A Fundação Nacional de Artes – Funarte lamenta a morte de Nelson Sargento, cantor e autor de sucessos da música brasileira, artista plástico, pesquisador, escritor e presidente de honra da escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Nelson compôs cerca de quatrocentas músicas — muitas delas parte da história da Mangueira. Ele faleceu aos 96 anos, na manhã desta quinta-feira, dia 27 de maio, no Rio de Janeiro (RJ), por complicações da covid 19.
Nelson Mattos nasceu no dia 25 de julho de 1924, na Capital Fluminense. Teve contato com o samba ainda criança. Com 9 anos, desfilou pela Escola Azul e Branco, do Morro do Salgueiro, onde vivia com a mãe e 17 irmãos. Quando completou 12 anos, a família se mudou para o Morro da Mangueira, após a união da mãe, Rosa Maria da Conceição, com o compositor de fado e pintor de parede português Alfredo Lourenço, conhecido como Alfredo Português. Aprendeu a tocar violão com mestres do samba como Cartola, Nelson Cavaquinho e o compositor Geraldo Pereira e passou a musicar os versos feitos pelo pai adotivo. Por influência do padrasto e do compositor Carlos Cachaça, integrou a ala de compositores da Mangueira, em 1942. Também se tornou pintor de paredes aos 17 anos e trabalhou na Fábrica de Vidros José Scarrone, no bairro carioca de Vila Isabel. Foi sargento do Exército entre 1945 e 1949, quando ganhou o apelido que tomou como nome artístico.
Em participação no projeto Memória Musical Funarte, em 2014, Nelson Sargento relembrou sua juventude e os sambas de sua autoria e de outros compositores. A entrevista musicada ficou gravada em vídeo, disponível aqui, neste link. No material, Nelson conta, entre outras histórias, que foi na casa de Alfredo Lourenço que conheceu Cartola, Carlos Cachaça, Malvadeza, Aluísio Dias, Babaú e outros gigantes. “Garanto que aprendi alguma coisa com eles. Me ensinaram muito. Eu é que aprendi pouco”, brincou.
Legado multiartístico
Nelson Sargento teve uma longa trajetória de contribuição à arte, em diferentes linguagens. Em 1958, ele assumiu o cargo de presidente da Ala de Compositores do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Em 1981, escreveu com Alice Campos, Francisco e Dulcinéia Duarte a monografia Um certo Geraldo Pereira, lançada pelo Projeto Lúcio Rangel, criado por Hermínio Bello de Carvalho para a Funarte. No ano seguinte, passou a conciliar a carreira de músico com a de artista plástico e, em 1983, expôs seus quadros de cenas do cotidiano e figuras primitivistas no Arquivo da Cidade, apenas uma de muitas outras exposições. Lançou livros como Prisioneiro do mundo, em 1994, e Pensamentos, em 2005.
Como ator, estreou no longa-metragem É Simonal, de Domingos de Oliveira. Também atuou em filmes como Orfeu do carnaval, de Cacá Diegues, e na minissérie Presença de Anita. Em 1997, pela atuação no documentário Nelson Sargento na Mangueira, de Estevão Ciavatta Pantoja, foi premiado nas categorias Melhor Ator e Melhor Trilha Sonora no Festival de Cinema Rio Cine. O documentário foi exibido em diversos festivais de cinema, sendo premiado em diversos deles.
Em 1992, foi realizado um documentário sobre sua vida e obra, Meia hora de arte, produzido por Luiz Guimarães Castro. Em sua homenagem, Moacyr Luz e Aldir Blanc compuseram Flores em vida, que tem entre seus versos: “Sargento apenas no apelido/guerreiro negro dos Palmares/Nelson é o Mestre-Sala dos mares/Singrando as águas da Baía.” Entre outros tributos recebidos, em 2012, Nelson foi enredo da Unidos do Jacarezinho, intitulado O samba agoniza, mas não morre: Nelson Sargento da Mangueira e do Jacaré também. Em 2015, voltou a ser tema de enredo, do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Inocentes de Belford Roxo, com o título Nelson Sargento: samba, inocente e pé no chão.
Nelson deu entrada no Inca no dia 20 de maio, com “quadro de desidratação, anorexia e significativa queda do estado geral”, de acordo com nota divulgada pelo instituto. Ao chegar na unidade, foi realizado o teste de covid-19, que apontou positivo. Ele estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde sábado, dia 22 de maio. O artista era paciente do hospital desde 2005, para tratamento contra um câncer de próstata. Nelson Sargento deixa a mulher, Evonete Belizario Mattos, e os filhos Fernando, José Geraldo, Marcos, Léo, Ricardo, Ronaldo, Rosemere, Rosemar e Rosana.
Com informações da Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras e do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira