Morre Rodrigo Farias Lima, produtor e agitador cultural

Capa do livro de Rodrigo Farias Lima

Rodrigo realizou vários espetáculos e grandes campanhas de popularização de teatro, música e outras áreas da arte popular; lutou pelo patrimônio cultural; e alavancou carreiras. A Fundação Nacional de Artes – Funarte registra aqui uma homenagem a ele

Faleceu no dia 2 de junho, sexta-feira, o reconhecido produtor artístico e agitador cultural Rodrigo Farias Lima, aos 75 anos.

No teatro, atuou na montagem cerca de 20 espetáculos, que “contribuíram para o debate da realidade nacional e do fazer teatral no Rio de Janeiro” (Jornal O Globo, 4/6/17). Montou peças de autores nacionais destacados, tais como Millôr Fernandes, João das Neves, Dias Gomes, Ziraldo e Arnaldo Niskier. Colaborou para o início da carreira de nomes como Sônia Braga, Eduardo Dusek, Elba Ramalho e muitos outros atores, cantores, músicos, diretores e autores teatrais, circenses, bailarinos, jornalistas e outros profissionais. Pelo seu trabalho, o pernambucano do Recife recebeu os prêmios Golfinho de Ouro; Mambembe e a Medalha Tiradentes, entre outros.

Rodrigo no teatro

O currículo de Rodrigo José de Farias Lima no teatro fala por si mesmo: foi produtor dos espetáculos: Viva o Cordão Encarnado – com Elba Ramalho, Lutero Luiz, Tânia Alves, Gracinda Freire e muitos outros – e Mumu, a vaca metafísica – direção Flávio Rangel e cenografia de Gianni Ratto –, ambos em 1975; O Último carro ou As 14 estações (1976), de João das Neves, com o Grupo Opinião, dirigido pelo autor; em 1977, o musical infantil Dom Quixote de la Mancha, com Elba Ramalho no elenco; em 1978, O Mago das cores, A Revolução dos Patos (com Grande Otelo) e O Dragão e a fada, de Carlos Lyra, com direção musical do autor; em 79, O Castelo das sete torres, com Elke Maravilha; em 1980, Uma noite em sua cama (cenário de Pernambuco de Oliveira) e Flicts, de Ziraldo, adaptado por Aderbal Júnior; bem como, em 1981, Maria Palmeira Maria (corta ou não corta).

Foi assessor de produção de A Teoria na prática é a outra (1974)Lampião no Inferno (1975) – com Madame Satã no elenco –, O Santo inquérito (1976), de Dias Gomes, com Ítalo Rossi, Carlos Vereza, Cláudio Marzo e outros. No mesmo ano, foi diretor de produção de Faça do coelho rei e, em 1977, de WM na boca do túnel, de Carlos Eduardo Novaes – direção de Cecil Thiré. Foi administrador de O Bom burguês (1977); co-produtor de Vejo um vulto na janela, me acudam que eu sou donzela (1981) e diretor de A Constituinte da Nova Floresta, de Arnaldo Niskier (1985). Em 1981, em realização conjunta com Ubiratan Corrêa, foi gestor de Ensina-me a viver, adaptação e direção de Domingos Oliveira, com Henriette Morineau (substituída depois por Maria Clara Machado), além de Nathalia Timberg, Diogo Vilela e Carlos Kroeber e grande elenco.

A campanha das kombis “Vá ao teatro”

Rodrigo foi fundador e presidente da Associação Nacional dos Produtores de Artes Cênicas (Anpac) e presidiu a Associação Carioca de Empresários Teatrais (ACET), em quatro mandatos. Lá desenvolveu a campanha, criada em 1973 por Orlando Miranda, então na presidência: “Vá ao teatro, o teatro precisa de você”, chamada depois apenas de “Vá ao teatro”. Nela, kombis paravam em vários pontos da cidade, para vender ingressos a preços populares, com apoio estatal. Gerida por Rodrigo, a iniciativa alcançou grande sucesso, e serviu de modelo para outros projetos similares, em vários Estados Brasileiros, alguns desenvolvidos e realizados até hoje.

Preservando a Rua da Carioca

Rodrigo trabalhou ainda intensamente pela preservação do Corredor Cultural do Centro do Rio de Janeiro, especialmente a Rua da Carioca. Divulgando várias ações da Sociedade de Amigos da Rua da Carioca e Adjacências (Sarca) e realizou muitos eventos no local, cujo objetivo eram mobilizar a população e o Governo para a preservação do patrimônio daquela área.

Preservação de teatros, museus e circos. Estímulo a música e dança
Rodrigo também divulgava a música, através de grupos, como a Orquestra Tabajara e carreiras individuais. O “agitador cultural” (como ele mesmo dizia) foi ainda presidente da Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj), onde dinamizou os teatros e museus estaduais; lutou pela volta do circo à Praça Onze; e reativou o Concurso Estadual de Bandas de Música. Foi ainda diretor de Operações e Eventos da Riotur, quando promoveu uma revitalização do carnaval de rua (enfraquecido na época); e realizou bailes populares. Criou o Terreirão do Samba, o Palco João da Baiana e a Galeria do Samba – que registra dezenas de marcas de mãos e autógrafos de grandes sambistas. Nesse cargo, também idealizou o Arraiá do Rio, movimento organizado de dança de quadrilha, oficializando um concurso anual da modalidade.

Atuação política

Advogado por formação, Rodrigo também teve intensa atuação política. Nos anos 1960, lutou contra a ditadura militar, pela qual foi preso e barbaramente torturado. Sempre tentou levar pautas culturais às agendas dos políticos. Teve atuação marcante no primeiro Comitê da campanha Diretas já, que, movimentando todo o país, levou um milhão de pessoas à sua maior manifestação, no Rio, em 1984. Derrotado o projeto das eleições, Rodrigo apoiou fortemente a campanha de Tancredo Neves para presidente, percorrendo 37 cidades brasileiras caracterizado com a máscara “Dr. Tancredo”, confeccionada pelo escultor Zé Andrade.

Ação contínua pela arte e pela cidadania

Rodrigo Farias Lima foi debatedor dos programas Haroldo de Andrade, na Rádio Globo, e com Fernando Sergio, na Rádio Tupi. Foi comentarista de artes cênicas de um programa de cultura da antiga TVE e colunista dos jornais Última Hora, O Fluminense e O Povo do Rio. Sua última criação foi a casa de forró Malagueta, na década de 1990, freqüentada por milhares de jovens. Ali vários grupos, iniciaram suas carreiras tais como o Forroçacana; e se apresentaram artistas como Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Alceu Valença, Falamansa, Cássia Eller e Zeca Baleiro – que fez uma canção em tributo ao espaço.

Rodrigo morreu em decorrência de choque séptico por Doença de Parkinson. Deixa viúva, Renata Gonçalves, e quatro filhos. Foi sepultado dia 4 de junho, sábado, no Cemitério do Caju. Foi celebrada uma missa na quinta-feira, dia 8, na Igreja de São José, no Centro do Rio.

Um dos mais repetidos lemas de Rodrigo Farias Lima era: “Viva a vida, viva a arte e viva a cultura”. A Fundação Nacional de Artes – Funarte o homenageia aqui. Com esse objetivo, ele viveu pelo seu trabalho. E estará sempre vivo, por tudo que representou para a ação cultural brasileira.

Com informações da Enciclopédia Itaú Cultural; do site www.todoteatrocarioca.com.br, da Questão de Crítica – revista eletrônica de críticas e estudos teatrais; e do Jornal O Globo