A Associação Artística Nóis de Teatro estreia, no Theatro José de Alencar, no Centro de Fortaleza (CE), no dia 3 de maio, sábado, às 19h, o espetáculo Quase nada, do dramaturgo cearense Marcos Barbosa.
Um casal de classe média alta, Numa grande metrópole, de madrugada, é abordado por um menino de rua num semáforo. Assustados, o jovem casal atira no menino, que morre em pleno asfalto. Antônio e Sara recebem no seu apartamento uma senhora que julga ter visto o assassinato. Este é o enredo da peça, que coloca em cena duas questões, de forma antagônica: se, de um lado, o jovem casal assassinou à queima-roupa uma criança, do outro, a tal senhora aceita propina para não denunciar o caso. Para Altemar di Monteiro, coordenador do Coordenação Nóis de Teatro, essa dualidade tem como proposta ir além de um discurso político fechado e panfletário.
A inquietação com o surto de violência que assola a cidade, em especial com os antagonismos travados entre periferia e centro, favelização e concentração de renda, marginalização e capitalismo foi a principal motivação para a montagem da peça. “O encontro com o universo temático de Marcos Barbosa veio fortalecer uma série de questões poéticas e políticas que vinham nos atravessando nos últimos anos. Em especial, pela necessidade de discutir a violência urbana e os alarmantes números, que apontam Fortaleza como o sétimo lugar mais violento do mundo – dados que ameaçam uma classe média em ascensão, ávida por garantir seu lugar de conforto e segurança”, explica Altemar.
A “poética da rua e seu tônus épico”, num teatro questionador
O coordenador da Nóis de Teatro diz que a luta de classes sempre representou uma força motriz do trabalho estético do grupo. A pesquisa estética da Associação, sobretudo nos últimos anos, aponta caminhos artísticos que revela um “olhar dialético” sobre o mundo contemporâneo. “Nossas imersões na poética da rua e seu tônus épico nos instigam, constantemente, a pensar um teatro questionador, inquietante, detonador de uma cidade em crise. Ao montar Quase Nada, buscamos avançar nessa percepção dialética, crítica, na busca por uma análise profunda da narrativa”
O espaço das ruas: vida pública que influencia a vida privada
O coordenador comenta: “Em meio ao caos de uma cidade grande, em mais uma noite quente, um jovem casal de classe média se vê no direito de matar a queima-roupa uma criança na rua. Um menino apenas. Na madrugada, talvez ébrios, talvez insanos, ou mesmo em pleno controle das escolhas e emoções, a vida de um garoto escorrega sob uma fagulha fina de imprecisão. Olhares nervosos e inquietos talvez possam ter visto o ato. Câmeras de celulares, registros momentâneos, compartilhamentos nas redes sociais, revoltas, revoluções, indignações poderiam surgir de mais um entre tantos outros casos de violência urbana não curtidos na linha do tempo. Mulher carregada pela viatura. Assalto à mão armada. Explosões de caixas eletrônicos. Vigilância sanitária. Segurança do trabalho. Big Brother da vida real. A sensação de segurança torna-se a base da felicidade do homem contemporâneo. Que segurança? Quem paga o seguro das nossas apólices vencidas? Quem assinou o contrato que assegura o sinistro? […] O espaço público, cada vez mais privatizado, com vários donos, perde, a passos largos, sua beleza de mobilização e confraternização, aquela busca do amor (o tal sentimento brega e fora de moda). Estar fora de casa, cerceado, controlado, invadido e disperso, vai se tornando cada vez mais um ato de resistência”.
Sobre o Nóis de Teatro – O coletivo surgiu, em 2002, dos anseios de mudança na realidade social e política dos jovens artistas de Granja Portugal, em Fortaleza. Desde o começo do trabalho, eles produziam “noites culturais” no bairro. Hoje, a inquietude do grupo permanece a mesma, diante das mazelas da cidade. “Tentamos romper a barreira maliciosa que ainda segrega e divide na noção de periferia e centro”, diz Altemar. Segundo ele, o teatro de rua do grupo sempre teve como marca a necessidade de discutir e debater, no espaço público, “o esquema de opressão e marginalidade que tentam inserir nossa comunidade, nosso lar, nossas vidas”.
Quase nada
De Marcos Barbosa
Realizado pela Associação Artística Nóis de Teatro – Ceará
De 3 a 31 de maio de 2014 – sábados e domingos, às 19h
Theatro José de Alencar
Rua Liberato Barroso, 525 – Centro, Fortaleza – CE
Tel.: (85) 3101-2583
Projeto contemplado com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz / 2013
Ficha técnica
Direção Geral – Altemar di Monteiro. Texto – Marcos Barbosa.
Elenco: Edna Freire, Magno Carvalho, Kelly Enne Saldanha, Henrique Gonzaga e Jefferson Saldanha
Apoio – Nayana Santos. Figurino – Ruth Aragão. Maquiagem – Edna Freire. Cenário – Elaine Nascimento e Jefferson Saldanha. Cenotécnico – Andre Rocha e Patrick Welber
Costureira – Ayla Silva. Cabeleireiras – Taline Martins e Odeli Lima. Direção de Fotografia e Montagem dos Vídeos – Irene Bandeira. Preparação de elenco para vídeo – Nataly Rocha. Captação de Som – Vivi Rocha. Fotografia – Duda Lemos. Projeto Gráfico – Walmick Campos.
Produção – Nóis de Teatro
Produção Executiva: Altemar di Monteiro, Kelly Enne Saldanha e Henrique Gonzaga
Parceria: Ponto G da Beleza, Grafcenter
Mais informações sobre o Nóis de Teatro
http://noisdeteatro.blogspot.com
http://twitter.com/noisdeteatro
Tels.: (85) 8720.1135 / 8567.4553 / 8678.5661
Agradecimentos: Marcos Barbosa. Comunidade de Granja Lisboa. Tiago Arraes e IFCE (espaço para os ensaios). Taline Martins e Odeli Lima (cabelos). Isabel Gurgel e equipe do Theatro José de Alencar. Carolina Vieira. Dudu Abreu, Gerardo e Natalia Lima (colaboração para os sets de filmagem). Duda Lemos, Júlio Martins, Ítalo Saldanha, Edigar Monteiro, Murillo Ramos, Amanda Freires, Bruno Sodré, Doroteia Ferreira, Andrei Bessa, Carol Veras, Tiago Leal, Velma Zehd, Creston Filho, Raimundo Filho, Teatro Máquina, Grupo Bagaceira, Grupo Pavilhão da Magnólia, Expedito Garcia e Grupo Populart.