A Sala Funarte Sidney Miller, no Rio de Janeiro, recebeu a terceira edição do Sarau Temos Palco, na terça-feira, dia 21 de outubro, às 18h. Iniciativa da Fundação Nacional de Artes – Funarte, o evento reuniu cerca de 30 jovens talentos de várias áreas artísticas. O programa abre espaço para jovens artistas de circo, dança, teatro, música, artes visuais, poesia e artes integradas de todo o país. A Funarte pretende levar o sarau para São Paulo (Capital), Brasília, Porto Alegre, Recife e Manaus.
FEm sua terceira edição, o Temos Palco trouxe para o público o pintor Jefferson Maia, do Coletivo Pintando com a Boca; o grupo de alunos do 4º Período de Teatro da Universidade Estácio de Sá (RJ); a Companhia de Dança Vivi Macedo – com dançarinos cadeirantes e andantes – o músico Eddu Grau, morador da comunidade do Complexo do Alemão (Zona Norte do Rio); e a Associação Abadá Capoeira – Vassouras (RJ) – que apresentou números de maculelê e capoeira. Como a proposta do Sarau é promover interação entre público e artistas, o microfone foi aberto para a plateia. O poeta Joilson Pinheiro, organizador do sarau “Os pequenos poetas da favela”, na comunidade da Rocinha (RJ), recitou poemas. A Abadá Capoeira abriu a programação na rua, em frente à Sala Funarte, com uma roda de capoeira, convidando o público para entrar no espaço. Representando a Fundação, estiveram presentes a diretora de artes integradas, Maria Ester Lopes Moreira; o coordenador-geral de planejamento e administração, Paulo Grijó Gualberto; a assessora do Gabinete, Ana Amélia Velloso, a gerente operacional do CEPIN Kathryn Valdrighi; e outros servidores.
Artes Visuais
O pintor Jefferson Maia, da Associação dos Pintores com a Boca e os Pés, mostrou ao público sua técnica de pintura com a boca. Formado em pedagogia pela Universidade Gama filho e artista plástico, Jefferson sofreu um acidente, que o deixou tetraplégico. “Não perdi as esperanças e a pintura foi um dos caminhos que escolhi”, explica o artista, que hoje tem mais de 150 obras, espalhadas por vários países, pinta profissionalmente e ministra palestras motivacionais. “Eu me adaptei a pintar com a boca, a partir do incentivo de um colega. Sou membro da Associação dos Pintores com a Boca e os Pés , que fica em Liechtenstein [um pequeno país, vizinho da Suíça]. A APBP promove, através das nossas obras, cartões e calendários e outros produtos, vendidos no mundo todo”, comenta Jefferson. A instituição começou em 1956, quando artistas com deficiência física, de vários países europeus, se reuniram. Seu objetivo era ganhar o próprio sustento, através de seu esforço e de sua arte. Agora, eles são 800 associados em 75 países – 47 deles estão no Brasil. “Sempre há novas possibilidades para a pessoa com deficiência. Mesmo quando estamos rodeados de dificuldades”, conclui Jefferson.
Teatro
O grupo de alunos do 4º período do curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Estácio de Sá encenou o esquete Homenagem à Burocracia, de Augusto Boal. A peça traz uma forte crítica aos entraves gerados pela burocracia. “Ela mostra a letargia que não acompanha o tempo real dos acontecimentos e de como ela faz o homem, quando imerso nela perder a medida do que é mais ou menos importante”, diz o diretor Bruno Leandro. Os personagens se apresentam com roupas simples, mas com narizes de palhaço; e têm sotaque nordestino. A proposta do grupo para o espetáculo incluiu algumas das técnicas de Eugênio Barba – com o intuito de intensificar a ideia original de Boal. “Os atores transmitem clareza e simplicidade ao público, em oposição à obscuridade e à complexidade, comuns à burocracia, em cujo contexto, todos se tornam palhaços. Eles são vitimados pelo processo, nos dois lados da ‘engrenagem’. Por isso também fazemos a brincadeira do regionalismo e dos narizes de palhaço”, disse o ator e diretor. A montagem foi feita para uma prova na faculdade e participou de um festival universitário. O elenco foi formado por Khathleen Couto, Letícia Prado, Núbia Costa e Renato Costa.
Dança
Composta por instrutores cuja ação é direcionada a pessoas cadeirantes e andantes, a Cia. de Dança Viviane Macedo apresentou uma coreografia do projeto Desenvolvendo Campeões. Ele inclui crianças e jovens, na faixa etária de 7 até 18 anos. A iniciativa, realizada em parceria com a Escola Carioca de Dança, tem o intuito de desenvolver a dança em pessoas com e sem deficiência. “Levamos a inclusão através da dança para todos os lugares. Mostramos que ela é possível em qualquer lugar; que não há limitações para isso e que todo mundo pode dançar”, disse Viviane, que também participa da equipe de produção do Temos Palco. O número foi feito por Tatiane Lima (15 anos) e Lucas Morado (12 anos). “Estou gostando muito, porque isso me desenvolve não só como dançarina, mas como pessoa. Graças a isso, consegui ultrapassar obstáculos. Quero ser uma dançarina de sucesso”, declarou Tatiane. Lucas relatou que sempre gostou de experimentar coisas novas. “Minha professora de dança me falou sobre esse projeto. Quando vi os cadeirantes, pensei: ‘deve ser muito legal dançar com eles’”, comentou. A proposta da Companhia é desenvolver o corpo e a mente, sincronizando os aspectos emocional, intelectual e físico, na medida de cada pessoa. Sua missão é promover a integração, a inclusão e a interação das pessoas com deficiência, valorizando suas competências e possibilitando o seu aperfeiçoamento. O grupo faz apresentações em empresas, escolas e espaços culturais.
