Funarte lança livro ‘Kalma Murtinho, figurinos’ no Teatro Tablado

Topo: Antonio Gilberto, Camila Amado, Carlos Gregório, Fernanda Montenegro, Rita Murtinho, Guti Fraga; e a capa do livro. Abaixo: Ernesto Piccolo, Guti e Julia Lemmertz. À direita, Guti e Rita Murtinho homenageiam Kalma. Fotos: S. Castellano

A Fundação Nacional de Artes – Funarte – lançou, no dia 16 de setembro, terça-feira, às 19h30, no Teatro Tablado, na Zona Sul do Rio de Janeiro, o livro Kalma Murtinho, figurinos. A publicação, que apresenta mais de 400 desenhos, croquis e fotos dos trabalhos da figurinista, inclui uma cronologia completa de sua obra, além de textos críticos e depoimentos, inclusive da própria artista – uma das mais célebres da cena brasileira – alguns deles exclusivos para o livro, organizada por Rita Murtinho (filha de Kalma e também figurinista) e pelo ator, roteirista e diretor Carlos Gregório.

No lançamento, entre os atores e diretores teatrais, destacaram-se as presenças de Fernanda Montenegro, Patrícia Pillar, Louise Cardoso, Ernesto Piccolo, Stella Miranda, e Vera Holtz, entre outros. Figurinistas e cenógrafos como Marília Carneiro, José Dias e Anna Letycia Quadros (também conhecida artista plástica), prestigiaram o evento. O dramaturgo, diretor e professor Lionel Fischer esteve presente; assim como vários outros críticos teatrais e jornalistas de cultura – entre estes, Nani Rubin.

Recordando Kalma, o presidente da Funarte, Guti Fraga, disse não ter palavras para descrever o evento no Tablado: “Só consigo sentir as emoções, na verdade. São múltiplos sentimentos… É vontade de chorar e de rir. Porque aqui se percebe toda a importância que esse lugar tem para a formação de várias gerações de artistas brasileiros. Lembrei, por exemplo, junto com Fernanda Montenegro, da Fernanda Torres, quando estudava aqui, com 13 anos. Só tenho a agradecer aos deuses da arte, por estar vivendo este momento tão lindo. É um privilégio. E graças a esse livro. Viva Kalma! Seu nome está em espetáculos que fizeram a história de nossas artes cênicas. Essa edição resgata sua trajetória de mais de sessenta anos de sucessos, para a posteridade”, comemorou Guti.


Artistas relembram Kalma e falam sobre a publicação

Fernanda Montenegro falou sobre seu primeiro trabalho com indumentária de Kalma, no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) –  São Paulo – , dirigida por Gianni Ratto. Ele convidou a figurinista para fazer Nossa Vida com Papai (1957), a primeira produção de teatro profissional de Kalma – até então, ela só havia feito teatro amador, no Tablado, com Maria Clara Machado (mas seu trabalho já começava a ser reconhecido). “Os figurinos eram de época, cheios de detalhes, imensos e deslumbrantes, de alta costura. Eram muitos. Só eu usava cinco ou seis vestidos”, contou Fernanda. Eram seis cenas e, em cada uma ela mudava de roupa. “Quando Kalma não podia fazer meus figurinos, havia uma insegurança. É impressionante a qualidade da indumentária criada por ela; e como sempre se adaptava ao que o ator imaginava e à proposta da peça. Essa característica de um trabalho de figurino tranquiliza muito o ator. Kalma é uma artista histórica no teatro brasileiro nessa área”, concluiu Fernanda.

“O lançamento desse livro é um momento importante para nós, que vivemos um pouco da história de Kalma”, enfatizou Patrícia Pillar. “A publicação representa, também uma oportunidade para as pessoas conhecerem o imenso trabalho dela – o tanto que ela colaborou para a história do teatro brasileiro. Além de ter feito a compilação, Rita Murtinho como sua mãe, é uma grande figurinista”, destacou Patrícia Pillar, que estudou no Tablado. “Tenho adoração por esse lugar”, concluiu.

