Sérgio Ricardo

Sérgio Ricardo - Foto de Victor Magrath

A Fundação Nacional de Artes – Funarte lamenta a morte do artista Sérgio Ricardo, ocorrida nesta quinta-feira, 23 de julho, no Rio de Janeiro. Sérgio tinha 88 anos e estava internado desde abril, quando contraiu covid-19, se recuperou da doença, mas teve uma insuficiência cardíaca. Mais conhecido como grande compositor e cantor, sua contribuição para a cultura brasileira se estende também por outras linguagens artísticas, às quais emprestou seu talento como autor teatral, ator, diretor de cinema, pintor e escritor.

Uma trajetória iniciada na cidade de Marília (SP), onde nasceu e cresceu em um ambiente musical: a mãe cantava e o pai tocava alaúde. Aos oito anos, começou a estudar piano no Conservatório da cidade. E foi com o instrumento que, depois de seu primeiro trabalho como discotecário, locutor e operador de som na Rádio Cultura de São Vicente (SP), se lançou na vida artística.

Relembre aqui a homenagem ao músico feita pelo programa Estúdio F, da Funarte.

No início da década de 1950, Sérgio Ricardo iniciou sua carreira profissional como pianista em casas noturnas do Rio de Janeiro, para onde havia se mudado. O sucesso nas boates o levou a se arriscar também como cantor e a fazer as primeiras composições: a primeira delas a ser gravada foi a canção romântica Buquê de Isabel, lançada pela cantora Maysa em março de 1958. Já pela Odeon, sairia em 1960 seu primeiro disco solo, A bossa romântica de Sérgio Ricardo, com interpretações dele para músicas de sua autoria, entre elas a já citada Buquê de Isabel e seu primeiro sucesso, o samba Zelão.

A essa altura, já não atendia mais pelo nome de batismo, João Lutfi, que ficou restrito à sua certidão de nascimento depois que a criação de um nome artístico foi posta como condição para um contrato que assinou com a Rádio e TV Difusora, ainda na década de 1950. Já como Sérgio Ricardo, fez sucesso também no cinema, dirigindo filmes como Menino da Calça Branca (1961), segundo lugar no Festival de Cinema de São Francisco (EUA), e Esse Mundo é Meu (1964), para o qual escreveu o samba homônimo, grande sucesso na voz de Elis Regina.

Também de 1964 é a trilha sonora que compôs para um dos maiores clássicos do cinema nacional, Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. Outros filmes do cineasta baiano que contaram com trilhas compostas por Sérgio Ricardo foram “Barravento” (1962), “Terra em Transe” (1967) e “O Santo Guerreiro contra o Dragão da Maldade” (1969).

Neste mesmo período, também marcou presença nos festivais da canção que, transmitidos pela televisão, mudaram a história da música brasileira. Sua lembrança mais marcante desta fase, no entanto, é uma das imagens mais fortes da época: Sérgio interpretava o samba Beto bom de bola no Terceiro Festival de Música Popular Brasileira, realizado em 1967 pela TV Record de São Paulo, mas as vaias da plateia eram tão ensurdecedoras que ele não conseguia ouvir seu próprio som, nem o da orquestra que o acompanhava. Ainda tentou conversar com a plateia do Teatro Paramount, mas sem sucesso acabou quebrando seu violão no palco e jogando o instrumento ao público, aos gritos: “Vocês venceram!”

Não à toa, deu o nome de Quem Quebrou meu Violão ao livro de memórias que lançou em 1991. Como escritor, publicou também livros de poemas, como Elo: ela (1980) e Canção calada (2019). No teatro, destacam-se as composições que fez para balés como Estória de João-Joana (feito a partir de um cordel de Carlos Drummond de Andrade) e Flicts (da obra de Ziraldo). Das peças que escreveu, um dos destaques é a peça Bandeira de retalhos (depois transformada em filme), com história ambientada no Morro do Vidigal, comunidade da Zona Sul carioca onde vivia desde 1977.

(Texto: Pedro Paulo Malta – Coordenação de Difusão e Pesquisa da Funarte)