Capoeira e maculelê
A Associação Brasileira de Apoio e Desenvolvimento da Arte-Capoeira (Abadá Capoeira) apresentou uma coreografia de Maculelê com dezenas de integrantes, coordenada pelo instrutor Sombrão. Fundada e presidida pelo famoso Mestre Camisa, a Abadá é uma das maiores instituições de capoeira do Brasil, com unidades em vários estados e em outros países. Assim como a capoeira, o maculelê também é uma dança com cantigas próprias, com aspectos marciais, que era praticada pelos negros escravizados. Eles empunhavam facões para cortar a cana-de-açúcar nos canaviais e os utilizavam nas danças e cantavam (originalmente nos dialetos africanos, para que os feitores não entendessem o sentido das palavras). O “macota”, mestre que comanda os participantes, puxa as cantigas, e o grupo responde (nesse evento, a função foi desempenhada por Sombrão). Os participantes usam, além dos cepos, bastões de madeira, que são batidos uns nos outros e participam da percussão. O ritmo é forte e compassado, dado por atabaques, pandeiros e, ocasionalmente, violas.
A Abadá entende a capoeira como arte interdisciplinar, com aspectos esportivos, culturais, marciais e artísticos. A filosofia da associação é o desenvolvimento dessa manifestação cultural em vários sentidos – “seja buscando a elevação do nível técnico e teórico do capoeirista, seja utilizando a capoeira como valioso recurso pedagógico, artístico e cultural”, informa o site da entidade. Entre seus objetivos está a profissionalização do praticante e o resgate do valor do mestre de capoeira. As atividades da associação têm fundamento em ensinamentos de capoeira regional do legendário Mestre Bimba, unidos aos da capoeira de Angola. “Assim, os fundamentos da capoeira se expressam na preservação da sua tradição, na evolução técnica, no cuidado e no zelo na confecção dos instrumentos e uniformes, no aprimoramento técnico, no respeito mútuo ao trabalho básico do aprendizado, na velocidade, na eficiência e na união dos componentes”, diz o coletivo. Ele procura assim “contribuir para a formação de valores humanos e étnicos”, além de preservar a essência da capoeira, entre outros objetivos.
Música
Conhecido como Eddu Grau, Eduardo Monteiro é cantor, compositor e militante cultural e de projetos sociais da comunidade do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O músico explica que tem na sua arte uma ferramenta de desenvolvimento humano. Suas letras mesclam todas as influências de MPB, rock, reggae e funk. O artista, que fez uma apresentação de voz e violão, desenvolve no Alemão o projeto Som no barraco. Suas canções traduzem o cotidiano de um dos maiores complexos de favela da América latina e trazem reflexões sobre ele. Ao final do sarau, a cantora Jéssica, componente do projeto, cantou acompanhada pelo violão de Eddu.
Sobre o Temos Palco
O Sarau Temos Palco tem como objetivo incentivar vocações artísticas, valorizar novos talentos e abrir espaço para todas as expressões de arte, além de promover o intercâmbio cultural. O evento reúne jovens talentos das áreas de circo, dança, teatro, música, poesia e artes integradas e recebe sempre uma personalidade para um bate-papo. É realizado de forma descontraída e divertida, para que as pessoas criem uma identidade com o evento e se sintam parte desse movimento cultural.
A ideia surgiu do encontro de jovens durante o Curto Circuito da Juventude, promovido pelo Ministério da Cultura e pela Funarte, em março de 2014, em Brasília. Nesse evento, participantes do Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Manaus, Brasília e Recife se encontraram com a ministra da Cultura, Marta Suplicy. Desde então, foram realizadas reuniões entre jovens do Estado do Rio de Janeiro com o presidente da Funarte, Guti Fraga, e foi criada a proposta do Sarau.
Sarau Temos Palco
Realização: Fundação Nacional de Artes – Funarte/Ministério da Cultura
Entrada gratuita
Terceira edição: 21 de outubro de 2014
Local: Sala Funarte Sidney Miller
Palácio Gustavo Capanema
Produção: Valquíria santana
Supervisão artística: Thiago Roderich
Equipe de organização: Dafne Rodrigues, Marcelo de Moraes, Janaina Mariano, Leila Tupinambá, Viviane Macedo, André de Kabulla e Felipe Milhouse
Programação visual: Fernanda Lemos
Mais informações
Assessoria Especial da Presidência – Funarte
Tel.: (21) 2220 3510
Links e contatos
Jefferson Maia – Associação dos Pintores com a Boca e os Pés
www.inclusivas.com
Cia.de Dança Viviane Macedo
http://ciavivianemacedo.com/
https://www.facebook.com/ciaviviane/
Tels. (21) 2288-1173 e 983184816
Associação Brasileira de Apoio e Desenvolvimento da Arte-Capoeira (Abadá Capoeira)
www.abadacapoeira.com.br
www.abadacapoeira.com
Vassouras (RJ) – Instrutor Sombrão
adenilsonsombrao@yahoo.com.br