“A trajetória de Kalma Murtinho se mistura com a história do teatro, da qual é parte integrante e ativíssima. Ela trabalhou até seu último suspiro”, comentou Julia Lemmertz. “Tudo que ela fez; os grandes espetáculos; a dedicação dela à criação dos figurinos; era algo fantástico! Tive oportunidade de trabalhar com ela algumas vezes. Kalma tinha um nível de excelência em tudo o que fazia. Essa homenagem da Funarte não só é justa como  também necessária, para que se divulgue o trabalho de Kalma Murtinho; e para que as novas gerações de cenógrafos e figurinistas tenham bem clara a ideia de quem foi essa mulher. Isso dará um parâmetro, uma referência de até onde eles podem chegar, com trabalho e dedicação. Ela era uma luz, muito inteligente e culta. Uma pessoa adorável, linda e sempre disponível. Pena que não seja eterna. Os bons deveriam ficar para sempre”, completou a atriz.

Ernesto Piccolo que, além de ator e diretor, é professor do Tablado, elogiou: “Aplaudo de pé essa iniciativa da Funarte de registro da obra de Kalma. O Tablado é minha casa, onde estou há 40 anos. Comecei aqui aos 12, no espetáculo O Cavalinho Azul, de Maria Clara Machado. Kalma dirigia e fazia o figurino”, recordou. “Ela me ajudou muito no início da carreira. Trabalhamos juntos em cerca de 20 espetáculos, nos quais atuei ou dirigi. Em alguns deles, ela vestia de 60 a 70 atores. Ela era sempre criativa e companheira. É louvável esse trabalho da Funarte, feito para eternizar essas pessoas que fizeram e fazem a história tão rica do nosso teatro”, ressaltou Ernesto.

Camila Amado disse: “Me lembro que visitei a Kalma, pouco tempo antes de sua morte. Ela estava alegremente comendo um bolo com manteiga! Me deu um vestido lindo de presente. Fiz com Kalma vários espetáculos. Quando eu tinha 18 anos, fiz  O Elefante no Caos, de Millor Fernandes, com direção de João Bethencourt, com figurino dela.  Fiz o Michelangelo [texto: Doc Comparato; Direção: Antonio Abujamra], em agosto deste ano, com indumentária dela. Meu vestido era maravilhoso, com uma cauda de três metros, com um lindo chapéu”.

Sobre o livro

Com introduções de Fernanda Montenegro, Barbara Heliodora e Paula Santomauro, Kalma Murtinho, Figurinos sintetiza 63 anos de trabalho daquela que se dizia uma “operária das artes”. O livro inclui textos jornalísticos, como os de Carlos Drummond de Andrade, Fausto Wolf, Yan Michalski, Macksen Luiz e Sábato Magaldi e testemunhos dos parceiros de trabalho da indumentarista – como Gianni Ratto, Maria Clara Machado e Camila Amado, entre outros, que ajudam a contextualizar a obra de Kalma na história do teatro brasileiro. A publicação reúne imagens cedidas pelo Centro de Documentação (Cedoc) da Funarte, possibilitando que o público tenha acesso ao rico acervo da instituição.

Palavras dos organizadores

Rita Murtinho conta que o livro levou um ano para ser concluído; e que sua mãe participou do começo do projeto, escolhendo as peças. “Ela fez mais de 240 espetáculos, dos quais escolheu em torno de 60. Selecionamos 40. São centenas de pastas com todos os desenhos. Não seria possível tudo isso num livro. Mas tenho o projeto de fazer um site com esse material, que seria interessante, por exemplo, para quem estuda figurino. Foi uma pena ela ter falecido antes de ver o livro pronto. Ela adorava fazer figurino e tinha muito orgulho do seu trabalho. Estaria muito feliz de estar aqui”. Carlos Gregório explicou que fez a direção editorial da obra, a convite de Rita, de quem partiu a iniciativa, juntamente com a Funarte. “Kalma nos anos 1970 e tive com ela longa relação de amizade e trabalho. Por isso, eu quis muito fazer esse projeto”, acrescentou.

