Funarte lança livro e documentário da mostra ‘Grande Área’

A Mostra Grande Área 2014, que levou a seis capitais brasileiras projeções de videoarte, exposições de artes visuais e performances, foi documentado em livro e vídeo. A Fundação Nacional de Artes – Funarte lançou essas obras no dia 4 de fevereiro, no Mezanino do Palácio Gustavo Capanema – a galeria da Funarte – às 16h30.

O Projeto Grande Área reuniu ações nas ruas e em outros espaços públicos. Envolveu várias linguagens utilizadas nas artes visuais contemporâneas, tais como: projeções de videoarte em grande escala; exposições de grafite; intervenções; performances; e instalações; entre outras, todas com tema livre. O nome Grande Área é uma referência aos grandes espaços físicos ocupados pelas obras; e à época da Copa do Mundo, chamando a atenção do público para a arte, naquele período. A iniciativa resulta da parceria entre o Ministério da Cultura a Funarte e a Fase 10 Ação Contemporânea.

As ações foram desenvolvidas por 13 criadores ou coletivos de artes visuais contemporâneos, de expressão nacional e internacional, selecionados por uma comissão julgadora. A curadoria ficou a cargo do diretor do Centro de Artes Visuais da Funarte, Xico Chaves, e a historiadora da arte e crítica Luiza Interlenghi. As mostras ocorreram de 11 de junho a 31 de julho, em seis capitais brasileiras que receberam jogos da Copa: Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e São Paulo – entre elas as cidades onde existem representações da Funarte.

O livro da mostra é composto por fotos e referências, com o documentário em DVD anexo. A publicação foi organizada por Nelson Ricardo Martins, com projeto gráfico da designer Lu Martins. Na ocasião do lançamento, o material foi distribuído gratuitamente e o documentário, exibido. Os trabalhos foram produzidos pelos realizadores da Mostra Grande Área e pela F10 Editora.

Diversas tendências das artes visuais

“Como o próprio nome indica, o Grande Área é um projeto para obras de grande extensão física. Seu objetivo foi agrupar artistas visuais contemporâneos, de diversas tendências do universo atual de expansão das artes visuais”, comenta o diretor de Artes Visuais da Funarte, Xico Chaves. Além do artista, estavam no coquetel de lançamento, aberto ao público, o diretor executivo da Fundação, Reinaldo Veríssimo; o diretor de Artes Cênicas da Casa, Antonio Gilberto; os assessores do Centro de Artes Visuais da instituição, Andréa Paes; o artista e crítico de arte Fernando Cochiaralli; o Coordenador de Dança da entidade, Fabiano Carneiro; e a Coordenadora de Comunicação, Camilla Pereira – entre outros servidores e interessados.

Na mesma ocasião, foi ainda lançado (e também distribuído de graça), o catálogo/documentário do Edital Trocas Contemporâneas – Interações Artísticas Regionais, uma das propostas vencedores do Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais – 9ª Edição. Essa ação recebeu 127 trabalhos de todas as regiões do Brasil, tendo 15 premiados (cinco de circulação e dez de trabalhos para a internet). Um documentáro sobre essa seleção também foi exibido. A DJ Dani Vieira apresentou um repertório musical. O MinC e a Funarte disponibilizaram ainda, para o público produtos resultantes de projetos vencedores de seus editais, lançados nos últimos anos.

Mais sobre a Mostra

Participaram do Projeto Grande Área 2014 os artistas Alexandre Rangel (DF); CEIA (BH); Derlon Almeida (PE); Grupo ACIDUM (CE); Guga Ferraz (RJ); José Rufino (PB); Marcelo Coutinho (PB); Maria Helena Magalhães (RJ); Paulo Meira (PE); Ronald Duarte (RJ); Roberta Carvalho (PA); Samuca Santos (BA) e Tarcio V (BA). A comissão julgadora do edital foi composta por Marisa Flórido, Lisiane Mutti e Nelson Ricardo Martins.

Um exemplo de performance urbana do projeto é Matadouro boiada, de Ronald Duarte, no qual ele fez uma intervenção artística nas ruas de quatro bairros do Rio de Janeiro. O trabalho reuniu um grande grupo de artistas usando máscaras de folguedos de boi, caminhando pelas ruas e pontos turísticos cariocas, com palmas e ruídos vocais. A “boiada” ainda fez encontros gastronômicos, nos quais compartilhou com quem passava pratos típicos da culinária popular. A ação teve como base o tema “A cultura popular como expressão vigorosa e crítica do pragmatismo urbano”. O artista explica que as cabeças de boi representam a “cabeça da dominação”, que se diferencia da cabeça real, símbolo da identidade de cada um e que entre outras reflexões, a ação leva o público a pensar nos “rebanhos” de opinião, em que as pessoas seguem a maneira de pensar dos outros.

