O presidente da Fundação Nacional de Artes – Funarte, maestro Dante Mantovani, anunciou, nesta quinta-feira, dia 16 de janeiro, em uma entrevista coletiva à imprensa realizada na sede da instituição, no Rio de Janeiro, o plano de ações para 2020: o programa Funarte 45 anos. Para dinamizar a atuação da Funarte, nas áreas de música, circo, dança, teatro, artes visuais e artes integradas, a nova gestão pretende dar às políticas públicas do setor um novo direcionamento, voltado para o benefício direto à população e para o desenvolvimento econômico e social. O evento contou com a presença de diversas autoridades ligadas à área da Cultura, além de jornalistas, diretores, coordenadores e funcionários da instituição.
Durante o lançamento do programa, Dante Mantovani informou que, nos próximos dias, será aberto o Edital Prêmio Funarte de Apoio a Bandas de Música 2020, uma das ações retomadas pela nova gestão, após sete anos de interrupção. O Prêmio vai permitir a distribuição gratuita de instrumentos de sopro a bandas de música, visando à manutenção destas, assegurando a continuidade das suas apresentações e, consequentemente, provocando a elevação de seu nível técnico. Serão distribuídos 790 instrumentos de sopro a 158 projetos.
O programa Funarte 45 anos pretende também realizar importantes parcerias, como as já implementadas com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBCT). A proposta é descentralizar os projetos artísticos das grandes cidades; valorizar artistas iniciantes; e promover o benefício direto à população. O estímulo à economia é outra meta a ser alcançada através do impulsionamento da cadeia produtiva das artes – contemplada na produção; na qualificação e valorização dos artistas e técnicos; e na formação de público – para que todo o país usufrua mais da arte e para que o consumo cultural, nos diversos setores artísticos, seja fortalecido.
Para o presidente da Funarte, o novo programa está em sintonia com o histórico da instituição, que comemora 45 anos em 2020. “Vamos reforçar e ampliar as linhas mestras das ações e incentivo da Fundação, com alguns diferenciais importantes. Queremos revitalizar a entidade e atuar com vigor para realizar e estimular ações práticas, que beneficiem diretamente a sociedade. Pretendemos que a Funarte seja a vitrine da cultura no país. Por meio dela, mostraremos aos brasileiros e a todo o mundo um Brasil pujante, diverso e vitorioso”, afirma Dante Mantovani. “Fui muito bem recebido ao chegar à instituição, em dezembro de 2019. Estamos com uma equipe harmônica e muito competente, que desenvolverá políticas e programas de excelência”, comemora.
Dante Mantovani destacou também os projetos voltados para estimular a economia e que tragam benefício para a sociedade: “Outro importante foco da Fundação será o incentivo às artes como atividade econômica e de progresso social. Assim, os projetos foram planejados para dinamizar os principais elos dessa cadeia produtiva artística: a ação dos empreendedores da arte; o trabalho do artista; o consumo cultural e a formação de público”. E acrescentou: “O enorme potencial que tem as artes para o impulso à economia do país está associado ao valor social desse crescimento – no estímulo ao empreendedorismo nas artes; ao trabalho e à renda do artista e do técnico; e, ainda, ao consumo cultural, à formação de plateias e à educação artística, sempre necessária”, detalha o presidente.
Para o presidente, a arte ainda é muito dependente do Estado. “Os artistas hoje são muito dependentes do fomento estatal. Consideramos que esse fluxo tenha que sair do Estado, pelo menos em parte. Por causa dessa concentração excessiva aconteceram distorções de direcionamento de dinheiro público para artistas milionários. Isso, no meu entendimento, é equivocado. Temos que usar verbas públicas para o artista iniciante, não para o já consagrado. Além disso, quando os governos têm papel muito forte na promoção da arte, sempre ocorre uma espécie de ‘ideologização da arte’. Esse não é o papel do Estado”, defende. O maestro diz que a única forma de resolver esse problema é incentivar a cadeia produtiva das artes – produção, trabalho de artistas e técnicos e consumo. “É esse aspecto da produção artística que a Funarte vai fortalecer. Afinal, se os artistas estiverem no mercado, eles não necessitarão do apoio estatal. Temos que fazer com que a arte faça parte da vida das pessoas”.