Um representante da dramaturgia e da crítica comenta

Disse Lionel Fischer: “Kalma foi a maior figurinista do Brasil. Falo também como professor do Tablado, há tantos anos. Ela começou aqui e é responsável pelos figurinos mais belos da história do teatro brasileiro. Essa tradição é continuada por Rita Murtinho, grande figurinista. O Governo, através da Funarte, presta mais que merecido tributo a uma profissional com um nível de exceção, que, mesmo com o sucesso que alcançou, nunca se afastou do Tablado. Por isso, esse lançamento aqui é um acontecimento muito festivo, comovente e inesquecível”.

A Funarte presta homenagem

Além do presidente, representaram a Funarte: a diretora do Centro de Programas Integrados, Maria Ester Lopes Moreira; o diretor do Centro de Artes Cênicas da Fundação, Antonio Gilberto, que comentou o livro: “Kalma é a maior profissional do figurino no Brasil. Uma verdadeira maga dessa atividade e a ‘mãe’ profissional de todos os nossos figurinistas, que se formaram sob a sua influência. É um livro lindo, por trazer os desenhos, croquis e ideias de Kalma, além de fotos com o trabalho já realizado. Rita Murtinho e Carlos Gregório estão de parabéns. A obra é excelente e nós, da Funarte, estamos muito felizes, por ter conseguido concretizar essa homenagem tão merecida”, disse Antonio.

Também estiveram presentes ao evento a gerente de Edições da Funarte, Filomena Chiaradia (responsável pelos projetos editoriais); a  coordenadora do Cedoc, Maristela Rangel; o coordenador-geral de Planejamento e Administração da instituição, Paulo Grijó Gualberto; a coordenadora de Comunicação, Camilla Pereira; a coordenadora do Gabinete, Ana Amélia Veloso; entre outros servidores da instituição.

Sobre Kalma Murtinho

A carioca Maria Carmen Braga Murtinho (1920 – 2013) criou indumentária, cenários e adereços para teatro, carnaval, dança, ópera, televisão, cinema e shows, num total de mais de 220 produções, a grande maioria para teatro. Ganhou mais de 30 premiações, de 1955 a 2007, sendo quatro prêmios Molière; seis troféus Mambembe (Ministério da Cultura); dois prêmios Shell; e os prêmios das associações brasileira, carioca e paulista de críticos teatrais; além dos prêmios Saci e Ibeu, entre outros. Começou nos anos 40, antes de existir no Brasil a profissão de figurinista, “no tempo em que se dedicar ao teatro significava fazer de tudo, de varrer os bastidores a atuar”(1), por isso acostumou-se a tirar ela mesma as medidas dos modelos e a comprar material. ”O processo de profissionalização é bastante difícil no Brasil. Se não houvesse a lei reconhecendo os artistas […], não teríamos chegado a nada. Mas […] nossa profissão não está organizada”, advertiu. Seu trabalho era feito com planejamento e apuro, além de zelo pela pesquisa e p ela antecedência – entregava os figurinos já nos ensaios – porque, como dizia, “a roupa ajuda o ator a vestir o personagem”.

Leia mais sobre Kalma Murtinho aqui

Kalma Murtinho, figurinos

Edição Funarte

Organização: Rita Murtinho e Carlos Gregório

244 páginas

Preço: R$ 50

Lançamento: 16 de setembro de 2014

Teatro Tablado
Rio de Janeiro (RJ)
http://otablado.com.br/

O livro está à venda na Livraria Mário de Andrade (Funarte/RJ)

Encomendas para todo o Brasil, através do e-mail: livraria@funarte.gov.br

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Tels: (21) 2279 8071 e (21) 2279 8070

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