Funarte lamenta falecimento de Barbara Heliodora

Foto: site oficial

Nome de referência no teatro brasileiro, Barbara Heliodora faleceu na manhã de hoje, dia 10 de abril, sexta-feira aos 91 anos. Ela estava internada desde o dia 21 de março, no Hospital Samaritano, com um quadro de insuficiência respiratória. A causa da morte ainda não foi divulgada.

Reconhecida crítica, diretora, professora e roteirista de teatro; ensaísta, tradutora e figurinista, Barbara Trabalhou de 1958 a janeiro de 2014. Foi premiada com 13 distinções, nacionais e internacionais. Escreveu para vários veículos jornalísticos, como a Tribuna da Imprensa, o Jornal do Brasil, os extintos O Jornal e revista Visão, e os jornais O Estado de São Paulo e O Globo. Lecionou em universidades, escolas de teatro, cursos livres, conferências e palestras.

De suas premiações, destacam-se: a condecoração da Ordem dos Cavaleiros e das Letras do Ministério da Cultura da França; a Medalha da Universidade de Connecticut (EUA); e a inclusão no The World Who’s Who of Women, da Melrose Press (Cambridge – Inglaterra). Ganhou quatro bolsas de estudos internacionais de grande reconhecimento e participou de congressos no exterior. É considerada a maior especialista brasileira em William Shakespeare. “O que é mais fantástico em Shakespeare é que o vocabulário é imenso, 29.600 palavras, e muitas são usadas pela primeira vez impressas na obra dele. No entanto, tem uma linguagem acessível. Este é o grande segredo dele”, disse Barbara.

Uma trajetória que acompanhou e marcou a atividade teatral no Brasil

Heliodora Carneiro de Mendonça, cujo nome profissional é Barbara Heliodora, nasceu no Rio de Janeiro, em 29 de agosto de 1923. Filha do historiador Marcos Carneiro de Mendonça e da poetisa e tradutora de Shakespeare, Anna Amélia Carneiro de Mendonça – que fundou, com Paschoal Carlos Magno, a Casa do Estudante do Brasil, no Rio, A paixão de Barbara pelo escritor inglês começou quando ela tinha 12 anos, após ganhar da mãe o primeiro volume das obras completas do dramaturgo. No Teatro do Estudante do Brasil, de Paschoal, Barbara assistiu Sheakespeare pela primeira vez, aos 15 anos – e chegou a atuar como atriz, uma vez.

No final dos anos 50, entre os teatros que frequentava estava o Tablado, onde, em 1957, sempre comentava as peças; e foi incentivada por amigos a escrever críticas. O ator/autor Silveira Sampaio recomendou-a ao jornal Tribuna da Imprensa, onde começou carreira como crítica teatral, em 1958. No mesmo ano, transferiu-se para o Jornal do Brasil, no qual iniciou sua famosa coluna especializada, escrita até 1964. Lá, seus textos formaram opinião, e começaram a ser reconhecidos, pela seriedade, critério e erudição. Participou  do Círculo Independente de Críticos Teatrais, cujo principal esforço é a modernização da atividade, do qual foi uma das líderes.

Afasta-se da crítica para assumir, de 1964 a 1967, em plena ditadura militar, a direção do Serviço Nacional de Teatro (SNT) – antecessor dos extintos Inacen e Fundacen, que incluíam circo, dança e ópera, os quais, por sua vez, antecederam o que hoje é o Centro de Artes Cênicas da Fundação Nacional de Artes – Funarte.

A partir do final dos anos 1960, Barbara Heliodora atuou principalmente no ensino. Foi professora de História do Teatro no Conservatório Nacional de Teatro e, depois, professora titular da mesma disciplina, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), onde foi decana até aposentar-se, em 1985. Ministrou cursos de pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP), onde fez doutorado. Dedicou-se à tradução com intensidade. Entre os seus trabalhos estão peças de Shakespeare, tais como A Comédia dos ErrosSonho de uma Noite de VerãoO Mercador de VenezaNoite de Reis,Romeu e Julieta, César e Cleópatra, Rei Lear, entre outras; O CerejalA Gaivota, de Anton Tcheckov, Bodas de Fígaro,de Beaumarchais, Testemunha de Acusação e outras peças, de Agatha Christie; e os livros de teoria teatral O Teatro do AbsurdoA Anatomia do DramaBrecht: dos males o menor, todos de Martin Esslin; Método ou Loucura, de Robert Lewis; e mais outro estudo sobre seu tema mais assíduo, Shakespeare, de Germaine Greer.

Nos anos 1970, registrou-se como jornalista profissional no Ministério do Trabalho, e como e técnica em espetáculos de diversões. Em 1986, voltou à crítica jornalística, na revista Visão, onde atuou até 1990, quando voltou a lecionar no curso de Mestrado em Teatro da Uni-Rio e começou a escrever para jornais diários. Trabalhou em O Globo até o fim de sua carreira. Escreveu seis livros.

Um estudo sobre Barbara Heliodora

Segundo a pesquisadora Maria Inês Barros de Almeida, “Barbara Heliodora é a crítica mais influente do teatro carioca. À sua opinião, rigorosa e durona, atribuem o poder de fazer e desfazer espetáculos. Pela gente de teatro é discutida, temida – já foi alvo de confrontos e desafios de diretores inconformados. A sua fama como colunista de jornal, portanto, ultrapassa outro aspecto da sua vida cultural, a que se dedica com igual intensidade. Estou me referindo à comunicação direta com o público, em salas de aula, em ensaios de textos dramáticos, em conferências, enfim, na constância com que dissemina cultura, convivendo com grande número de pessoas e atendendo-lhes à curiosidade e ao desejo de saber. É aí que aparece a Barbara mestra, madrinha dadivosa, flexível, exuberante, que conquista os espíritos e as mentes e, pelo prazer didático repartido, comunga com as platéias. Neste papel, tenho observado, Barbara Heliodora conquista a todos que a conhecem. É uma unanimidade”. (ALMEIDA, Maria Inês Barros de. Perfil analítico de Barbara Heliodora. Rio de Janeiro, 04 nov. 2002).

Leia mais sobre a obra de Bárbara Heliodora no site oficial: www.barbaraheliodora.com