Segundo a secretária de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, Danielle Barros, a parceria com o governo federal será de extrema importância para o desenvolvimento cultural e econômico da população, principalmente dos jovens. “Nós ficamos muito animados com o que ouvimos aqui na explanação. Nós somos do Estado do Rio de Janeiro e estamos pertinho do órgão que vai fazer a gestão dos recursos federais para a Cultura. Esperamos que o Estado do Rio de Janeiro caiba dentro desse planejamento e possa ser agraciado. Que a Cultura, assim como os seus equipamentos e o que gente produz de arte, também sejam fortalecidos. Nós temos uma demanda de fortalecimento da economia criativa, que é uma economia pulsante, garantindo que jovens de 18 a 29 anos possam encontrar os seus caminhos. A gente espera estabelecer uma relação de parceria com o governo federal para que os jovens alcancem seus mercados e a arte alcance o seu lugar”, ressalta Danielle.
O secretário Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, Adolfo Konder, também compareceu ao evento e ressaltou a importância de ações deste tipo para alavancar a Cultura não só aqui na cidade do Rio de Janeiro, mas em todo o Brasil. Para Fernando Bicudo, diretor de ópera, os planos de Dante Mantovani para a democratização da arte, em especial, na área da música clássica, são extremamente positivos. “Em primeiro lugar, quero dar os parabéns para o presidente Dante Mantovani. Porque, além de ter feito uma transparência de seus planos para 2020, ele conquistou toda a plateia com o brilhantismo de suas propostas. E eu, como diretor de ópera, ex-diretor do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, fiquei muito feliz com o que ele disse. Pela primeira vez, eu ouvi um presidente falar em ópera, um presidente da Funarte! Saber os planos que ele tem de interiorização e popularização da música e da Cultura para todo o Brasil, que não é só Rio de Janeiro. Nós temos que pensar num país como todo e essa preocupação ficou muito evidente em suas palavras”, enfatiza Bicudo.
A imprensa questionou sobre os projetos relacionados às outras áreas de atuação da Funarte. A diretora do Centro de Artes Visuais da Fundação, Leila Santos, foi convidada pelo presidente para expor as próximas ações nesse segmento. “Um dos nossos projetos é o Um Novo Olhar, voltado para adolescentes com necessidades educacionais especiais. O projeto abrange e difunde diferentes linguagens dentro das artes visuais. E, além disso, estamos com projetos para editais de chamamento e trabalhando com a questão da Rio Cidade 2020. Para integrar o reforço da arquitetura e do urbanismo para esta data e a prática das ações visuais ligadas à paisagem urbana e aos edifícios históricos”, explicou Leila. A diretora ainda ressaltou que outros projetos nesta área estão em andamento e serão anunciados em breve.
“Há mais ou menos 12 anos, as regionais não recebem recursos para investirem em seus projetos. Vamos continuar recebendo as ocupações, como acontece ultimamente, mas vamos dar oportunidade para que os outros setores da Funarte possam mostrar o seu trabalho. Assim, como todas as outras áreas da instituição, como teatro, circo, dança e música”, ressalta a Funarte.
As ações anunciadas pela Funarte foram elogiadas pelo secretário Especial Municipal de Turismo do Rio de Janeiro, Paulo Jobim. “Eu fiquei muito impressionado com tudo que vi e ouvi. Achei o plano interessante, pé no chão e oportuno. A Funarte está no caminho certo. E nós, Prefeitura do Rio, vamos ser um parceiro interessante para trabalhar com a Funarte. Tanto é que ela é o único órgão federal que faz parte do Conselho Municipal de Turismo. Principalmente porque, neste ano de 2020, o Rio de Janeiro acaba de receber uma titulação inédita: 1ª Cidade Capital Mundial da Arquitetura. Esse título vai trazer dois grandes eventos de importância extraordinária, em julho: o 27º Congresso Mundial de Arquitetos e o Fórum Mundial de Cidades. O Rio de Janeiro será a sede de um debate que vai interessar a toda humanidade, atraindo os formadores de opinião, arquitetos e paisagistas do mundo inteiro. Vai ser discutido, aqui no Rio, o futuro das metrópoles. É tudo que as pessoas precisam, já que 70% da população mundial vivem nas metrópoles. E nesse palco de discussão, a Funarte vai estar ao nosso lado, incluindo isso em sua programação. Eu estou muito confiante no trabalho da Funarte”, comemora Jobim.
