Assinado o termo de compromisso para revitalização da Aldeia de Arcozelo (RJ)

Da esquerda para a direita: o Presidente da Funarte, Antonio Grassi; o Prefeito de Paty do Alferes, Rachid Elmôr; e a Secretária de Estado de Cultura, Adriana Rattes. Foto: Paulo vizeu

Programação poderá incluir festivais, espetáculos, debates e outros eventos artísticos. Com 51 Km2, local tem instalações para hospedagem

Foi firmado o termo de compromisso para restauro, reforma, recuperação e revitalização do Centro Cultural Aldeia de Arcozelo, em Paty do Alferes (RJ), na manhã do dia 19 de abril, no próprio local. O documento recebeu as assinaturas do Presidente da Fundação Nacional de Artes – Funarte, Antonio Grassi, da Secretária de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, Adriana Rattes, e do Prefeito do Município de Paty do Alferes, Rachid Elmôr. Com 51 Km2, o espaço cultural, legado de Paschoal Carlos Magno, é considerado o maior da América Latina e pertence ao patrimônio da Funarte.

No documento, as partes se comprometem a criar, em um mês, uma comissão de gestão executiva, composta de três representantes dos governos (união, estado e município) e um da sociedade civil. Eles vão elaborar um plano diretor, que aponte as vocações missão e metas do local, o melhor uso para seus espaços e eventuais novas construções. A comissão vai definir o modelo de gestão e funcionamento do espaço e desenvolver, em até um ano, um projeto arquitetônico, além de garantir as fontes de recursos para a execução do plano. O termo vigora até 31 de dezembro de 2014.

A mesa da cerimônia, no Teatro Renato Vianna, contou ainda com Marcelo Velloso, chefe da representação do Ministério da Cultura no Estado do Rio de Janeiro; Antonio Gilberto, Diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, Eva Doris Rosental, Presidente da Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj), do subsecretário de Estado de Desenvolvimento Regional, Abastecimento e Pesca, Luiz Antônio de souza Ramos (representando o Secretário Felipe Peixoto), e da Secretária Municipal de Cultura e Turismo de Paty do Alferes, Fátima Monteiro. A cerimônia reuniu cerca de cem pessoas, entre vereadores, personalidades públicas, artistas, imprensa e população.

O presidente da Funarte, Antonio Grassi destacou que a Aldeia é um bem fundamental para a Funarte e para o MinC e anunciou a alocação de verbas para o projeto, já no orçamento do ano que vem. “As ações ligadas a esse lugar e a Paschoal Carlos Magno sempre foram o marco da minha trajetória pessoal e profissional, como ator. São referência de vida e história. Quando comecei no teatro, em Minas Gerais, nossa maior referência era a ‘Carta de Arcozelo’, nascida aqui. Dela sugiu a Confederação Nacional de Teatro Amador (Confenata), que tornou possível a minha carreira e a de tantos outros artistas. Logo quando assumi a Funarte, pela primeira vez, em 2003, encontrei Martinho de Carvalho. Ele logo enfatizou a tarefa de recuperar a Aldeia – pela qual ele tanto lutou, e bravamente – e me apresentou o espaço. Ficou claro que, enquanto não houvesse uma política de estado para a Aldeia, seria impossível administrá-la”, relembrou Grassi.

Martinho de Carvalho (1929-2007), pesquisador, educador, artista plástico e servidor da Funarte, parecia ter sido inspirado pelo trabalho do Embaixador Paschoal Carlos Magno com o teatro estudantil. Quando diretor do antigo Departamento de Cultura do Município do Rio, nos anos 1970, entre vários programas, implantou festivais de poesia, teatro e música nas escolas públicas. Voluntariamente e por conta própria, resgatou documentos, jornais e revistas de Paschoal, na Aldeia, nos anos 90 e, com as própria mãos, restaurou o acervo. Um ano antes de falecer, Martinho elaborou o registro de vida e obra de Paschoal, ainda não impresso. Mas publicou, juntamente com Norma Dumar, pela Funarte, “Paschoal Carlos Magno – Crítica teatral e outras histórias”, em homenagem ao centenário do agitador cultural. Estava presente à cerimônia a filha de Martinho, Ana Luísa Cardoso, (a palhaça Margarita), atriz, diretora da Companhia d’os Melodramáticos e professora. Convidada pela Funarte, ela representou a memória de seu pai e os artistas. Antonio Gilberto, diretor do Centro de Artes Cênicas (Ceacen/Funarte), entregou a Ana Luísa um poema de cordel, interpretado na cerimônia, que conta a história de Paschoal e da Aldeia – gesto de reconhecimento e gratidão ao trabalho de Martinho. “Aqui já existe um festival anual de teatro. Mas, se meu pai estivesse aqui, acho, diria que o mais importante é planejar a presença maciça de artistas e produtores, em espetáculos e debates que movimentem o espaço. Aqui é possível hospedar grandes grupos. Na era das redes sociais, é preciso valorizar encontros e redes presenciais. Arcozelo é perfeita para isso”.

Para o diretor Antonio Gilberto, a assinatura do termo de compromisso tem significados concretos, mas também simbólicos. “Com a reunião das três esferas de governo, conseguiremos realmente desenvolver um projeto digno do sonho de Paschoal, um idealista, que deixou o complexo para que fosse um centro de referência e de prática, reflexão e discussão das artes cênicas. O espaço pode abrigar grandes eventos, algo raro. Está numa cidade linda, onde até o clima é famoso, por sua temperatura agradável, mediana, por todo o ano. Não podemos deixar que se perca esse patrimônio, um ideal de um homem que fez tanto pela cena brasileira”, sintetizou Antonio.

Aldeia de Arcozelo 2012. Foto Paulo Vizeu

A trajetória do sonho

“A articulação das três esferas é o diferencial para o sucesso deste compromisso”, comemorou o Prefeito de Paty do Alferes, Rachid Elmôr.

Marcelo Mourão, Presidente da Sociedade de Amigos da Aldeia de Arcozelo (SAAL), relembrou: “As gestões que apoiaram intensamente Arcozelo foram as de Carlos Miranda (anos 1980), de Antonio Grassi (2003/2006 e a partir de 2011), que já lutava, há muitos anos, pela manutenção deste bem cultural, e ainda de Sérgio Mamberti. Já o Prefeito Rachid, lado a lado com a Secretária Fátima Monteiro, é incansável na área cultural; mas, por outro lado, a revitalização só vai ser possível por causa da Secretaria Estadual de Cultura. Adriana Rattes tem uma gestão responsável e comprometida com o setor. Aliás, o órgão têm uma longa história aqui: o primeiro apoio externo à Aldeia foi da Funarj, em 1990, com Rodrigo Farias Lima, para a realização de festivais”.

A Secretária de Cultura, Adriana Rattes, declarou: “Estamos aqui graças à mobilização de muita gente. Mas, também, pela persistência e vontade dos dirigentes. O Governador esteve aqui e agora avançamos neste caminho”. A Secretária anunciou, ainda que o Governo Estadual destinaria verba para a revitalização da Aldeia de Arcozelo. “Os parceiros no compromisso entendem a importância de transformar cultura em política pública, para a educação e para o desenvolvimento humano e econômico. Não é comum encontrarmos gestores assim. Eles sabem o valor de um espaço como Arcozelo, tanto histórico e artístico, quanto para suprir a necessidade equipamentos culturais, em nosso estado. Se nos empenharmos, este documento pode fazer história e devolver a Aldeia, com toda a sua capacidade, à população”.

O presidente da Funarte concordou, sublinhando a importância do local, para a região e para o país. “A Secretária acertou, ao lembrar o significado da cultura, no turismo e na economia: é ferramenta vital para o desenvolvimento das cidades e como política pública de estado. O compromisso do projeto de Arcozelo é com o cidadão brasileiro. Paschoal Carlos Magno dizia que a palavra ‘equipe’ significa ‘eu quero unir ideais pelo entusiasmo’. Portanto, é com o esse trabalho conjunto e essa energia e compromisso que desejamos alavancar e tornar permanente a empreitada”.

História de um ideal – O carioca Paschoal Carlos Magno (1906-1980), embaixador, diretor e crítico de teatro e grande dinamizador das artes, ganhou a antiga fazenda, construída em 1792, para criar o Centro Cultural Aldeia de Arcozelo. A inauguração foi em 1965. As obras mantiveram a “casa grande” em estilo colonial, de dois andares. Paschoal transformou a capela da fazenda num pequeno museu, dedicado à memória dos escravos, que lá se revoltaram, liderados por Manuel Congo. Na Aldeia, o “embaixador da cultura” construiu o Anfiteatro Itália Fausta, o Teatro Renato Vianna, duas galerias de arte e cenotécnica, biblioteca, restaurante, bar e hospedaria, destinada a eventos. O teatrólogo legou o bem ao patrimônio público. Porém, destinou-o exclusivamente a atividades culturais.