Um dos nomes brasileiros mais reconhecidos mundialmente, o compositor, pianista e maestro Tom Jobim completaria 94 anos nesta segunda-feira, dia 25 de janeiro. Na data se comemora o Dia Nacional da Bossa Nova, como um tributo ao músico. Nascido em 1927, no Rio de Janeiro, e falecido em 1994, em Nova York (EUA), Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim foi eternizado por composições como “Chega de saudade”, “Garota de Ipanema” (ambas com Vinicius de Moraes), “Desafinado” (com Newton Mendonça) e “Águas de março”. O artista deixou sua marca na história da Fundação Nacional de Artes – Funarte, participando de um disco, produzido pela instituição, em homenagem a outro grande maestro brasileiro, o gaúcho Radamés Gnattali (1906-1988).
Intitulado simplesmente “Radamés Gnattali”, o álbum foi lançado em 1985. Trouxe interpretações do próprio homenageado ao piano; e também músicas dedicadas ao compositor e arranjador, natural do Rio Grande do Sul (1906 – 1988). As peças foram compostas por amigos e discípulos do maestro (veja fotos e ouça os áudios aqui). São eles o sambista e chorão Paulinho da Viola, o mestre do frevo Capiba (apelido e nome artístico de Lourenço Barbosa).
Tom comparece no repertório com o choro “Meu amigo Radamés”, primeira faixa do long-play, interpretada nos pianos do próprio compositor e de Radamés. A gravação histórica, realizada na Sala Cecília Meirelles, em 30 de outubro de 1984, foi registrada no documentário “Nosso amigo Radamés”, de Aluísio Didier e Moisés Kendler (assista aqui). O disco prossegue com a retribuição do compositor gaúcho, que, na faixa dois, interpreta ao piano “Meu amigo Tom Jobim”, um galope, de sua autoria, gravado em dueto com Chiquinho do Acordeom. As músicas foram dois pontos altos do LP.
O disco prestou justa homenagem a Radamés Gnattali, que tanto contribuiu para a música popular brasileira, fosse na criação de peças eruditas, como a “Sinfonia popular”; ou na direção musical de programas da Rádio Nacional; ou na composição arranjos históricos para sambas como “Aquarela do Brasil” (Ary Barroso) e “A voz do morro” (Zé Kéti); ou, ainda, tocando choros com os jovens músicos da Camerata Carioca – conjunto o qual, aliás, também participa do disco-tributo.
Ao lado de Villa-Lobos, Pixinguinha e outros, Radamés esteve entre as principais referências da formação musical de Tom Jobim. Quem apresentou os dois foi o pianista espanhol Tomás Terán, que deu aulas a Tom no fim dos anos 1940. Mas a amizade entre os dois músicos só se estreitou na década seguinte, quando eles trabalharam como arranjadores na gravadora Continental, então dirigida pelo compositor Braguinha. Em 25 de janeiro de 1955, quando Jobim completou 28 anos, Gnattali prestou-lhe homenagem convidando para participar de um dos principais programas de rádio da época, “Quando os Maestros se Encontram’”, regendo a orquestra da Rádio Nacional, na execução da peça sinfônica “Lenda”, de Jobim.
Outra bela honraria de Tom a esse mestre é o poema que lhe dedicou, também em 1985. Não foi apenas um gesto de gratidão, mas também um registro da bela amizade que esses dois artistas celebraram:
“ Meu amigo Radamés é a coisa melhor que tem
É um dia de sol na floresta, é a graça de querer bem
Radamés é água alta, é fonte que nunca seca
É cachoeira de amor, é chorão, é rei da peteca
Deu sem saber que dava e deu muito mais que tinha
Multiplicaram-se os pães, multiplicou-se a sardinha
O Radar é concertista, compositor, pianista, orquestrador, maestrão
E, mais que tudo, é amigo, navega junto contigo
É constante doação
Ajudou a todo mundo, e mais ajudou a mim
Alô Radamés, te ligo
Aqui fala o Tom Jobim
Vamos tomar um chope
Te apanho na mesma esquina
Já comprei o amendoim “
Texto: Pedro Paulo Malta – Codip – Funarte
Edição: CCOM – Funarte