No dia 19 de novembro, a Fundação Nacional de Artes – Funarte apresentou mais uma atração do Ciclo de Leituras Dramáticas, realizado no Rio de Janeiro, toda terça-feira, às 18h30, com entrada franca: a comédia Intervalo de Dagomir Marquezi, com direção de Josué Soares. O texto, que aborda de forma irônica os clichês típicos das telenovelas, ganhou o Prêmio Funarte de Dramaturgia 2004 – Região Sudeste – Teatro Adulto. A apresentação foi na Sala Funarte Sidney Miller, no Rio. No mesmo dia da leitura, Intervalo foi lançado em livro digital, à venda na internet.
Logo no começo, a peça dá ao espectador a sensação de estar assistindo, na televisão, a um capítulo qualquer da novela Vidas sem rumo, já iniciada há algum tempo. “Vemos personagens que não conhecemos, falando de assuntos sobre os quais estamos por fora. Mas as novelas são construídas sobre clichês sólidos. Logo podemos identificar e nos envolver com os conflitos dos personagens, sejam quais forem”, diz o autor, que também foi coautor de novelas de tv. A cena traz as irmãs Mariana (“a boa”) e Roberta (“a má”) e sua mãe, Florinda; Leonardo, noivo de Mariana, Bob e Michel – pai das moças, personagem morto há vários capítulos. Roberta solta seu “veneno”: insinua que Leonardo está adiando o casamento com sua irmã, por ter dúvidas sobre seus sentimentos. Ao longo da trama, Roberta ganhará importância: de simples irmã invejosa, passará a ser a principal vilã do drama televisivo. Inesperadamente, num intervalo, o falecido Michel ressurge e fala a Mariana e a Leonardo sobre o que existe em outra dimensão, além da novela, e que fatores tornam possível a existência do drama. Ele revela que há três “divindades” que comandam as vidas deles: os Escritores, a Audiência e os Patrocinadores; mostra porque a vida dos personagens de Vidas Sem Rumo é tão trágica e melodramática; e vai revelando mais coisas, aos poucos, durante cada intervalo.
“Fui coautor de três telenovelas. O trabalho é árduo. É necessário colocar no texto, o tempo todo, neurose e brigas entre os personagens. Para o telespectador, isso é natural, mas, para quem escreve, é difícil, porque é distanciado da realidade, onde ninguém vive desse modo”, comenta Dagomir Marquezi. “Intervalo é crítica e sátira, mas, ao mesmo tempo, homenagem à telenovela e ao que ela representa na cultura brasileira. Tenho grande afeto pelo gênero. A novela é, e sempre foi, o principal ponto de convergência entre as pessoas e a grande companheira de todas elas, no Brasil. A maioria continua a assistir, como eu, desde criança. Acompanhei a primeira telenovela diária na televisão brasileira, 2-5499 Ocupado, em 1963, na antiga TV Excelsior. No ano seguinte, assisti A Moça que veio de longe, sobre o romance de um patrão com sua empregada, um dramalhão. Aquilo me ligou na força dessa linguagem e passei a assistir sempre. Não tenho vergonha de dizer que gosto”, acrescenta o autor. “No Brasil, a novela de TV tem maior importância cultural do que o cinema, a literatura, e outras linguagens. Portanto, merece um tributo. Intervalo é isso; mas tembém satiriza o dramalhão da novela mexicana tradicional. Porém, vejo que o gênero está voltando a essa estética emocional e trágica – talvez por queda de audiência; pela concorrência com as novas mídias digitais; e a diversificação de canais; entre outros fatores.
O diretor Josué soares observa: “A peça tem muito a ver com as duas dimensões vivenciadas pelo ator: o personagem e a vida real, que tem um limite muito tênue. O texto me trouxe uma reflexão: a vida real do ator é, como na peça, feita de “intervalos” dos enredos que ele interpreta”. O ator e mímico diz que a obra o fascinou. “O que me chamou mais a atenção nela foi a abordagem da discussão sobre a mídia, a ficção e a relação que elas tem com a vida das pessoas. Afinal, é tudo ficção”, conclui.
Intervalo já teve uma leitura no Museu de Arte de São Paulo (MASP), em 2007. Juntamente com o romance Dores, Amores & Assemelhados, de Claudia Tajes, a peça serviu de base para o roteiro do filme Dores & Amores, com o qual Dagomir também colaborou. O filme foi lançado em 2010 e o texto rendeu, ainda, um livro, que o jornalista escreveu, juntamente com Ricardo Pinto e Silva e Patrícia Müller. Dagomir Marquezi criou, um blog dedicado a Intervalo. Ele contém o vídeo da primeira leitura e um tipo de “making of”. Acesse: http://intervalonainternet.blogspot.com.br/.
