Com um elenco, formado por alunos e ex-alunos da Escola de Teatro da UniRio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), foi apresentada na terça, 22, na Sala Funarte Sidney Miller, no Centro do Rio, a dramatização da peça Milkshakespeare, de Júlio Zanotta Vieira. A leitura contou também com a atriz Lumi Kim e com o funcionário da Funarte, Clauser Macieski. O presidente da Fundação Nacional de Artes, Guti Fraga, idealizador e incentivador do projeto, marcou presença em mais esta apresentação do Ciclo de Leituras Dramáticas. Na plateia, o diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte (Ceacen), Antonio Gilberto; a coordenadora de Teatro Heloisa Vinadé; a diretora do Teatro Duse, Norma Dumar, além de convidados e funcionários da Fundação. O ator Armando Babaioff, convidado para interpretar o personagem Macbeth, não pode comparecer devido a compromissos de trabalho e foi substituído por Léo Hinckel, que interpretou Sir William Stanley.
O diretor Angel Palomero se utilizou da projeção de imagens e de sonoplastia para enriquecer a dramatização, o que acrescentou dinamismo à leitura. Angel também fez o papel de narrador em muitos momentos da história.
Milkshakespeare venceu o Prêmio Funarte de Dramaturgia 2003 – Região Sul, categoria Adulto. O texto traz de volta à vida o personagem Sir William Stanley, que garante ser o verdadeiro autor das peças atribuídas a William Shakespeare. A obra narra a tentativa de Stanley de ajustar contas com o famoso poeta inglês. A apresentação integra o Ciclo de Leituras Dramáticas da Funarte, que vem sendo realizado toda terça, na Sala Funarte Sidney Miller, com entrada franca.
Presente à leitura, o autor Júlio Zanotta Vieira contou que Milkshakespeare foi encenada, no Teatro de Arena, em Porto Alegre, com direção de Camilo de Lélis, que destacou o “lado humorístico do texto”. Zanotta se disse honrado com o convite da Funarte para a leitura dramatizada, já que é difícil para autores do Sul como ele verem suas obras circulando pelo país. “Essa oportunidade foi para mim uma glória. Talvez para os autores daqui isso não represente nada, mas para nós, lá do extremo, da província, é muito. Gostei muito do nível da leitura. Atores de talento, todos foram fiéis ao texto. Fiquei muito feliz.”
A leitura de Milkshakespeare foi feita por alunos e atores formados em teatro pela UniRio, quatro gerações, como disse o diretor Angel Palomero, que é professor da universidade pública. Angel explicou que não conhecia o texto, mas sabia que a obra de Zanotta havia sido montada em Porto Alegre. Palomero avaliou que, apesar de ter sido escrito há dez anos, o texto traz uma proximidade com certas formas estéticas de hoje em dia. “Encontro paralelos dele com o cinema de Quentin Tarantino, por exemplo. É um trabalho em cima de personagens ficcionais criados pelo Shakespeare, mas ao estilo do Brecht (Bertold Brecht), e faz uma paródia se aproveitando de personagens ficcionais, criados por outro grande dramaturgo, para aproximá-los de um contexto totalmente contemporâneo. Esse é o grande mérito desse texto. É altamente refinado, muito inventivo, mas escrito com muita erudição. Vai fundo nas questões, não só do Shakespeare, como num certo fabulário que existe em torno, como sobre quem era Shakespeare; se ele era realmente o autor dessas obras; se ele interferiu na trajetória real dos personagens. Tudo isso está trabalhado no texto de uma forma muito inteligente e criativa”.
A peça relaciona personagens famosos do bardo britânico a figuras conhecidas da literatura, de forma bem-humorada. Sir William Stanley, Conde de Derby, é citado por certos estudiosos, como o verdadeiro autor das obras de Shakespeare e sai do túmulo, juntamente com James Byron, disposto a encontrar o famoso poeta inglês para o ajuste de contas. Afinal, o nome de Stanley caiu no esquecimento, e sua obra teria sido usurpada. Na busca, Sir Stanley e James Byron se deparam com fantasmas de personagens de Shakespeare – como Lady Macbeth, Ofélia e Hamlet – e com Thelonius, o “monge negro”. Em meio a um clima aterrorizante, Sir Stanley fica sócio do sinistro personagem, numa cadeia de “fast-food”, a McDuncan’s. É atrás do balcão da lanchonete que o conde tentará vingar-se do suposto plagiador.
Milkshakespeare já foi sucesso no Rio Grande do Sul. Sua última montagem foi em 2010, pela Cia. Teatral Face e Carretos (RS).
O Ciclo de Leituras Dramáticas leva ao palco textos teatrais brasileiros contemporâneos contemplados com o Prêmio Funarte de Dramaturgia, de 2003 a 2005. As leituras são apresentadas sempre às terças-feiras, às 18h30, na Sala Funarte Sidney Miller, com entrada gratuita, até dezembro.
Sala Funarte Sidney Miller
Palácio Gustavo Capanema
Rua da Imprensa, nº 16 – Térreo – Centro – Rio de Janeiro (RJ)
Tel.: (21) 2279 8012
ENTRADA GRATUITA