Virginia de Medeiros expõe ‘Studio Butterfly e outras fábulas’ na Funarte Brasília

A exposição Studio Butterfly e outras fábulas, de Virginia de Medeiros, estreia no dia 30 de agosto, quinta-feira, às 19h, na Galeria Fayga Ostrower, no Complexo Cultural da Funarte, em Brasília (DF). A mostra, contemplada pelo Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais, reúne instalações, vídeos e fotografias, através dos quais a artista se lança a encontrar novos modos de ler a realidade. A visitação ao público vai até 14 de outubro, sempre de terça a domingo, das 10h às 21h, com entrada gratuita.

Studio Butterfly e outras fábulas contém cenas de nudez e reúne quatro obras: “Studio Butterfly” (2003-2006), “Cais do corpo” (2015), “Manilas Bar – Casa da Marinalva” (2014), e “Sergio e Simone # 2” (2007-2014). Segundo Virginia, os pilares dos seus trabalhos são sexualidade, gênero e religião. “Meu trabalho fala de políticas do afeto e de economia do cuidado. É o que me move”, explica. As obras apresentam uma perspectiva do encontro com o outro e do aprofundamento dessa vivência que exige uma intensa troca de referências e de afetos. Sendo assim, a artista mergulha, se envolve e participa da vida das pessoas com quem convive.

Para realizar a obra “Studio Butterfly”, que dá nome à exposição, Virginia se relacionou por três anos com travestis de Salvador (BA). A videoinstalação apresenta o registro de testemunhos dados por várias travestis em visita ao estúdio fotográfico montado pela artista para acolhê-las. São depoimentos permeados por lembranças das fronteiras entre o masculino e o feminino. Em retribuição à cessão de imagens das travestis, Virginia produziu books para cada uma delas. Paralelamente à exibição do vídeo, projeções sequenciadas de fotografias retiradas desses books e de álbuns pessoais das travestis são instaladas: imagens das mesmas pessoas, mas feitas em condições e momentos distintos.

“Sergio e Simone # 2” reforça o embaralhamento de gêneros sugerido na obra anterior e acrescenta ambiguidades identitárias que desconcertam e ensinam. O trabalho mostra, em telas distintas que por vezes se atravessam, depoimentos de duas personagens que são, ao final, uma pessoa apenas. Simone, uma travesti que tomava conta de uma fonte pública na Ladeira da Montanha, na capital baiana, foi o foco de Virginia em um primeiro momento. No entanto, após um delírio místico causado por overdose de crack, Simone decide abandonar a fonte. Volta para a casa dos pais, reassume seu nome de batismo, Sérgio, e se torna pregador evangélico, renegando a vida que antes levava, denunciando-a como provação de sua nova fé. A partir de então, a artista passa a filmar Sérgio, cujo comportamento parece conflitar em quase tudo com o de Simone, da sexualidade declarada às religiões que um e outro professam.

A terceira obra separa solidão e partilha, calmaria e desassossego, transgressão e obediência, entre outros pares de estados e fazeres tantas vezes distinguidos de modo artificial. Formada por um vídeo e quatro fotografias, “Manilas Bar – Casa da Marinalva” é um trabalho que foi comissionado pelo Museu de Arte do Rio (MAR). “A obra retrata o bordel de Marinalva, seu fechamento e o desaparecimento dessas pessoas e desses espaços de resistência. Mostra o processo de gentrificação, de higienização humana e de como não são pensados projetos sociais para a inclusão daquelas pessoas que já ocupavam os locais”, conta Virginia.

A quarta e mais recente obra apresentada na exposição é “Cais do Porto”. Feita a partir de imagens e falas de prostitutas que vivem e trabalham no entorno da Praça Mauá, zona portuária do Rio de Janeiro, a obra mostra o local que foi objeto de radical intervenção urbanística na última década. Em comum com o trabalho anterior, há a vontade de registrar um tipo de vida em progressivo desmanche, dessa vez claramente acelerado pelo processo de gentrificação causado pelas mudanças implementadas na região. Em seus depoimentos, as prostitutas denunciam os mecanismos explícitos e velados de expulsão de um território. As falas das prostitutas são acompanhadas por imagens de corpos seminus que dançam e afirmam, em sensualidade contida ou aberto erotismo, a vontade de confrontar e resistir às forças que as querem regular.

Curador da exposição, Moacir dos Anjos define o trabalho de Virginia: “É obra feita de histórias inventadas para falar de pessoas e coisas que lhe importam e lhe movem. Histórias que, para tanto, recortam a realidade de um modo distinto da maior parte de outras narrações de fatos: histórias que acolhem o que é comumente deixado de fora ou à margem por versões concorrentes do tempo e do lugar que habita.”

Itinerância

Após a temporada em Brasília, a exposição Studio Butterfly e outras fábulas segue para Vitória, no Espírito Santo, como parte da itinerância do Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais. Na capital capixaba, a mostra da artista Virginia de Medeiros será apresentada na Casa Porto das Artes Plásticas, com abertura no dia 20 de novembro e visitação de 21 de novembro de 2018 a 6 de janeiro de 2019.

Sobre a artista

Virginia de Medeiros é artista visual e educadora, mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ao longo de sua trajetória, realizou cerca de 60 exposições nacionais e internacionais, entre elas: 2017/2018 –História da Sexualidade, MASP [São Paulo, SP]; 2017 – Jogja Biennale XIV, Yogyakarta, Indonésia; 2016 – La réplica Infiel, Centro de Arte 2 de Mayo [Madri, Espanha]; 2015 – Rainbow in the dark: no joy e tormento of Faith, Malmö Konstmuseum [Malmö, Suécia]; 2014 – Salón de Belleza [Beauty Salon], Utopian Pulse – Flares in the Darkroom [Viena, Áustria]; 2014 – 31ª Bienal de São Paulo: como (…) coisas que não existem. Pavilhão da Bienal [São Paulo, SP]; 2006 – 27ª Bienal Internacional de São Paulo Como Viver Junto, Pavilhão da Bienal [São Paulo, SP], entre outras. Em 2015, ganhou o Prêmio PIPA voto popular e júri; foi artista premiada na 5ª Edição Prêmio Marcantonio Vilaça CNI / Sesi / Senai. Como educadora, ministrou inúmeras oficinas em instituições de arte e fundações, como Associação Cultural Videobrasil [São Paulo, SP], Universidade Federal da Bahia [Salvador, BA], Escola de Arte Visuais Parque Lage [Rio de Janeiro, RJ], Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre [Porto Alegre, RS], Museu de Arte do Rio de Janeiro – MAR [Rio de Janeiro, RJ] e Museu de Arte Contemporânea – MAC/USP [São Paulo, SP]. Foi coordenadora do curso de pós-graduação em Artes Visuais: Cultura e Criação da Rede-EAD, Senac, Bahia [2008/2009] e professora substituta do Departamento de História da Arte e Pintura na Escola de Belas Artes – UFBA, também em Salvador [BA].

Serviço:

Exposição Studio Butterfly e outras fábulas

Artista: Virginia de Medeiros
Curador: Moacir dos Anjos

Galeria Fayga Ostrower – Complexo Cultural Funarte Brasília
Eixo Monumental, Setor de Divulgação Cultural, Brasília – DF (entre a Torre de TV e o Centro de Convenções)
Abertura: 30 de agosto de 2018, quinta-feira, às 19h
Visitação: de 31 de agosto a 14 de outubro de 2018, de terça-feira a domingo, das 10h às 21h

Telefone: (61) 2099-3076 / (61) 2099-3079

Entrada franca

Este projeto foi contemplado pelo Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais