Às vésperas do Dia Internacional da Mulher, Funarte homenageia Lolita Rodrigues e Hebe Camargo

Hebe Camargo, Nair Bello e Lolita Rodrigues. Foto Fernando Arellano

Aproxima-se o dia Internacional da Mulher, 8 de março. Por isso, a Funarte homenageia duas grandes damas do rádio e televisão brasileira: Hebe Camargo e Lolita Rodrigues, nascidas respectivamente nos dias 8 e 10 de março de 1929. Elas se conheceram com 15 anos de idade, cantando na rádio Emissoras Associadas, de Assis Chateaubriand. A amizade durou a vida toda.

Em entrevista a Jô Soares, no ano 2000, Lolita contou que, a pedido de Hebe, em 1950, participou da inauguração da TV Tupi, cantando o Hino da Televisão Brasileira. Ambas atuaram no cinema e tiveram carreiras grandiosas na TV: Hebe como apresentadora e cantora e Lolita como apresentadora e atriz. “São personalidades à frente de seu tempo, que inspiraram uma geração de mulheres, enfrentando tabus e lutando pela liberdade de direito de escolha feminina”, comenta a Coordenação de Teatro/Ceacen – Funarte.

A apresentadora de TV, cantora, atriz e radialista Hebe Camargo tem como um dos prêmios conquistados o de “Rainha da televisão brasileira”. Considerada uma das figuras mais emblemáticas da comunicação no país, Hebe Maria Monteiro de Camargo Ravagnani nasceu em Taubaté (SP), filha do violonista Sigesfredo Monteiro de Camargo e de Esther Magalhães de Camargo. Começou a carreira vencendo um programa de calouros no rádio paulista. Integrou um conjunto vocal com familiares e, depois, formou um quarteto, com o qual se apresentou na Rádio Tupi (SP). Diz o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira que Hebe iniciou carreira artística própria em 1947, cantando em dueto com a irmã, Estela, num programa apresentado pela dupla Tonico e Tinoco, na Rádio Difusora (SP). Em 1948, integrou o elenco do show de seu amigo Mazzaropi, novamente na Tupi. Em 1950, estreou em disco, na gravadora Odeon, cantando sambas e marchas. No mesmo ano, testemunhou a chegada do primeiro equipamento de TV ao Brasil, na TV Tupi, de Assis Chateaubriand. Continuou nas gravações, sempre incluindo novos ritmos ao repertório.

“Começou a se destacar quando substituiu Ary Barroso em um programa de calouros na TV Paulista” diz o Dicionário Cravo Albin da MPB. Atuou intensamente em televisão nos anos 1950 chegando a apresentar vários programas semanais. Gravou obras de grandes compositores, tais como Dorival Caymmi, Garoto, Antônio Maria, Carlos Gardel, Blecaute, Assis Valente, Vinícius e Baden, Chico e muitos outros. Em 1955, estreou, em São Paulo, O mundo é das mulheres, primeiro programa feminino da TV brasileira. Recebeu o prêmio Antena de Prata, como Melhor apresentadora de 1961. Se casou e afastou-se temporariamente da vida artística. Em 63, estreou novo programa, na TV Tupi. Em 66, passou a dedicar-se mais ao trabalho de apresentadora, com seu Programa Hebe, recordista de audiência.

Em 1973, retornou ao rádio. Depois voltou à TV, passando, até os anos 90 por duas grandes emissoras. Voltou aos estúdios musicais, com novas gravações, em 1999 e 2001. Em seu CD Como é grande o meu amor por vocês, cantou com grandes nomes brasileiros, representantes de vários estilos. Em 2004, completou 18 anos no Programa Hebe Camargo. Em 2010, cantou numa apresentação, ao lado de Roberto Carlos. Recebeu o Prêmio Extra de televisão. Em 2011, foi lançado o DVD Hebe Mulher e amigos, no qual  interpretou sucessos da música popular brasileira, ao lado de outros cantores famosos. Em 2017, o jornalista Artur Xexéo lançou o livro Hebe – A biografia – que inclui depoimentos de artistas e familiares da apresentadora. E 2019, foi realizada a exposição Hebe eterna, com curadoria de Marcello Dantas. Em 2019, estreou em todo o país a cinebiografia Hebe – A estrela do Brasil, com Andréa Beltrão no papel principal, direção de Maurício Farias e roteiro de Carolina Kotscho.

Lutando contra um câncer desde 2010, Hebe Camargo faleceu em casa, em 2012, com 83 anos.

Lolita Rodrigues

A atriz, cantora, e apresentadora Sylvia Gonçalves Rodrigues Leite, conhecida como Lolita Rodrigues, teve uma das mais longas carreira da TV brasileira. Nasceu em Santos (SP) Segundo um registro do Centro de Documentação e Pesquisa (Cedoc) – Funarte, ela iniciou sua carreira participando de programas na Rádio Record. Muto amiga de Nair Bello e de Hebe Camargo, Lolita foi casada com o apresentador de TV Airton Rodrigues, com quem trabalhou por muitos anos, nos programas Almoço com as estrelas e Clube dos Artistas – duas das mais duradouras e aplaudidas atrações televisivas do país.

