Exposição ‘Selva’ está em cartaz na Funarte Brasília

Os artistas Analu Cunha, Carla Guagliardi, João Modé e Rochelle Costi expõem, a partir de 26 de abril, quinta-feira, na Galeria Fayga Ostrower, no Complexo Cultural Funarte Brasília, no Distrito Federal. A mostra Selva, com obras marcadamente experimentais, foi contemplada pelo Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais, que visa promover o intercâmbio de exposições por diversos estados para estimular a multiplicidade e a diversidade de linguagens e tendências da arte contemporânea. A exposição fica em cartaz até o dia 10 de junho. A entrada é gratuita e o horário de visitação é das 10h às 21h, de terça a domingo.

Além de Brasília, também recebe a exposição a capital do Acre, Rio Branco. No município da região Norte, a mostra será apresentada na galeria do SESC, onde estão previstos workshops com os artistas pelo interior do estado. A itinerância vai possibilitar incursões na floresta Amazônica, onde poderão ser produzidas novas experiências em vídeo, fotografia, materiais e outros objetos relacionados a ideia de “Selva”. A viagem dos artistas ao interior vai permitir também uma vivência imersiva nesse território e a oportunidade de troca e reflexão sobre as questões de fronteira, da biodiversidade e da globalização, a partir da experiência na floresta e seu entorno.

A escolha da cidade de Rio Branco surgiu como um contraponto à cidade de Brasília, totalmente planejada e expandida com suas cidades-satélites que, por sua vez, contam com desenho mais orgânico e caótico. Nessa coletiva, os artistas procuram criar diálogos entre obras e conceitos que se relacionem entre si e com o espaço expositivo. Procuram também pensar a ideia de selva como um lugar de alta biodiversidade, confrontando os conceitos dessa biodiversidade a uma possível ‘urbediversidade’.

A palavra selva vem do latim Silva, sobrenome que possivelmente surgiu no Império Romano para denominar os habitantes de regiões de matas ou florestas. Muitos desses habitantes se refugiaram do império justamente na Península Ibérica (onde estão localizados Portugal e Espanha). O primeiro “Silva” a fixar raízes no Brasil foi o alfaiate Pedro da Silva, em 1612. Daí em diante, o sobrenome começou a se espalhar pelo país e não parou mais, principalmente entre os escravos africanos, pois ao desembarcar eram “batizados” com o sobrenome do dono e “Silva” era muito comum em Portugal.

Os artistas e suas obras

Analu Cunha vai apresentar a videoinstalação Silva, Serpente e o vídeo digital Guariba, guarida, em que ambos refletem a ideia de selva como intrínseca e complementar aos conceitos de civilização e universalidade. O sobrenome Silva, o mais presente nas famílias brasileiras, é entendido como o selvagem que, ainda que recalcado, percorre nossos corpos sempre que o nome é falado, escrito e assinado.

Carla Guagliardi expõe a instalação O Lugar do Ar, na qual vergalhões de ferro pendem do teto através de bandas elásticas, série iniciada em 1993 que se desenvolve a partir dos conceitos de interdependência, equilíbrio precário e vulnerabilidade, conceitos esses que norteiam o trabalho da artista. Também apresenta a obra Partitura IV, (vertical), na qual peças de madeira articuladas e bolas de espuma mantêm um equilíbrio precário e vulnerável através da interdependência de suas partes. Vai exibir ainda a instalação Sete Flechas & Pena Branca, em parceria com João Modé, e que já foi apresentada em Graz, na Áustria. O trabalho consiste numa instalação centrada no áudio de uma conversa entre os dois artistas, feita com apitos de madeira. O ambiente receberá uma luz verde fluorescente pendendo de luminárias que se movimentam quase imperceptivelmente.

João Modé vai expor Floresta com Anni Albers e Willys de Castro, da série Paninhos, que são trabalhos feitos em tecido, normalmente do uso cotidiano da casa do artista (panos de cozinha, lençóis, lenços) costurados e bordados. Esta série de trabalhos começou no final de 2013 e é uma homenagem à tradição brasileira de arte construtiva. Outra obra que o artista exibe é a instalação Sem título, que apresenta um agrupamento de objetos com lâminas de vidro e lâmpadas que criam um espaço de abrigo e de diálogo entre estes objetos.