Sobre o trabalho da Fundação Nacional de Artes, em relação à difusão da arte, formação de público e apoio à educação, o presidente Dante Mantovani salientou: “A formação de público é uma das missões mais importantes da Funarte. O público representa um dos importantes elos da cadeia produtiva artística. Afinal, a arte se destina a ele e é ele quem a consome e/ou dela usufrui. Além disso, a qualificação de novas plateias é fundamental. Queremos que os alunos se formem no ensino médio e saibam o nome de grandes artistas, como Carlos Gomes, Heitor Villa-Lobos, Machado de Assis, José Maurício Nunes Garcia e assim por diante. Temos que fazer com que nossos grandes artistas sejam conhecidos e sejam estudados na escola. Porque, hoje em dia, os jovens sabem tudo o que está na mídia (cantores da moda, por exemplo) e isso é muito estimulado, mas não conhecem a história da arte. Precisamos valorizar nossa memória, inclusive para intensificar nosso sentimento patriótico. Não existe nação sem cultura. As pessoas precisam conhecer nossa cultura e nossas origens. A arte também é importante para que as pessoas conquistem, desenvolvam e mantenham essa memória nacional. Os artistas são heróis da nação em todo lugar, mas, no Brasil, há uma estranha peculiaridade: os grandes artistas, muitas vezes valorizados no exterior, geralmente são pouco conhecidos em seu próprio país”, argumenta Mantovani.
Em relação à infraestrutura e a manutenção dos editais, o maestro Dante Mantovani, fez um pequeno resumo das ações:
Infraestrutura – “Alguns prédios no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal exigem cuidados especiais e imediatos. Já iniciamos um grupo de trabalho conjunto com o secretário de Infraestrutura da Secretaria Especial da Cultura para discutirmos providências e medidas emergenciais de preservação desse patrimônio. Também estamos formulando parcerias nesse sentido, primeiramente com universidades. Sem essas reformas, até nossos acervos correm sérios riscos.
Editais – “Assim como todos os processos da Funarte, os editais seguem um elevado padrão técnico. Na minha gestão, para todas as ações, projetos e programas, priorizaremos ainda mais os critérios técnicos. Isso, é claro, inclui o que será realizado por meio de editais. Em linhas gerais, a Funarte continuará seguindo os mesmos procedimentos para esses programas, cabendo às diretorias das áreas-fim artísticas a responsabilidade pela curadoria”.
O presidente Dante Mantovani também afirmou que a Funarte está aberta para a comunidade artística. “Já coloquei a Funarte à disposição de artistas e produtores, para que eles apresentem os seus projetos. Estamos totalmente abertos ao diálogo. Aliás, ele já está ocorrendo com muita naturalidade e positividade”, conclui o presidente.
Além dos citados na matéria, o evento também contou com a presença de diversas personalidades, como: Marcelo Jardim, vice-diretor da Escola de Música da UFRJ, que detalhou os projetos que serão trabalhados em parceria com a Funarte; André Cardoso, maestro da Orquestra da UFRJ e professor de regência da Escola de Música da UFRJ; Natália Bolfarini Tognoli, professora de Arquivologia do Departamento de Ciência da Informação da UFF, que também fez um breve resumo do trabalho da universidade com a Fundação; Leonardo Castriota, professor-titular da UFMG; Cyro Pereira, vice-presidente da Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro; Matheus Quintal, chefe do Escritório Regional Sudeste, e Maria das Graças Madureira, coordenadora, ambos do Ministério da Cidadania; Vera Mangas, chefe do Escritório de Representação Regional do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) no Rio de Janeiro; Manoel Vieira, superintendente do IPHAN no Rio de Janeiro; Cláudia Quintanilha, da Eletrobras; Roberto Barcelos, representante do Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro; Kay Lira, cantora e compositora, dentre outros convidados e parceiros.