Sincretismo religioso e lendas de Belém (PA) são retratados na leitura dramática ‘O Santo Espantalho’, no Rio

Elenco de 'O Santo Espantalho' com o presidente da Funarte, Guti Fraga - Foto: Sebastião Castellano

“O Santo Espantalho”, segunda peça do Ciclo de Leituras Dramáticas da Funarte, encenada na noite da última terça-feira (24/9), levou ao palco da Sala Sidney Miller, no Rio, os alunos da Casa das Artes de Laranjeiras (CAL). Sob a direção de Luiz Fernando Lobo, a peça retrata a história de dois compadres: Luiz e Joventino, trabalhadores de roçado e companheiros de farra, e os falsos milagres após a morte de um deles. Prestigiaram a apresentação o presidente da Funarte, Guti Fraga, a diretora executiva Myriam Lewin, o coordenador da CGPA (Coordenação Geral de Planejamento e Administração), Paulo Grijó, a coordenadora de Teatro, Heloisa Vinadé, entre outros convidados.

A ideia de levar aos palcos textos premiados pela Fundação Nacional de Artes – Funarte foi do presidente da instituição, Guti Fraga, que acompanha toda a preparação e, ainda, a interpretação da obra, juntamente com o Centro de Artes Cênicas da Fundação. As leituras acontecem sempre às terças-feiras, às 18h30, na Sala Funarte Sidney Miller, Centro do Rio.

‘O Santo Espantalho’, de autoria de Carlos Alberto Bitencourt, foi contemplado pela instituição, em 2003, no Prêmio Funarte de Dramaturgia, categoria Teatro Adulto – Região Norte. No texto, repleto de humor e crítica, um espantalho é confeccionado para homenagear o amigo morto e é colocado no meio da plantação para afugentar os passarinhos. Entretanto, Pai Serafim, catador de tralhas e interpretado pelo diretor do espetáculo, Luiz Fernando Lobo, considerando o seu achado uma aparição sagrada no meio do mato, atribui ao espantalho a condição de santo milagreiro e não se limita apenas a levá-lo para sua tenda de umbanda, mas espalha de um canto a outro da cidade os ‘falsos milagres’ do santo espantalho. Aí começa o confronto entre ele e o pároco, vivido por Clauser Macieski, da Funarte. Com interesses escusos, o padre leva o ‘santo’ para sua igreja, alegando ser o local mais apropriado.

Lembranças folclóricas e evocações tradicionais e lúdicas da terra natal do autor, Belém do Pará, também são utilizadas na obra. O elenco foi formado por Carolina Dessandre (Idalina); Beto Rossi (Luiz); Monique Vaille (Erondina); Fabio de Deus (Erismar e sacristão); Carolina Godinho (Oscarina); Nirley Lacerda, como Bentina; além dos atores como ‘Povo’ e ‘Coro’.  Luiz Fernando Lobo destacou a importância desta iniciativa da Funarte de interpretar textos premiados e, ainda, trabalhar com jovens talentos nas artes cênicas: “‘É a primeira vez que trabalho com eles (alunos da CAL), foi bem bacana. O texto é interessante. Enfim, este tipo de leitura é importante porque você coloca textos que a gente não conhece e o público também passa a conhecer”, ressalta o diretor.

Sobre o diretor
Luiz Fernando Lobo é diretor artístico e fundador da Companhia Ensaio Aberto. Dramaturgo, ator e professor de interpretação, realizou cursos em diversos países e participou de vários festivais internacionais. Em cinema, trabalhou com o diretor Silvio Tendler. Dentre os trabalhos mais importantes, dirigiu Tambores da Noite, Cemitério dos Vivos, Cabaré Youkali, A Mãe, Companheiros, Morte e Vida Severina, Missa dos Quilombos, Havana Café e Olga Benário: um breve futuro. Codirigiu com Sérgio Britto as óperas Judas em Sábado de Aleluia e II Campanello. Codirigiu com João das Neves a Missa dos Quilombos, de Milton Nascimento, num espetáculo de rua reunindo os mais importantes atores negros do Brasil, nos 100 anos da abolição da escravatura.

Em 2002, ganhou o Prêmio Golfinho de Ouro pelo reconhecimento do conjunto de sua obra. Em 2007, dirigiu o show da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2008 e 2009, dirigiu o Prêmio Ordem do Mérito Cultural, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e Teatro Casa Grande, respectivamente. Em 2009, dirigiu a Terceira Jornada de Inclusão da Pessoa com Deficiência, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Dirigiu 30 filmes para a campanha “Igual a você”, contra o estigma e o preconceito – uma iniciativa do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids – UNAIDS; ACNUR; UNESCO; UNIFEM E UNODC. Em 2010, dirigiu Terra de Livres, numa produção de Marcello Dantas, um espetáculo de rua com 120 atores, em São João del-Rei, e o espetáculo de abertura da 3ª Conferência Nacional de Cultura.

Sobre o Ciclo de Leituras Dramáticas
O objetivo é levar aos palcos textos da dramaturgia brasileira contemporânea premiados pela Funarte. As peças que integram a programação foram vencedoras do Prêmio Funarte de Dramaturgia entre 2003 e 2005. Apresentado sempre às terças-feiras, às 18h30, na Sala Sidney Miller, o Ciclo vai até dezembro, com entrada gratuita. A próxima leitura será da peça ‘A filha do teatro’, de Luís Augusto da Veiga Reis, no dia 1º de outubro. A programação estreou no dia 17 de setembro, com a interpretação de ‘Pierrot’, de Paschoal Carlos Magno. O elenco foi formado somente por servidores e colaboradores da Funarte. O diretor do Centro de Artes Cênicas, Antonio Gilberto, dirigiu a montagem.