Raquel Coutinho apresenta suas ‘paisagens sonoras’ na Sala Funarte

Raquel Coutinho e banda. Foto: S. Castellano

A Fundação Nacional de Artes apresentou o show da compositora, cantora e percussionista mineira Raquel Coutinho, na Sala Funarte Sidney Miller, na quinta-feira, dia 20 de março, às 18h30. A apresentação com entrada gratuita fez parte do projeto Música no Capanema, realizado pela Fundação, através do Centro da Música.

Raquel Coutinho cantou e dançou músicas próprias e feitas em parceria, tocando seu tambor, típico da cultura regional de Minas Gerais, do congado e das folias, somado a recursos de música eletrônica avançados. O show marcou a estreia da artista com sua banda, composta de teclado, sintetizador, percussão e guitarra, além de pedais de “loop”. Tudo isso produz efeitos sonoros originais que ajudam a criar o estilo próprio de Raquel. O grupo é formado por Maurício Negão na guitarra e no baixo – com quem a artista compõs várias das obras; Sacha no teclado, baixo de sintetizador e samplers; e Marcos Suzano na percussão, que também gera efeitos, através do aparelho “Music Production Controller” (MPC). Nos arranjos, Raquel e banda utilizam os efeitos sonoros, tanto do teclado como da percussão. Estão incluídos os “samplers” – sons digitalizados e disparados eletronicamente, e o os “grooves”, sons graves e marcantes, feitos geralmente a partir da percussão e que a reforçam. Os sons são produzidos pelos próprios instrumentos, do sintetizador, dos pedais e do MPC; são gravados e reproduzidos, utilizados como um recurso a mais.

O repertório do show foi basicamente autoral, com três obras de outros compositores. Uma delas foi “Luzes” – letra de Paulo Leminski e música de Arnaldo Antunes – .

A “não canção” e a “paisagem sonora” – Raquel faz um som difícil de rotular, diferente do comum, apresentado habitualmente na mídia. A artista mescla os sons dos tambores tradicionais de Minas à música digital contemporânea, com uma linguagem que lembra a da performance. Usa a voz como elemento de percussão e de harmonia; e brinca com os efeitos rítmicos e eletrônicos, para criar o que chama de “paisagens sonoras”. “Isso começou no meu primeiro disco, “Olho d’água”. Me mudei para uma fazenda, onde morei por três anos, para tentar construir uma nova linguagem musical. Busquei elementos novos, para fazer a “não canção” – uma obra sem refrão e sem o formato tradicional'”. Ela explica que, ao contrário da canção, essa linguagem não leva o ouvinte a pensar especificamente em algo, nem seguir os padrões de narrativa musical comuns, lineares e que repetem ciclos. “É não necessariamente seguir o formato de uma canção, mas deixar a composição seguir um curso natural, formando uma ‘paisagem sonora’”.

A artista destaca que dá prioridade ao batuque e aos sons graves dos “grooves”, principalmente por causa da importância que dá ao ritmo e aos dos tambores de folia – tanto, que toca um deles. “Isso gerou essa nova forma de composição, não focada na canção propriamente dita, mas numa mescla de elementos sonoros”. É assim que Raquel leva os tambores de Minas a uma linguagem contemporânea. Ela lembra que essa fusão é feita de uma maneira orgânica. “A criação de uma linguagem diferente é o que mais me interessa. Não consigo fazer algo que já tenha referência ou estilo estabelecidos”. Como não é possível rotular seu som, Raquel e outros músicos que compartilham essa ideia a definiram como “Música universal brasileira” (MUB).

A artista elogiou o projeto Música no Capanema, primeiramente porque ele ajuda a divulgar artistas menos conhecidos do grande público. “Isso é de fundamental importância. Representa uma oportunidade para o artista mostrar o trabalho. A Sala Funarte Sidney Miller recebe músicos cujas carreiras estão em momentos diferentes: – tanto os já consagrados, quanto aqueles que estão em evolução de carreira, e também os que chegam com um algo novo. Atuar numa programação juntamente com nomes como Leila Pinheiro, Ed motta e outros, valoriza o trabalho que o público ainda não conhece”, destacou Raquel. “Além disso, são poucos os projetos que dão espaço para novas linguagens, porque a maioria deles é atrelada à mídia de massa. Isso diminui a possibilidade para esse tipo de música. Por isso, que bom que existem projetos como este!”, comemora. “Também é interessante ver que o público é mais diversificado que o normal. Essa propagação da arte fora dos nichos habituais é interessante. Pude ver uma plateia que normalmente não vejo num show meu e, ainda, gostando dele. É muito bom poder ampliar o alcance da obra de arte a um publico menos restrito. É importante dar oportunidade para vários públicos experimentarem tipos de música dos quais não usufruiriam normalmente.

Sobre Raquel Coutinho – Natural de Belo Horizonte (MG), a artista lançou seu primeiro álbum, Olho D’água, no Brasil e na Europa, com estreia no Montreux Jazz Festival (Suíça – 2010). Na ocasião, foi muito elogiado pela crítica européia, que destacou a originalidade do seu trabalho. Já se apresentou em outros importantes eventos internacionais, como o festival da Canadian Music Week (CMW), o Collors of percussion (Áustria); e o festival do Mercado Internacional do Disco e da Edição Musical (Midem) – França – que, em 2014, homenageou a música brasileira; além de diversos acontecimentos nacionais de peso, como o Oi Noites Cariocase o Circuito das Artes – RJ, entre outros.

Sobre o Música no Capanema – Realizado pela Funarte a partir de dezembro de 2013, o O Música no Capanema reúne grandes artistas e grupos da música brasileira, dos mais diversos estilos. Já se apresentaram no projeto Mart’nália, Moraes Moreira, Guinga, Geraldo Azevedo, Leila Pinheiro, Paulinho Moska e muitos outros, numa grande mescla de estilos. No dia 19, Ed Motta apresentou seu show solo AOR. No dia 20, foi a vez de Bena Lobo, com o show de seu CD Valentia, entre outros. Todos os shows têm entrada gratuita.

A banda Moinho trazem, no dia 26, quarta, o show Gira Moinho. No dia 27, quinta. Marianna Leporace e Sheila Zagury apresentam São Bonitas as Canções. Na sexta (28), é a vez do Cidade Negra, com a apresentação que traz o repertório do seu último CD, Hei, Afro!. Os shows são sempre de quarta a sexta-feira, às 18h30. A distribuição de ingressos é feita na bilheteria, meia hora antes da apresentação.

Projeto Música no Capanema

Sala Funarte Sidney Miller
Palácio Gustavo Capanema – Rua da Imprensa nº 16, térreo
Centro – Rio de Janeiro

Programação de 26 a 28 de março

26/03 – Moinho – Gira Moinho

27/03 – Marianna Leporace e Sheila Zagury – São Bonitas as Canções

28/03 – Cidade Negra – Hei, Afro!


Realização: Fundação Nacional de Artes – Funarte
Centro da Música

Mais informações
Cemus/Funarte – (21) 2279 8601
Sala Funarte – Bilheteria: (21) 2279 8087