Funarte lança novos livros da ‘Coleção Música Sacra Mineira’ – Notícias Antigas

Estão disponíveis os volumes 2 e 3 da Coleção Música Sacra Mineira, publicados pela Fundação Nacional de Artes – Funarte. A série contém partituras dos séculos XVIII e XIX, de compositores importantes desse período histórico. Publicada no Portal da instituição, em formato digital e com acesso gratuito, a importante pesquisa dos primórdios da produção musical brasileira reúne, ao todo, 77 composições de sete autores.
A organização do trabalho é do professor Carlos Alberto Figueiredo, doutor em música pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), com a colaboração, a convite, do pesquisador José Alberto Pais. Produzidos pela Gerência de Edições da Funarte, ligada ao Centro de Programas Integrados da Fundação, os livros podem ser acessados na página Edições On-line do portal da Funarte e nos links abaixo.

A Coleção Música Sacra Mineira conta com obras de Jerônimo de Souza Lobo, João de Deus de Castro Lobo, José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, Lourenço José Fernandes Braziel, Manoel Camelo, Marcos Coelho Neto e Antônio dos Santos Cunha. Segundo o organizador, o trabalho remete ao passado da Funarte, quando uma série de pesquisas em acervos históricos resultou no levantamento do repertório, em diferentes etapas; e na edição, de publicações como O Ciclo do Ouro: o tempo e a música do Barroco católico, de Elmer C. Corrêa Barbosa, em 1979; e Catálogo de Obras Música Sacra Mineira, de José Maria Neves (1997), editado pela Fundação.

Organização e objetivos da coletânea

Além de ter concluído o doutorado em Música pela Unirio, o professor Carlos Alberto Figueiredo cursou estágio pós-doutoral no Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (Cesem) da Universidade Nova de Lisboa – Portugal. Também fez cursos de regência coral na Holanda, no Conservatório Real de Haia e na Fundação Kurt Thomas; e, ainda, na Alemanha, na Bachakademie, em Stuttgart.

“Além de termos este trabalho disponibilizado online, outro destaque da publicação é o fato de ela trazer não só a partitura das obras, o que é importante; como também as partes cavadas, separadas por instrumentos, viabilizando assim a execução destas obras”, destacou Figueiredo. “Minha expectativa é de que esse lançamento contribua para que o repertório volte a ser tocado, pois a falta de material tem sido determinante para obras como essas – da chamada música antiga do Brasil – saírem do repertório das orquestras. Agora não: elas terão à mão este material editado com cuidado e de maneira criteriosa, como fizemos. É fundamental que se divulgue esse repertório, que afinal é brasileiro e representa um universo de compositores absolutamente maravilhosos”, afirma o organizador. “Claro que há obras mais simples no conjunto da chamada música sacra mineira, mas há também verdadeiros monumentos que precisam ser executados, ouvidos, conhecidos”, concluiu.

Das 77 obras, 53 são do século XVIII ou da transição para o século XIX, enquanto 24 “já representam plenamente o século XIX” – segundo a introdução da série. Entre as do século XVIII, predominam obras atribuídas a Manoel Dias de Oliveira (26), Lobo de Mesquita (10) e João de Deus Castro Lobo (5), autores de peças sacras desse período. Entre as 24 do século XIX, destacam-se seis, de José Maria Xavier. A publicação dessas últimas, embora em menor número, “representou um avanço para o conhecimento da música desse período”, acrescenta o texto. Outro aspecto enfatizado é a ampla abrangência da coleção quanto à liturgia: os livros inclui obras destinadas a várias datas específicas do calendário religioso.
José Alberto Pais, doutor em Museologia e Patrimônio pela Unirio (entre outras formações), colaborou na transcrição das partituras, realizando a importação do conteúdo entre os aplicativos Encore e Finale – considerado mais atual. Também revisou e corrigiu as obras.

Os livros

O Volume 1, que inaugurou a fase digital da série, em dezembro de 2020, contém as únicas obras atribuídas a Lourenço José Fernandes Braziel ([17-?]-1831), Salmo 129 — De profundis, e a Manoel Camelo, (séc. XVIII), Flos Carmeli. Há também peças de Marcos Coelho Neto (provavelmente o filho – 1763-1823), Antônio dos Santos Cunha (séc. XVIII-XIX) e Jerônimo de Souza Lobo – 1721-1826 (datas prováveis). Já o Volume 2 apresenta partituras de Jerônimo de Souza Lobo (fl. 1721-1826), de José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746?-1805) e de João de Deus de Castro Lobo (1794-1832). O Volume 3 traz a peça MSM 09 – Matinas de São Vicente de Paulo, deste último compositor.

Manuscritos, microfilmagem e catalogação

“Esse projeto está diretamente ligado a outro, anterior, que consistiu na microfilmagem de inúmeros acervos mineiros que contêm esse repertório. A listagem desses microfilmes e das obras nele contidas pode ser consultada no catálogo O Ciclo do Ouro: o tempo e a música do Barroco católico, produzido por Elmer C. Corrêa Barbosa, numa publicação conjunta da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), da Funarte e da Xerox, em 1979”, afirma a introdução. A coleção teria passado por várias fases – hoje de difícil verificação. “Inicialmente, nos primeiros anos da década de 1980, foi feita uma seleção de cerca de 200 itens, a partir de pesquisa realizada nos acervos mineiros de várias cidades, que gerou a microfilmagem e a catalogação […] Muitos dos 200 itens, na verdade, representavam fragmentos de obras maiores”. Segundo o texto, na década de 1980, o conjunto, composto de cópias manuscritas, foi reorganizado, convertendo-se nas 77 obras da coleção.

Já durante a década de 1990, a Funarte desenvolveu uma parceria com o musicólogo José Maria Neves para reorganizar as partituras. Participaram dessa etapa José Staneck e Wilson Santos Souza. O objetivo era a publicação digitalizada de toda a série. “Porém, por alguma razão, foram impressas apenas 12 obras”, em apresentação “luxuosa” – informa o texto. Essas peças foram relançadas em 2000 e em 2002, como um dos seis volumes da coleção Música no Brasil, organizada por Ricardo Bernardes.

Segundo Carlos Alberto Figueiredo, o Catálogo de Obras Música Sacra Mineira, de José Maria Neves, (Funarte – 1997), também foi consequência dessa fase da pesquisa. O livro trouxe farta informação sobre o repertório e suas circunstâncias históricas e litúrgicas, bem como cuidadosa biografia dos compositores; além de uma bibliografia e uma discografia.