A Fundação Nacional de Artes apresentou, no Ciclo de Leituras Dramáticas, a peça Balada de amor no sertão, de Cristina Mato Grosso (MS), no dia 8 de outubro, terça-feira, na Sala Funarte Sidney Miller – Centro do Rio de Janeiro, com entrada franca. A leitura do texto, contemplado com o Prêmio Funarte de Dramaturgia 2003 – Região Centro-Oeste, foi dirigida por Antonio Guedes, conhecido pelo trabalho na companhia Teatro do Pequeno Gesto e como ensaísta. A narração foi de Fátima Saadi, dramaturga e também autora de ensaios teatrais.
Como em todas as apresentações do Ciclo de Leituras Dramáticas, o elenco foi composto por estudantes de teatro. Em Balada de amor no Sertão, foram alunos da UFRJ, Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena, do Rio de Janeiro.
“Os prêmios de dramaturgia da Funarte são importantes e foram concedidos através de processos de seleção muito sérios. Mas a maioria dos textos nunca foi encenada”, lembra Antonio Guedes. “É muito positivo conhecer e trabalhar com estas peças, que representam uma dramaturgia ainda desconhecida, de várias regiões do país, mas também uma produção brasileira nova, atual. O regionalismo aparece, mas também uma proposta universalizante, mas com um jogo dramatúrgico que lança mão das grandes histórias. Um exemplo é Balada de amor no Sertão, em que aparece um encontro amoroso que lembra Romeu e Julieta. A autora coloca os aspectos regionais numa dimensão poética, inclusive com o texto em versos”, analisa o encenador.
Sobre a participação de atores iniciantes, comenta Antonio: “Sou professor de teatro e sempre procuro aproximar meus alunos do meu trabalho. Pela primeira vez, só tenho estudantes, nenhum é meu aluno e não os conhecia. Foi muito gratificante, num trabalho difícil, do qual eles se incumbiram com aparente e surpreendente facilidade e beleza. Foi um prazer ver o resultado e que eles estão mais do que prontos para fazer qualquer papel”, destaca o diretor.
Aluno da Escola Martins Pena, no Centro do Rio, Ricardo Cabral fez o papel de Pedro Palito. “Foi bem bacana e diferente, por vários motivos. Eu nunca havia interpretado nenhum texto em verso. Foi um desafio, assim como foi fazer uma leitura. Como neste tipo de trabalho não há cena, a palavra deve expressar a força da imagem”. Sobre a experiência de novidade da linguagem e do conteúdo regional, contida na dramaturgia dos diversos estados, Ricardo respondeu: “Esta peça mostra como uma autora consegue trazer Bocage, Camões e tantas outras referências da literatura e do teatro para um contexto brasileiro. Parece-me uma linguagem construída, de forma muito interessante, principalmente pela musicalidade do texto, que nos transporta para o lugar da cena”, avaliou.
Em Balada de amor no sertão, a temática do amor impossível tem como foco a personagem Mariinha. Ela é amada e desejada por Pedro Palito, pelo Coronel João, seu patrão e padrinho, e até pelo próprio pai, Jagunço. A donzela é prometida pelo seu pai ao Coronel, para casamento. Mas ela e Pedro Palito se amam e pensam até em fugir. O sentimento, apego e atração do pai pela filha ficam evidentes. O Coronel sabe do segredo inconfessável do futuro sogro, e domina a situação, pela chantagem, e pelo poder e o dinheiro. Pedro, desesperado, planeja impedir o casamento e é ajudado pelo famoso bandoleiro Jesuíno. Ganha dele um facão, com que poderá defender sua amada, acabar com o casamento arranjado e com o rival. Porém, alguém atira no protagonista. Mas será que morreu? Não há certeza… Nesta aventura épica bem brasileira, o sobrenatural entra em cena algumas vezes, até um desfecho inesperado. Por trás da trama, a peça revela uma estrutura social de dominação.
O elenco foi formado por: Ricardo Cabral, Thatyane Calandrini, Luiz Paulo Barreto, Rodrigo Augusto Cerqueira, Ian Braga, Wagner Augusto, João Neto, Myriam Miranda (servidora do CTAC/Ceacen/Funarte) e Fátima Saadi.
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Sobre o diretor – Nascido em 1963, em Niterói (RJ), de Souza Pinto Guedes formou-se em Artes Cênicas – Direção Teatral, na UniRio. É Mestre em Comunicação e Cultura pela UERJ, e fundou, como professor assistente da EBA/UFRJ, a companhia Teatro do Pequeno Gesto, em 1991. Com ela, encenou 14 espetáculos e desenvolveu projeto de oficinas itinerantes, em mais de 50 cidades de todo o país. Em 1998, criou, com Fátima Saadi, a revista de ensaios sobre teatro Folhetim. No mesmo ano, recebeu duas indicações para o Prêmio Shell de Teatro. Como ensaísta, além dos artigos da revista, escreveu Sobre Tragédia… Afinal, são Tragédias!, apresentação do Volume 4 das Obras completas de Nelson Rodrigues, e A Precisão das Falas e a Concretude Cênica em “A serpente”, fruto de palestra no Festival Recife do Teatro Nacional (PE).
Sobre a autora – Maria Cristina Moreira Oliveira – nome artístico: Cristina Mato Grosso – é atriz, dramaturga e diretora teatral do Grupo Teatral Amador Campo-Grandense (Gutac)/ Instituto de Educação e Cultura (Inecon) em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Graduada em Letras, ministrou aulas em universidades e é doutoranda em Teatro, na ECA) USP. Juntamente com Américo Calheiros, foi sustentáculo do movimento teatral, em seu estado. Trabalhou com projetos cênicos direcionados à educação pública e passou a fazer parte do Gutac. Surgido em 1971, o coletivo se distingue pelo chamado “teatro de resistência”, em luta contra a falta de liberdade de expressão, nos anos da ditadura militar, quando sofreu forte censura. O Grupo realizou festivais estudantis estaduais de teatro, tendo obtido o reconhecimento da comunidade – o que se refletiu na conquista de vários prêmios.
O Ciclo de Leituras Dramáticas é apresentado sempre às terças-feiras, às 18h30, na Sala Funarte Sidney Miller, com entrada gratuita. Até dezembro. O programa leva aos palcos textos da dramaturgia brasileira contemporânea, premiados pela Funarte – ideia do novo presidente da instituição, Guti Fraga. As peças que integram a programação foram vencedoras do Prêmio Funarte de Dramaturgia, nas edições entre 2003 e 2005. A próxima atração da agenda será no dia 15 de outubro: A Noite em que Blanche Dubois chorou sobre a minha pobre alma, de Jarbas Capusso Filho, contemplada no Prêmio Funarte de Dramaturgia 2003. A direção é de Gilberto Gawronski.
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Ciclo de Leituras Dramáticas
Toda terça-feira, às 18h30
Entrada gratuita
Sala Funarte Sidney Miller
Rua da Imprensa, 16 – Térreo – Palácio Gustavo Capanema
Centro – Rio de Janeiro (RJ)
Tel.: (21) 2279 8012
Mais informações para o público: ceacen@funarte.gov.br
Realização
Fundação Nacional de Artes – Funarte
Centro de Artes Cênicas