Filha de imigrantes espanhóis, herdou deles as castanholas, que utilizava muito. Aos nove anos de idade, apresentou-se pela primeira vez no rádio, cantando canções sevilhanas. Depois ingressou num programa infantil, na Rádio Atlântica. Aos treze anos, mudou-se com a família para a Capital Paulista, onde formou-se pianista e professora infantil. Aos quinze, venceu um programa de calouros na Rádio Cultura. Foi contratada pela Bandeirantes. Passou por outras rádios, até chegar às Emissoras Associadas, de Chateaubriand, onde ficaria por muitos anos. Ali recebeu o título de “A Voz Espanhola das Emissoras Paulistas”. Foi lá que conheceu sua amiga Hebe Camargo.

No cinema, Lolita Rodrigues estreou, como cantora, no média-metragem Chuva de Estrelas (1948), primeiro filme do Estúdio Cinematográfico Tupan (também de Chateaubriand), que mostrava os rostos dos artistas do rádio. No ano seguinte, a artista trabalhou – também cantando – em Quase no Céu, único longa de sua carreira – novamente reunindo os astros das Associadas. No ano seguinte, participou da inauguração da primeira emissora televisiva do Brasil, a Tupi, onde cantou o Hino da Televisão Brasileira (Guilherme de Almeida). Seria Hebe Camargo quem iria interpretar a partitura. Mas a colega faltou e Lolita foi a escolhida.

Nos primeiros tempos da TV, a artista queria chances para trabalhar como atriz,, mas só era escalada como cantora. Em 1950, ganhou seu primeiro troféu Roquette Pinto, justamente nessa categoria (o outro foi em 1953). Gravou alguns discos pela Chantecler, em 1960. No seu repertório, além de músicas espanholas, cantou também em outros idiomas – inclusive um rancho, com Mazzaropi. Um de seus maiores sucessos fonográficos foi Donde Estará Mi Vida.

Estreou como como atriz de TV em 1955, na série O Grande Teatro Tupi, em Os Irmãos Corsos. Na época, tudo era ao vivo. No mesmo ano, participou da telenovela Posto Avançado, com direção de Péricles Leal, ao lado de Lima Duarte e outros talentos. Atuou em várias outras novelas e teleteatros na emissora. Em 1952, tornou-se também apresentadora, assumindo o programa Clube dos Artistas, que ficou no ar até 1980 – migrando para o SBT, após a falência da Tupi. Em 56, Lolita passou a apresentar também Boliche Royal, ao lado de J. Silvestre e Marly Bueno. Ainda comandou Campeões do Disco (ao lado de Roberto Côrte Real) e outras atrações. Em 57, estrelou a novela O Corcunda de Notre Dame, com grande elenco. No ano seguinte, ela e Airton Rodrigues assumiram o programa Almoço com as Estrelas. Comandado antes por J. Silvestre, desde 1954, esse foi um dos mais famosos e contínuos programas da TV brasileira, no ar até 1982 – tendo passado ainda por outras emissoras.

Lolita Rodrigues também foi apresentadora infantil, em 1960, quando também participou de um humorístico, com Dorinha Duval. Em 1961, trabalhou na programação da recém-inaugurada TV Cultura (também de Assis Chateubriand, antes de tornar-se a Fundação Padre Anchieta) e, como co-apresentadora, pela Excelsior. Em 63 retornou à atuação em teledramaturgia. Nesse ano, trabalhou na primeira novela diária do Brasil, 2-5499 Ocupado. Em 68, migrou para a TV Record, tendo atuado em várias novelas. Dez anos depois, Na Tupi, fez sua última novela, uma nova versão da famosa O Direito de Nascer. Com a falência da emissora, foi, junto com o marido, para a então chamada TVS (depois SBT), nas recriações do Almoço com as Estrelas e do Clube dos Artistas.

Em 1986, foi para a Globo, atuando numa minissérie, em várias novelas e num humorístico. Depois passou pela antiga TV Manchete, pelo SBT e pela Record. Seu último trabalho televisivo foi na novela Viver a Vida (2009), aos 80 anos, como D. Noêmia. O papel foi um presente para a atriz, do autor, Manoel Carlos. Lolita anunciou sua aposentadoria em 2015, e foi morar em João Pessoa (PB), onde vive atualmente, com sua filha, Silvia.

O Cedoc Funarte dispõe de duas peças de acervo sobre a artista: a biografia Lolita Rodrigues: de carne e osso (2008) e um recorte de jornal antigo.

Lolita Rodrigues. Foto: memoriascinematograficas.com.br

 

 

 

 

 

Com informações da Coordenação de Teatro e Ópera – Funarte,
do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira
e dos sites G1, natelinha.uol.com.br e memoriascinematograficas.com.br