Um pouco da vida e da obra de Arthur Bispo do Rosario

Crédito das imagens: Museu Bispo do Rosário

A Fundação Nacional de Artes – Funarte homenageia o artista plástico Arthur Bispo do Rosario (1909-1911 – 1989) neste mês de março. Com poucos registros sobre a infância do artista, um dos documentos indica o nascimento dele no dia 16 de março de 1911. Bispo desenvolveu criação em artes visuais a partir de objetos do cotidiano das instituições psiquiátricas em que viveu internado. Entre trabalhos como bordados e aplicações de objetos uns sobre outros, ganhou exposições de arte no Brasil e no exterior. Também virou tema de livros, montagem teatral, filmes e desfiles de carnaval. Em 1995, por exemplo, trabalhos seus representaram o Brasil na 46ª Bienal de Veneza. Em 2018, o conjunto de suas obras foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

De acordo com a ficha de uma empresa onde Bispo trabalhou, ele nasceu em 16 de março de 1911, em Sergipe, filho de Adriano Bispo do Rosario e Blandina Francisca de Jesus. Entretanto, em registro da Marinha de Guerra do Brasil, de 1929, o nascimento de Bispo do Rosario está registrado no dia 14 de maio de 1909, em Minas Gerais – com a mesma filiação. Já um documento encontrado no Município de Japaratuba (Sergipe) atesta o batismo de uma criança de três meses, nomeada Arthur, no dia 5 de outubro de 1909, filha de Claudino Bispo do Rosario e Blandina Francisca de Jesus.

Da Marinha até a “revelação”

Pouco se sabe sobre a infância de Bispo do Rosário. Ele frequentou a Escola de Aprendizes Marinheiros em 1925 e, no ano seguinte, foi para a cidade do Rio de Janeiro. Lá, se alistou na Marinha, onde permaneceu por nove anos. Na Força Naval, descobriu o boxe, sendo aplaudido pela atividade. Depois, abandonou a carreira militar, por atritos ocorridos. Passou a trabalhar como lavador de bondes e investiu na atividade de pugilista. Em 1936, sofreu um acidente e teve o pé esmagado pela roda de um coletivo, ficando, assim, inapto para a prática esportiva.

Posteriormente, trabalhou durante anos como empregado doméstico, na casa do advogado Humberto Leone, onde teve uma “revelação”, na noite de 22 de dezembro de 1938 — se viu descendo do céu, acompanhado por sete anjos, que o deixaram na “casa nos fundos murados de Botafogo”. Bispo perambulou durante dias até chegar ao Mosteiro de São Bento, localizado no Centro do Rio de Janeiro. Lá, se apresentou aos frades como “aquele que veio julgar os vivos e os mortos”. Encaminharam-no ao hospício da Praia Vermelha, de onde ele foi transferido para a Colônia Juliano Moreira.

Internação e atividade artística 

Desde então, Bispo do Rosário passou quase sua vida inteira em institutos psiquiátricos, período no qual realizou sua atividade artística — apesar de negar este rótulo, ele dizia que “tudo era fruto de uma missão que um dia seria revelada, no juízo final”. A partir de 1964, ficou em definitivo na Colônia, onde ficou preso numa cela por três meses. Após sair, revelou que “ouviu vozes que lhe disseram que chegou a hora de representar todas as coisas existentes na Terra para a apresentação no dia do juízo final”.

Teria decidido, por sua conta, trancar-se por sete anos numa das celas para, com agulha e linha, bordar a escrita de estandartes e fragmentos de tecido. As linhas azuis eram desfiadas dos velhos uniformes dos internos. Também utilizava objetos, como canecas, vassouras e garrafas; e materiais como pedaços de madeira, arame, papel e fios de varal.

Exposições e museu

Após 18 anos da “revelação” de sua “missão”, Bispo despertou o interesse da mídia e de críticos de arte. Em 1982, seus 15 estandartes foram expostos na mostra Margem da Vida, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que seus objetos foram exibidos fora da Colônia. Mas ele decidiu não ir à exposição. Depois do sucesso dessa participação, recebeu diversos convites para novas mostras. No mesmo ano, foi fundado, na Colônia, o Museu Nise da Silveira, com acervo composto pelas obras que antes ajudaram a formar o Museu Egas Moniz.

Ainda em 1982, o psicanalista e cineasta Hugo Denizart exibiu o documentário O Prisioneiro da Passagem, sobre Bispo do Rosário. “É aqui no hospício que eu vou me apresentar, que eu devo ser apresentado a humanidade. Por seus diretores até aqui, frades cardeais, ninguém conseguiu ver Cristo, mas agora vão encontrá-lo porque eu vou me apresentar. Vou me transformar a fim de me apresentar a Ele que é meu vigário, mais nada”, diz Arthur Bispo do Rosário, no filme.

Ele morreu no dia 5 julho de 1989. Após o falecimento, o espaço de exposições foi rebatizado como Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea (mBrac), em sua homenagem.

Ações ligadas à Funarte

Em 2012, a exposição Azul dos Ventos levou a obra de Bispo do Rosário a Lisboa, Portugal. A mostra, que passou por Londres, Inglaterra, teve apoio da Fundação Nacional de Artes — Funarte. O Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais 12ª Edição também contou com o Casa B — Programa de Residência Artística do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea. O projeto promovia o contato entre os artistas e o dia a dia na colônia e também das comunidades do entorno, por meio de atividades, que deram resultado aos trabalhos expostos ao final.

Com informações do Centro de Artes Visuais – Ceav – Funarte, do Museu Bispo do Rosário e da Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras

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