Funarte preserva correspondência de Paschoal Carlos Magno

Paschoal Carlos Magno, vice-cônsul do Brasil, em Liverpool (Inglaterra), 1940. Fotógrafo não identificado. Cedoc/ Funarte

Material ajuda a contar a história da arte brasileira. Confira alguns trechos.

O Fundo Paschoal Carlos Magno é um dos muitos acervos preservados pelo Centro de Documentação e Pesquisa (Cedoc) da Fundação Nacional de Artes – Funarte. Esse conjunto inclui diferentes tipos de documentos, tais como cartas. São mais de 5 mil, sendo que 450 delas revelam o diálogo de Paschoal com a classe teatral do País. Algumas das correspondências são assinadas por grandes nomes da cena brasileira.

Os documentos do Fundo retratam a trajetória de Paschoal, “um dos intelectuais mais importantes para o desenvolvimento da cultura brasileira no século 20,  (1906-1980)” – diz o Cedoc Funarte. A Fundação destaca, nesta matéria, parte do conteúdo de algumas das cartas, enviadas por personalidades como Cacilda Becker e Antônio Abujamra, entre 1935 e 1975.

Sobre Paschoal Carlos Magno

O teatrólogo, produtor e animador cultural, crítico, escritor, autor e diretor de teatro Paschoal Carlos Magno é considerado um dos maiores incentivadores das artes cênicas no País. Esteve à frente de diversas campanhas e empreendimentos relevantes para a história da cena brasileira. Criou o Teatro do Estudante do Brasil; os Encontros de Escolas de Dança do Brasil; a Caravana da Cultura e a Barca da Cultura; O Teatro Duse e a Aldeia de Arcozelo (estes, hoje, patrimônios da Funarte); entre outras realizações. Foi também uma das personalidades que mais se dedicaram à causa estudantil em sua época – um dos fundadores da Casa do Estudante do Brasil (1929). Atuou ainda como vereador, no Distrito Federal (1951-1955); como oficial de gabinete do presidente Juscelino Kubitscheck (1956-1961); e secretário-geral do Conselho Nacional de Cultura (CNC), entre 1962 e 1964. Diplomata de carreira, serviu em diferentes embaixadas e consulados do Brasil, na Inglaterra, Grécia e Itália. Teve sucesso na crítica teatral, com sua coluna no jornal Correio da Manhã. De sua atividade como escritor, vale evidenciar o romance Sol sobre as palmeiras e a peça Amanhã será diferente.

Cartão postal de Antônio Abujamra, de Roma, para Paschoal. Imagem: Cedoc/ Funarte

Trechos das correspondências

Segundo o Brasil Memória das Artes, os bilhetes, telegramas e longas cartas enviadas a Paschoal registram afetos, dificuldades e a paixão dos artistas pelo teatro e as artes, em geral. Em correspondência da atriz Cacilda Becker, observa-se a repercussão do Festival Nacional de Teatro do Estudante: “Os pernambucanos foram incrivelmente amáveis comigo. Adoram você, Paschoal, e falam com entusiasmo do seu festival”. Em outro documento, estão as palavras de Antônio Abujamra, em 1959, sobre o embrião do projeto da Aldeia de Arcozelo, fundada em 1965: “Delirei com o programa da Aldeia (…) Aquilo é Deus! Paschoal, aquilo é Deus!”.

Nas cartas, vê-se pedidos de financiamento em bilhetes escritos à mão, como o de Odilon Azevedo, da companhia Dulcina-Odilon, em 1950. Além de reverenciar o “Embaixador da Cultura” como poeta, diplomata e homem de teatro, Odilon solicita apoio à temporada que se iniciaria no Teatro Regina (hoje, Dulcina), no Centro do Rio de Janeiro. Também observam-se as manifestações de afeto e o prestígio de Paschoal com a classe artística, em cartas como a do diretor Gianni Ratto, que escreve: “Suas palavras me compensaram de tantos anos de trabalho e de luta para um teatro que eu e nós queremos venha a ser sempre mais autenticamente brasileiro”.

Já no bilhete de Bibi Ferreira, a atriz se dirige a Paschoal como jornalista de teatro. Ela agradece a crítica “fina, inteligente e sóbria” para a peça Divórcio; e pede uma fotografia com dedicatória do teatrólogo: “Não sei se você sabe, mas você me dá sorte”. Bibi finaliza desejando que o Teatro do Estudante inaugure o ano de 1948 com sucesso. O pai da atriz, Procópio Ferreira, por sua vez, faz um desabafo registrado: “É mesmo uma desgraça ser artista neste país”.

Ler a carta do ator Sergio Cardoso, revelado por Paschoal em Hamlet, mostra o panorama teatral de 1958, além de uma “bronca” ao amigo: “Veja se cria vergonha, deixa de ser tão ministro para ser mais teatrólogo e amigo (…). Ruggero está aqui, para dirigir para o Danilo O Marido confundido, de Molière. Panorama visto da ponte foi um estrondo no T.B.C., com uma atuação delirantemente e merecidamente aplaudida do Leonardo Villar. Milton Carneiro está no Natal e Oscarito no São Paulo. Maria apresenta uma temporada de Reprises e o Teatro de Arena mantém seu estrondoso sucesso de Eles não usam black-tie. Anuncia-se a indefectível temporada lírica (…) Demos um espetáculo de Vestido à meia-noite (…). O Brasil é campeão mesmo (…)”.

Consulta de arquivos pessoais e coleções do Cedoc

Está no ar a base de dados AtoM, do Cedoc – Funarte, cujo objetivo é promover o acesso a arquivos pessoais e coleções de várias personalidades artísticas, preservados pelo Centro de Documentação. Desenvolvida em convênio com a Universidade Federal Fluminense (UFF), a plataforma difunde esses acervos privados, relativos às áreas de circo, dança, teatro, artes visuais e música. O sistema  permite navegar pelo conjunto de arquivos e coleções, conhecer sua composição e obter muitas outras informações.

No AtoM também estão disponíveis quadros de arranjo e inventários. A plataforma, que é um software livre, está em fase de implantação e deve disponibilizar a descrição de todos os cerca de 320 conjuntos documentais catalogados, em breve. Mas já é possível explorar alguns deles, como os arquivos Paschoal Carlos Magno, Família Oduvaldo Vianna, Sergio Britto e Tatiana Leskova, dentre outros.

Acesse aqui informações sobre o Fundo Paschoal Carlos Magno

Confira aqui a base de dados AtoM, da Funarte

Consultas presenciais suspensas temporariamente

Para consultar os documentos do Cedoc presencialmente, é necessário solicitar acesso por e-mail. Mas, em função da pandemia de covid 19, as consultas às dependências da Biblioteca Edmundo Moniz estão temporariamente suspensas. Porém, assim que possível, o agendamento voltará a ser realizado, pelo e-mail bibli-cedoc@funarte.gov.br ou pelos telefones (21) 2279-8290 / (21) 2279-8291. O espaço funciona de 2ª a 6ª feira, das 10h às 17h, à rua São José, 50, 2º andar – Centro, Rio de Janeiro (RJ).

Com informações do Projeto Brasil Memória das Artes e do Centro de Documentação e Pesquisa
Funarte

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