O Teatro Glauce Rocha, com lotação esgotada, recebeu o musical Galanga, Chico Rei, que abriu o projeto Linguagens Brasileiras – Cultura Negra em Cena, na noite de quinta, 12 de abril. Com texto e músicas de Paulo César Pinheiro e Sergio Santos, e direção de João das Neves, o espetáculo se utiliza da congada para contar a vida de Chico, rei de uma tribo do Congo, que é trazido para o Brasil como escravo, tornando-se, mais tarde, dono de mina e alforriando muitos irmãos negros.
A coordenadora de teatro Heloísa Vinadé, representando a Funarte, prestigiou a apresentação. O músico e arranjador Dori Caymmi, que assistia pela primeira vez à montagem, não poupou elogios à encenação, ao elenco e, principalmente, a Maurício Tizumba. “Primeira vez que vejo. Me deixou emocionado porque isso é o Brasil. E Paulo César Pinheiro escreveu uma coisa linda, uma festa linda. É um espetáculo incrível!”
Dori Caymmi também destacou o apoio da Fundação Nacional de Artes ao abrir seus teatros a trabalhos de qualidade, com preços acessíveis à população. “Sou um brasileiro doente e esse tipo de projeto, que envolve a Funarte, me deixa muito feliz porque o grande público é o publico que tem que pagar pouco. O público das revistas de celebridades não gosta disso não. Isso (mostrado no espetáculo) é que é o Brasil.”
Paulo César Pinheiro, que também compôs a maioria das canções, disse que já tinha ‘na cabeça’ a história de Chico Rei, há muitos anos. E viu a oportunidade de escrever sobre o assunto, depois da montagem de Besouro Cordão de Ouro, seu outro musical que fala de Mestre Besouro, mito da capoeira na Bahia. Para o autor, o espetáculo não resgata a história de Chico Rei, mas relembra sua figura tão importante na história de Minas e do Brasil. “Pode ser que, a partir disso, outros trabalhos comecem a acontecer com a temática desse mito brasileiro negro, que foi o rei do Congo e que viveu entre nós”. Ele também contou que escreveu o texto para Murício Tizumba: “Sem o Maurício não teria tudo isso, eu fiz pra ele”.
Feliz com o resultado em cena – “porque danço, canto, interpreto” –, Murício Tizumba agradeceu o presente (o texto) de Paulo César Pinheiro para ele. O congadeiro conta que o processo de criação foi um pouco difícil: “Tive que abandonar o Tizumba pra criar um contador de história com sabedoria milenar. Mas à medida que fui trocando as informações com o João das Neves, acredito que estou conseguindo ser claro com a contação.”
A vivência do mineiro na congada contribuiu para o sucesso do espetáculo, que vem de uma temporada de quatro meses em Minas Gerais. “Eu sou um congadeiro e conheço esses ritmos desde pequeno. Ajudei a criar as coreografias, encaminhar alguns arranjos e a forma de cantar mais congadeira”. Tizumba interpreta Pai Grande, o contador, que também é um capitão de congada.
Na reestreia carioca, no teatro da Funarte, o diretor João das Neves era só alegria. O mineiro, que repete a dobradinha com Paulo César Pinheiro, iniciada com Besouro Cordão de Ouro, comentou que o espetáculo está mais maduro e que mantém o mesmo elenco da temporada, que começou em novembro de 2011, no Rio de Janeiro.
João das Neves disse que o aspecto fundamental do trabalho está na música de Paulo César Pinheiro e Sergio Santos, e na fusão da história de Chico Rei com o congado mineiro. “É uma cultura muito forte, afro-brasileira, mas com imensas influências da Igreja Católica e também aliada à forte tradição da ancestralidade. É uma sorte e uma felicidade ter no espetáculo pessoas (do elenco) que são muito próximas dessa manifestação do congado, como a Titane (diretora musical) e o Tizumba, que é capitão de guarda de Moçambique. Eu mesmo faço parte de uma guarda de Congo, no interior de Minas. É uma força muito grande, autêntica, vibrante e com uma qualidade artística encantadora.”
Empolgado com a receptividade do público carioca, o diretor acredita no sucesso da curta temporada no Teatro Glauce Rocha. “Vai ser como da primeira vez. Já reestreamos com o teatro superlotado, espero que seja uma doideira!”
Galanga, Chico Rei fica em cartaz até 15 de abril, de sexta a sábado, às 19h; e domingo, às 18h. O projeto Linguagens Brasileiras – Cultura Negra em Cena, vencedor do Edital de Oupação do Teatro Glauce Rocha 2012, apresenta até julho, mais duas produções de temática negra – Namíbia, não! e Besouro Cordão de Ouro –, além de diversas atividades culturais.