Sobre o autor – O escritor, roteirista e jornalista Dagomir Marquezi nasceu em 1953, em São Paulo (SP), onde mora. Graduou-se em Jornalismo na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Sempre alternou o texto jornalístico e a ficção, entre o romance, o radioteatro, a telenovela, os musicais de TV, os programas infantis, as histórias em quadrinhos, o teatro, o cinema e as mídias digitais. Trabalhou em alguns dos principais veículos de imprensa do país, como O Estado de São Paulo; Veja; Isto É; Playboy;Placar; e Info, entre outros. Escreveu seis livros, entre ficção e ensaios. Foi coautor de três telenovelas – Um Sonho a Mais, Helena e Tempestade de Lágrimas (infantil). Três de suas peças ganharam leituras públicas em São Paulo: Intervalo, Capa e A Raiz da Verdade. Hoje, além de jornalista “free lancer”, Dagomir é editor de mídias digitais.
Sobre o diretor – Com 30 anos de teatro, o baiano Josué Soares é ator, encenador, bailarino, produtor e mímico. Foi indicado ao Prêmio Mambembe 1987, pela direção corporal de Terra de gigante. Em 1991, dirigiu De Olho no escuro, que recebeu três indicações ao Prêmio Coca-Cola de Teatro Infantil e ao Prêmio Mambembe. Recebeu o Prêmio Paschoalino de Direção e de Melhor Espetáculo, por Monet, em 1999, e novamente, em 2008, também nas categorias Direção, Melhor Espetáculo, e ainda na de Melhor Trabalho Corporal. Pela direção corporal de Que História espera seu fim lá embaixo, do grupo Quantum, recebeu o Prêmio do Festival Nacional de Campos e a indicação, na mesma categoria, no Festival Nacional de Resende (2007). Começou a carreira em grupos teatrais, que percorreram várias cidades do interior da Bahia. Estreou no teatro profissional aos 17 anos. Adquiriu experiência em diversos gêneros de dança. Em 1987, criou a Companhia de Teatro Gestual Os Mimos, que estreou em 1989. Como diretor, realizou diversas montagens de teatro, show musical, ópera, dança; e eventos. Além de Monet, concebeu e dirigiu Picasso, espetáculos feitos em parceria com a Companhia Triângulo, apresentados simultaneamente às mostras desses pintores no Brasil. Criou, em 2001, e dirigiu Por Gentileza, integrado ao projeto Brasil, tempo de Gentileza. Na antiga TVE, integrou o programa Canta conto. Recentemente, fez a direção corporal de A Incelença, de Luiz Marinho; e de Realidade virtual, de Alan Arkin (EUA); criou, dirigiu e atuou em Muito Prazer; e atuou em Roda de Cantigas, de Zé Zuca.
Sobre o Ciclo de Leituras Dramáticas – A ideia de levar aos palcos textos da dramaturgia brasileira contemporânea premiados pela Funarte partiu do novo presidente da Instituição, Guti Fraga. As peças que integram a programação foram vencedoras do Prêmio Funarte de Dramaturgia, nas edições entre 2003 e 2005. As leituras são apresentadas sempre às terças-feiras, às 18h30, na Sala Funarte Sidney Miller, com entrada franca. A programação prossegue até dezembro.
O livro Intervalo está à venda na internet
Ciclo de Leituras Dramáticas da Funarte
19 de novembro de 2013
Intervalo
De Dagomir Marquezi
Direção: Josué Soares
Elenco
Leonardo – Ernandes Cardoso
Mariana – Joelma di Paula
Roberta – Cecilia Terrana
Florinda – Márcia Valéria
Bob – Rogério Brum
Michel – Flávio Lázaro
Dia 19 de novembro de 2013, terça-feira, às 18h30
Sala Funarte Sidney Miller
Aviso: o Ciclo de Leituras Dramaticas passará a ser apresentado em outro teatro da Funarte, a ser informado breve, neste Portal
Realização
Fundação Nacional de Artes – Funarte
Centro de Artes Cênicas
Mais informações para o público
ceacen@funarte.gov.br
Tel. (21) 2279 8012
Conheça a produção de Dagomir Marquezi na internet, nas páginas: