No dia 13 de abril tem início, na Sala Carlos Miranda, a ocupação Garimpar em Minas Negras Cantos de Diamante. Em cartaz até 29 de abril, o projeto apresenta ações que fazem parte de uma pesquisa sobre cantos de origem africana – realizada no Alto Jequitinhonha, norte de Minas Gerais. Além do espetáculo Episódio I: Uenda-congembo (morrer), apresentado sextas (exceto dia 20) e sábados, às 21h, e domingos, às 19h, as atividades envolvem ensaios abertos e rodas de conversa.
Episódio I: Uenda-congembo (morrer) aborda as tensões étnicas e a busca de identidade cultural vividas atualmente. O espetáculo parte do diálogo criativo com os vissungos, cantos de tradição centro-africana antigamente entoados na região do Alto Jequitinhonha, em Minas Gerais. A peça tem como pano de fundo o ambiente da mineração do diamante e as procissões dos enterros – práticas sociais em que esses cantos se desenvolveram. Em meio ao jogo entre memórias pessoais, dados históricos e metáforas poéticas, é traçado um caminho que visa a reconstruir a relação entre ancestralidade e atualidade. Essas questões se apresentam no corpo e na vida interior do ator, que, sozinho em cena, trafega por diferentes figuras presentes no universo dos antigos cantos e em seu universo íntimo, criando uma autoetnoficção.
O espetáculo propõe uma reflexão: em suas últimas horas, uma pessoa pode ser tudo o que não sabe. Se for negra, pode experimentar ser branca; se não for negra nem branca, pode experimentar ser um pardal. Se for moça, pode experimentar ser velha; se não for moça nem velha, pode experimentar ser uma raiz. Sendo homem, pode experimentar ser mulher; não sendo homem nem mulher, pode experimentar ser uma criança. Quando um canto antigo se tornar o único meio de se lembrar de sua história, será necessário, então, que ela busque estar acordada também dentro de seus sonhos. Que não durma antes do sol raiar, senão todos os diamantes que inocentemente escondeu do tempo, em algum lugar secreto, virarão carvão e queimarão sem calor ou se tornarão o grafite para seu Livro da Vida, mas aquele que não escreveu com o próprio punho.
O projeto Garimpar em Minas Negras Cantos de Diamante se desenvolve a partir da pesquisa criativa sobre o repertório de vissungos, registrados em partituras e gravações (fonográficas e audiovisuais). Também são abordados os aspectos histórico-sociais e mitopoéticos que envolvem esses antigos cantos. O interesse sobre o tema teve origem na experiência de Luciano Mendes de Jesus como performer no Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards (Pontedera/Itália), na equipe do Open Program, grupo com o qual desenvolveu, de 2013 a 2015, espetáculos tendo por base cantos do sul dos Estados Unidos. De volta ao Brasil, o ator continuou aprofundando sua pesquisa sobre a integração entre cena e música a partir de materiais tradicionais. Com os vissungos, descobriu um dos elementos mais antigos de matriz africana do Brasil e seu elo com a construção da identidade cultural do país, expressa, sobretudo, na influência sobre a língua portuguesa brasileira e a música popular.
O objetivo final é a criação da Trilogia Vissungueira, composta por: Episódio I: Uenda-congembo (morrer), Episódio II: Mileke entre Pedras e Piercings (baseado em fatos reais da vida do último mestre vissungueiro, Ivo Silvério da Rocha) e Episódio III: Banzo e os Filhos dos Antigos (em processo de criação, baseado na relação entre melancolia e tradição). A pesquisa e a criação do espetáculo Episódio I: Uenda-congembo (morrer) foram realizados com o apoio da Bolsa Funarte de Fomento para Artistas e Produtores Negros, em 2016.
Sala Carlos Miranda – Complexo Cultural Funarte SP
(Alameda Nothmann, 1058, Campos Elíseos, São Paulo, SP)
Projeto: Garimpar em Minas Negras Cantos de Diamante
Espetáculo: Episódio I: Uenda-congembo (morrer)
De 13 a 29 de abril (exceto dia 20). Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 19h.
Ingressos: R$ 20 (meia-entrada: R$ 10) – Cartões não são aceitos
A bilheteria abre uma hora antes do espetáculo.
Duração: 75 minutos. Classificação etária: 14 anos.
Conversas Rituais: Construir Identidade em Etnoficções
Ensaio aberto dos solos Corpo-Negro, Corpo-Preso, de Inessa Silva e Oba nu Mun, com Lucia Kakazu, seguido de bate-papo
Dia 20 de abril. Sexta, às 21h.
Entrada franca
Conversa: Canjica Histórica: O banzo na história brasileira e a melancolia como afeto criativo na cultura afro-diaspórica, com Ana Maria Oda e Salloma Salomão
Dia 28 de abril. Sábado, às 16h30.
Entrada franca
Ficha técnica:
Atuação, direção, dramaturgismo e concepção sonoro-musical: Luciano Mendes de Jesus | Iluminação: André Mutton | Operação de luz: Jean Rocha/Marisa Mariano | Fontes textuais: Auguste de Saint-Hilaire, Aires da Mata Machado Filho e José Craveirinha | Orientação artística: Pedro Pires (Companhia do Feijão) | Orientação teórica: Sônia Queiróz | Produção: Pâmela Santos | Fotografia: Bea Costa | Filmagem: Donizete Bomfim (Cine Favela) | Arte gráfica: Stela Ramos
Mais informações:
(11) 3662-5177
(11) 3822-5671 (bilheteria – abre uma hora antes do espetáculo)
funartesp@gmail.com