uma participação especial em Éramos Seis (2020), onde interpretou a madre Joana e também a protagonista Lola, na primeira versão da história, em 1958.

Nicette atuou nas minisséries Meu Destino é Pecar (1984), Tenda dos Milagres (1985), Incidente em Antares (1994), Engraçadinha… Seus Amores e Seus Pecados (1995), Labirinto (1998) e Aquarela do Brasil (2000); nos seriados Obrigado, Doutor (1981); nas series de humor Sai de Baixo (1998) – no episódio Sexta, Sábado e Suingue – e em A Diarista, em Quem Rouba Tem! (2006); nos programas infantojuvenis Flora Encantada (1999), Sítio do Picapau Amarelo (2001), no qual interpretou Dona Benta, e Xuxa no Mundo da Imaginação (2004); além de programas como Caso Verdade, nos episódios Procura-se Amor (1983) e Cartas Marcadas (1985); e Você Decide, em A Volta (2000).  Em Brava Gente, participou do episódio O Santo e a Porca, em 2000.

A atriz Nicette Bruno foi velada no Crematório da Penitência, no Rio de Janeiro. Suas cinzas vão ser levadas para São Paulo. O jazigo da família fica no Cemitério da Consolação, na Zona Sul da capital, mesmo local de sepultamento de seu marido, Paulo Goulart. Ele faleceu em 2014 – ano em que eles completariam 60 anos de casados.

A Funarte se solidariza com a família, os amigos e os fãs da atriz Nicette Bruno. Descanse em paz!

Com informações da Enciclopédia Itaú Cultural e projeto Memória Globo