A poesia visual e a crítica de Wlademir Dias-pino compiladas em livro

Um dos seis poetas revelados na 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta de 1956, Wlademir Dias-Pino é responsável por uma das produções consideradas mais singulares da poesia visual no Brasil. Seu legado artístico e crítico foi reunido no livro Poesia/poema: Wlademir Dias-Pino, fruto de um projeto contemplado no edital Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais 2014, realizado por Rogério Camara e Priscilla Martins. A editora é a Estereográfica – Brasília (DF).

Na publicação, resultado de longa pesquisa dos organizadores, dispõe-se de parte substancial da produção concebida pelo poeta visual entre os anos 1950 e início da década de 70 — inserida no bojo dos movimentos da poesia concreta e do poema//processo. Rogério e Priscilla consideram que naquele período Dias-Pino traçou as bases teóricas do conjunto de sua obra. Lançado no dia 2 de julho, no Museu de Arte do Espírito Santo – Centro de Vitória –, o livro revela, segundo os organizadores, o radicalismo e o fervor dos embates de ideias e sociais ocorridos naquele momento da História.

“Embora se privilegiem os posicionamentos de Dias-Pino no calor das discussões políticas e estéticas do período em que ocorreram, foram acrescidas algumas reflexões posteriores do poeta acerca de sua obra”, comentam os pesquisadores.

A organização e a proposta do livro

A publicação foi organizada em dois blocos: o primeiro é relativo ao momento de participação na poesia concreta; o segundo, à época em que o artista integrou o movimento poema//processo. Foram reproduzidos não somente textos críticos de Dias-Pino e do grupo poema//processo, mas também suas principais obras poéticas vinculadas aos dois movimentos. “Não houve a intenção de simular as características objetuais dos poemas originais, no entanto, procurou-se, em alguns casos, apresentar algumas aproximações/versões para que o leitor pudesse estabelecer uma relação experiencial de leitura”, dizem Rogério Camara e Priscilla Martins.

A proposta do trabalho é preencher um vácuo na bibliografia especializada sobre a produção artística do período histórico que retrata – um tempo de efervescente manifestação artística no país. “A crescente importância dos estudos de adequação das mídias às novas tecnologias comprova a extrema relevância da obra e do pensamento desse artista visionário”, avaliam os organizadores. “No entanto, mais do que relacionar a produção de Dias-Pino à lógica da interatividade digital, deve-se considerar, pela resistência às linguagens padronizadas, o seu sentido político”, defendem, citando o artista: “O valor da literatura é estar à frente. Os poetas contemporâneos procuram se antecipar inventando novas grafias, novos códigos’”. Dias-Pino defendia que o poeta visual deve “inventar uma nova visualidade para que possa caracterizar (evito usar nomear porque é semântico) aquele nível de tecnologia”.

Rogério e Priscilla comentam que Dias-Pino abre suas proposições para diversas possibilidades de apropriação por parte do leitor, ao mesmo tempo em que busca uma linguagem que se amplie para além do verbal. “Desse modo, a relação de participação passa inevitavelmente pela dimensão semântica do poema. Não se trata, portanto, de buscar a atualidade de sua obra pelo viés tecnológico, mas pelas diversas possibilidades de apropriação que ela estabelece — esta é a essência que a torna de seu tempo, de seu lugar, onde efetivamente se atualiza a cada leitura, permanecendo contemporânea”, concluem.

Livro

Poesia/poema: Wlademir Dias-Pino

Organização: Rogério Camara e Priscilla Martins.

Projeto contemplado pelo Ministério da Cultura e pela Fundação Nacional de Artes – Funarte no Edital Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais

Editora Estereográfica – Brasília (DF)

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