Arte é liberdade” – Xico Chaves

“Antes havia alguns poucos suportes selecionados para as artes visuais. Hoje tudo é suporte para elas. E tudo também serve como espaço expositivo. Isso vem mudar os conceitos básicos que tivemos até agora sobre o que é arte contemporânea e, enfim, sobre o que é arte”, reflete Xico Chaves. “O que a arte se propõe a realizar? Transformar a sociedade? Ou puramente possibilitar que as pessoas se expressem, no campo da liberdade máxima – a liberdade de expressão, em todas as formas em que ela pode se manifestar? Talvez seja isso a arte contemporânea… Deixar que a pessoa seja livre em seu processo de expressão. E que construa, a partir dessa liberdade, a sua proposta. O que permite a você ser humano na integralidade é a possibilidade da liberdade absoluta de expressão. Sem isso você é alguém comandado por um sistema, que lhe impede de falar a sua verdade. A arte é um instrumento dessa liberdade”, define o diretor do CEAV/Funarte. “A arte contemporânea entrou numa trajetória de expansão infinita, porque não tem ‘bordas’; e porque incorpora todas as linguagens, sem um centro”. Xico diz que o Grande Área é um recorte da liberdade provocada pela arte. “As tendências são muitas nas artes visuais. Nesse projeto selecionamos algumas tendências mais recentes, com artistas de vários lugares do país, e programamos sua exposições nas várias capitais. De certa forma, o processo se baseou no Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais. Ele foi responsável pela articulação entre diversos trabalhos e experimentações, realizadas no início do Século XXI, e foi realizado para que o Brasil conhecesse a sua produção”, destaca Xico.

Os artistas, sua troca de experiências e a reação do público

Luiza Maria Interlenghi é estudante de doutorado e mestre em Historia estudos curatoriais pela Universidade Bard (Nova Iorque – EUA) e em História Social da Cultura pela PUC-RJ. “Quisemos fazer uma exposição abrangente, que levasse a produção de diferentes artistas contemporâneos que lidam com questões urbanas para diversas regiões do Brasil e levando a uma troca de experiências e visões. Por exemplo, trouxemos a Roberta Carvalho, do Pará, que atua com uma temática ligada à Amazônia para a Avenida Paulista, com uma projeção urbana, entre outros”. Luiza ressalta que a ideia da curadoria foi divulgar nas rua a produção contemporânea – que, aliás, já é realizada nesses espaços – para traçar um panorama do conjunto de obras que tem como tema as cidades; e as indagações, angústias e motivações do indivíduo. “Os artistas ficaram entusiasmados e comentaram que o trabalho foi muito instigante, com reações do público muito interessantes. Foi bem produtivo”, conclui.

A arte que transforma o indivíduo e interfere na realidade

Também artista e estudioso das artes visuais, Nelson Martins, da Fase 10, organizou o livro e dirigiu o vídeo. Ele defende que o projeto mostra como as artes contemporâneas se posicionam politicamente. “A arte hoje não está desligada da política como um todo, do dia a dia. A arte não está mais só nas galerias. Está na vida das pessoas, no cotidiano. É política, no sentido de que transforma o indivíduo. E a arte contemporânea se insere em tudo, porque hoje são utilizadas linguagens as mais diversas”, diz Nelson. Ele destaca que é mais fácil hoje para as pessoas se tornarem artistas; e que elas interferem na realidade através da arte; e que tudo isso tem uma dimensão política.

Edital Trocas Contemporâneas – Interações Artísticas Regionais
Projeto contemplado no Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais – 9ª Edição

Projetos vencedores do segmento 1 (Circulação):
Arte na Ruína, Cleison Alves (Xapuri, AC); Desterro, Ícaro Lira (São Paulo, SP); Dois Franciscos, Maicyra Leão, (Aracajú, SE); Shima (São Paulo, SP) e Christina Fornaciari (Belo Horizonte, MG); Mekarô Imagens em diálogo, Carol Matias (Brasília, DF); Zonas Margens de Segurança, Cassia Correa e Róger Machado (Rio Grande do Sul, RS)

Projetos vencedores do segmento 2 (Web):
7Olho, Biu  (Rio de Janeiro, RJ); Em Exposição, Jaime Lauriano (São Paulo, SP); Paisagens Emocionais, Rodrigo Moreira (Rio de Janeiro, RJ); Panóptico, Aldo Pedrosa (Uberaba, MG); Paralelos, Proposta A6 e Croquete Filmes (Rio de Janeiro, RJ); Ponto, Linha e Plano, Lia do Rio (Rio de Janeiro, RJ); CAM, Carolina Bonfim  (São Paulo, SP); Salão Virtual de Arte Contemporânea Stressionista, Wilson Inácio (Londrina, PR); Trinus Cappilus, João Manuel Feliciano (Olinda, PE); A Aurora do Homem, Renato Pera (São Paulo, SP).

Lançamento livro e documentário da Mostra Grande Área 2014

4 de fevereiro de 2015, quarta-feira
Palácio Gustavo Capanema – Mezanino
Rua da Imprensa, nº 16, Centro – Rio de Janeiro – RJ

Mais informações: cavisuais@funarte.gov.br