Margens, de Rochelle Costi, é uma série de fotografias que abordam a vida dos cidadãos ribeirinhos, também chamados de beiradeiros. Trata-se de uma população quase invisível que vive às margens dos rios, da floresta e subsiste da pesca, do extrativismo, do cultivo de pequenas lavouras ou da chamada marretagem (venda de produtos a bordo de embarcações). Os ribeirinhos são, na sua maioria, descendentes de sertanejos levados para a região para trabalhar na extração da borracha ou no garimpo, e que, uma vez esgotados esses ciclos, foram abandonados à própria sorte por seus patrões. Circulam com fluidez pelos rios e igarapés, por vezes trocam sua morada de lugar, pois não se consideram donos da terra que habitam, mas pertencentes a ela. Recentemente, muitos deles, naturais de regiões alteradas por projetos de exploração da Amazônia, como a Hidrelétrica de Belo Monte, foram deslocados para casas padronizadas na periferia das cidades. Jogados à margem da sociedade e incapazes de se adaptar ao modo de vida urbano, passam a conhecer a pobreza. A proposta é mostrar longas superfícies fluidas com imagens fotográficas impressas em material maleável, trazendo ao espaço expositivo a amplitude desse lugar sem endereço.

Sobre os artistas

Analu Cunha
Vive e trabalha no Rio de Janeiro. É curadora e professora de fotografia e vídeo no Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e de videoarte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Doutora em Linguagens Visuais (Universidade Federal do Rio de Janeiro e Université Sorbonne-Paris 1), participou nos anos 1990 do grupo carioca de arte contemporânea Visorama. Em 2014, lançou o livro Analu Cunha com textos de Tania Rivera, Wilton Montenegro e Elisa de Magalhães, entrevista realizada com Gloria Ferreira e imagens de seus trabalhos nos últimos 30 anos. Desde 2004, trabalha com videoarte e pesquisa as interfaces nos elementos constitutivos do audiovisual.

Carla Guagliardi
Vive e trabalha entre Berlim e Rio de Janeiro. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e fez o curso de Especialização em História da Arte e Arquitetura no Brasil, na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Foi membro fundador do grupo Visorama, que promoveu debates acerca de arte contemporânea entre o final dos anos 1980 e a década de 1990. Participou de várias residências artísticas, entre elas: Künstlerhaus Bethanien, Berlim, 1999; HIAP/Cable Factory, Helsinki, 2001; Khoj, Mysore, 2002 e Villa Aurora, Los Angeles, 2007. Sua trajetória artística resulta de uma pesquisa predominantemente escultórica focada em diversas ideias, mas que tem o tempo como o seu principal agente.

João Modé
Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Seu trabalho articula-se por uma noção plural de linguagens e espaços de atuação. Participou da 28ª Bienal de São Paulo [2008], da 7ª e 10ª Bienal do Mercosul [2009/2015] e da Trienal de Aichi, Nagóia [2016]. Alguns projetos, como REDE – desenvolvido em diversas cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Berlim, Stuttgart, Rennes – e Constelações envolvem a participação direta do público. Participou dos Panoramas da Arte Brasileira de 2007 e 2017. Formado em Arquitetura e Programação Visual, com mestrado em Linguagens Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi membro fundador do grupo Visorama, que promoveu debates acerca das questões da arte contemporânea entre o final dos anos 1980 e a década de 1990.

Rochelle Costi
Vive e trabalha em São Paulo. Trabalha com fotografia, vídeo e instalação. Sua concepção de fotografia como forma de colecionar é refletida diretamente em seu trabalho, geralmente organizado em séries. A artista mistura fotografias com outras formas de expressão artística e muitas vezes as leva para a instalação. Trabalha com escalas diferentes e as confronta em suas imagens. Joga com pontos de vista causando certo estranhamento e desconforto, sensações que nos prendem em suas imagens e nos fazem refletir sobre elas. Impossivel vê-las, é preciso olhá-las.

Serviço:

Exposição Selva
Analu Cunha|Carla Guagliardi|João Modé|Rochelle Costi

Abertura: 26 de abril de 2018, quinta-feira, às 19h
Visitação: 27 de abril a 10 de junho de 2018 (de terça-feira a domingo, das 10h às 21h)
Classificação Indicativa: Livre
Entrada Franca

Galeria Fayga Ostrower – Complexo Cultural Funarte Brasília
Eixo Monumental, Setor de Divulgação Cultural (entre a Torre de TV e o Centro de Convenções) – Brasília (DF)
Telefone: (61) 2099-3076 / 2099-3079

Este projeto foi contemplado pelo Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais