“Rio São Francisco, um rio brasileiro”

Um novo olhar sobre o Velho Chico. Com a exposição Rio São Francisco, um rio brasileiro, que será aberta à visitação, a partir de 11 de novembro, no Mezanino do Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, a Funarte e o estilista Ronaldo Fraga convidam o público a redescobrir a cultura e a beleza do Velho Chico.

A mostra é dividida em 14 ambientes, com arte contemporânea, vídeo, instalações interativas e moda. Entre os destaques, um vídeo gravado e dirigido pelo ator Wagner Moura. O documentário é sobre a cidade de Rodelas, na Bahia, onde o ator foi criado, e que foi inundada, quando ele ainda era criança, para a construção de uma hidrelétrica. Em outro espaço, “Lendas do rio”, vestidos musicais ecoam a voz de Maria Bethânia declamando o poema “Águas e Mágoas do Rio São Francisco”, de Carlos Drummond de Andrade.

Com entrada gratuita, a exposição retrata a cultura do povo ribeirinho e a beleza da arte popular. O projeto nasceu em 2008, quando Ronaldo Fraga percorreu o São Francisco, a bordo do histórico Benjamim Guimarães – último barco a vapor em atividade no mundo. Nas diversas viagens, reuniu informações, imagens, referências e lendas de caixeiros viajantes e de moradores da região. Além de inspirar uma das coleções do estilista, que levou o tema à passarela da São Paulo Fashion Week (2008), a magia do São Francisco foi transportada também para essa exposição, que já passou por duas capitais: Belo Horizonte, em 2010; e São Paulo, em abril de 2011; e agora chega ao Rio.

Para o presidente da Funarte, Antonio Grassi, receber uma exposição de Ronaldo Fraga, com um tema tão brasileiro quanto o Velho Chico, no Palácio Gustavo Capanema, é motivo de orgulho para a instituição. “É também uma oportunidade para o público conhecer mais a cultura e a beleza da região”, ressalta Grassi.

O estilista Ronaldo Fraga afirma que as águas do São Francisco não cabem em uma só coleção de moda, em um só livro e muito menos em uma única exposição. “Por onde passei, ouvi que, quando se bebe da água do rio, ele entra em você e não sai mais. E é exatamente isso o que eu sinto, que o São Francisco não sai mais de mim”, define o estilista.

A coleção apresentada por Ronaldo Fraga na São Paulo Fashion Week também compõe a mostra, acrescentada de peças exclusivas. Mas o estilista reforça: “Na exposição, a coleção não é o tema central, e sim mais um elemento fruto do legado do rio, que conta a sua história”. Neste ambiente, a memória das bordadeiras, ofício muito presente nas cidades ribeirinhas, principalmente na região de Pirapora (MG), recebe homenagem por meio de uma grande parede simulando os bastidores de bordados.

Ambientes da exposição

Mapa – um grande mapa de 12m reproduz o traçado do São Francisco, no qual lentes de “slides” mostram fotos e vídeos das 15 principais cidades ribeirinhas.
Foz – um grande espaço, com colchões estampados, como se fossem água, representam a desembocadura do Rio, onde peixes coloridos, feitos com garrafas pet cercam uma projeção de vídeo, em que o artista explica a proposta da exposição.
Pescaria do saber – dedicado às crianças. Ali elas podem conhecer um pouco mais sobre os peixes do rio.
De encontro ao rio – fotografias de Soraya Ursine (MG), tiradas pela jornalista durante a Expedição Engenheiro Halfeld, que percorreu todo o rio, em 2001.
Cidades submersas – instalação que remete às cidades alagadas para dar lugar às usinas hidrelétricas. Projeção do vídeo de Wagner Moura, sobre maquete escultural da cidade inundada de Rodelas (BA), onde ele foi criado.
Lambe-lambe das lendas – Ilustrações de Ronaldo para as lendas mais famosas do universo do “Velho Chico”. Há textos explicativos sobre entes mitológicos, como o Caboclo d’água, a Pisadeira, a Cachorrinha d’água, o Minhocão, o Tutu Marambá, a Mãe d’água, entre outros.
O Gosto que o Chico tem – representa por imagens os cheiros e sabores dos mercados da região, tais como os de pequi, coquinho azedo, rapadura, tapioca e cajá. Na parede, de latas litografadas, com imagens de peixes em extinção, próprios do rio.
A Voz do Chico – sai de vestidos a voz de Maria Bethânia, declamando o poema “Águas e Mágoas do Rio São Francisco”, da obra “Discurso de Primavera e Algumas Sombras”, de Carlos Drummond de Andrade (1977).
Água que se bebe – garrafas com as águas do rio e rótulos fictícios, que homenageiam cidades, mitos e crenças regionais características.
De gota em gota se faz o mar – A nascente do rio: a instalação interativa convida o visitante a relatar suas percepções e emoções em uma grande lousa.
O Rio tece e veste – Instalação de vestidos, criada a partir do desfile do estilista, na São Paulo Fashion Week, em 2008, inspirado na cultura do “Velho Chico”, cuja coleção originou a exposição. Ao lado, há uma grande parede, que simula os bastidores do trabalho das bordadeiras. Segundo Ronaldo, ela é uma justa homenagem à memória desta profissão, muito presente nas cidades ribeirinhas – principalmente na região de Pirapora (MG).
Memória e devoção – reproduz os ex-votos (fotos, quadros ou objetos, postos em igrejas, em gratidão a uma promessa. O roteiro explica que eles representam a expressão máxima de fé de romeiros que visitam, desde a descoberta do ouro, em MG, o santuário de Bom Jesus da Lapa. O visitante pode pisar no sal grosso, que cobre inteiramente o chão do módulo.
Do Convés do Vapor Benjamin Guimarães observamos as várias faces do rio – são retratados os corredores do antigo navio a vapor, que navega até hoje na região. Tombado como patrimônio, é o único do seu tipo que ainda funciona, no mundo.
O Chico e o caixeiro viajante – Em parede, feita de malas antigas, similares aos dos mercadores andarilhos dos anos 1940 e 50. Fotos de Marcel Gautherot, do acervo do Instituto Moreira Salles, e vídeos produzidos pelo projeto “Cinema no Rio São Francisco” retratam uma o cotidiano da época, e a saudade “de um rio que não existe mais”.

“Rio São Francisco, um rio brasileiro”

De 11 de novembro a 10 de fevereiro de 2012, segunda a sab, das 9h às 18h
Abertura (para convidados): 10 de novembro
Mezanino do Palácio Gustavo Capanema
Rua da Imprensa, 16 – Centro, Rio de Janeiro
Entrada gratuita