A Fundação Nacional de Artes lança a terceira fase do Festival Funarte Acessibilidança, com a Região Nordeste, representada por sete espetáculos. Na quarta-feira, 28 de julho, às 20h, o espetáculo Estado de Apneia, do Rio Grande do Norte, abre a temporada, seguido pela montagem de Pernambuco, Ensaio sobre o Silêncio, no dia 4 de agosto. Maré – Versão virtual e acessível, também do Rio Grande do Norte, será encenada no dia 11. A agenda continua no dia 18, com o espetáculo Rio sem Margem, da Bahia, e, no dia 25, com a montagem Plenitude, do Piauí. Em setembro, entram em cartaz: Ah, se eu fosse Marilyn!, da Bahia, no dia 1º; e Proibindo Elefantes, do Rio Grande do Norte, no dia 8, fechando a presença da Região no festival.
As sessões em vídeos com audiodescrição e Libras ficam disponíveis para acesso gratuito no canal da Funarte no YouTube (bit.ly/FunarteYouTubeFestivalAcessibiliDanca) logo após o lançamento. O Festival Funarte Acessibilidança teve início em junho, com espetáculos premiados da Região Norte. No mês de julho, foi a vez da Região Sul mostrar os seus talentos. Os projetos contemplados nas demais regiões do Brasil serão apresentados até outubro.
No dia 28 de julho, às 20h, o Grupo Movidos Dança Contemporânea, de Natal (RN), apresenta a montagem Estado de Apneia. A obra tem por inspiração o momento atual da humanidade, o conflito global devido à pandemia e todos os desdobramentos. Com direção artística de Anderson Leão, os bailarinos compartilham conflitos que atravessam situações de machismo, violência doméstica, capacitismo (preconceito direcionado a pessoas com algum tipo de deficiência), falta de empatia e de sororidade, dentre outros males.
“O espetáculo pretende deixar uma mensagem para cada pessoa sobre o que está sendo apresentado. Fazendo com que o espectador se perceba na obra, se atente aos conflitos que permeiam sua vida, e entenda que só quando estivermos verdadeiramente conectados uns aos outros será possível sair deste estado de apneia e, enfim, respirar”, declara o coletivo.
Já no dia 4 de agosto, a coreógrafa Taciana Gomes, de Pernambuco (PE), exibe sua montagem Ensaio sobre o Silêncio. O espetáculo de dança acessível busca “construir poéticas provocativas sobre a percepção de mergulho pessoal”, em busca de uma aproximação e relação entre espaço e corpo. “Movimento, poesia e audiovisual são influenciados pela construção sonora marcada pelo psy-trance e sonoridades binaurais, pelo coco, o maracatu em uma estética atual, com marcadores da pós-contemporaneidade”, comenta a intérprete.
O bailarino e consultor Victor Marley explica a importância de ter participado do projeto e de ter colocado a identidade surda em ação, ao mesclar a arte da dança com o recurso de Libras. “Como único surdo cursando faculdade de dança aqui em Pernambuco, na UFPE, me senti honrado em fazer parte do Acessibilidança. Por meio do visual, poder passar emoção. Provando que o surdo pode tudo, assim como os ouvintes. Tentei colocar minha marca na dança. Como a dança é algo visual, os movimentos e ritmos chamam a atenção de quem está vendo. O foco da dança é levar a sensação de tranquilidade e sentimentos que cada bailarino proporciona pelas suas habilidades, fazendo com que o público tenha visões e emoções únicas, a cada solo ou apresentação em grupo”, destaca Marley.
O Coletivo Independente Dependente de Artistas (CIDA), de Natal (RN), lança o seu novo espetáculo Maré – Versão virtual e acessível, no dia 11 de agosto. A obra coreográfica surge como uma alusão às formas como abordamos e estereotipamos a natureza híbrida de se relacionar. “Transpor as realidades do amor para a cena é o começo de tudo. Uma metáfora dançada sobre a modificação, sobre os vários níveis, sobre as intensidades e profundidades desse sentimento tão complexo. Maré fala sobre os diferentes modos de se relacionar e de amar”, diz o grupo.
Desde sua criação, o espetáculo já recebeu diferentes roupagens e conta com diversos formatos para exibição: solo, dueto, intervenção urbana, versão compartilhada e, agora, a versão virtual e acessível, no Festival Funarte Acessibilidança. “Acreditamos na acessibilidade enquanto viés criativo, enquanto via de acesso, enquanto obrigação mínima para/com/da sociedade. Somos, assumidamente, um núcleo artístico formado por pessoas com e sem deficiências, e por isso a acessibilidade é algo que está intrínseco ao nosso trabalho.”
Dia 18 de agosto, o coreógrafo e bailarino Elísio Pitta, da Bahia (BA), apresenta o seu espetáculo Rio sem Margem. A obra se utiliza de elementos da simbologia da dança dos orixás, da dança moderna, da capoeira, do teatro e de outros elementos da ancestralidade africana. A montagem unifica dança, vídeo, projeção, cenário e interpretação corporal em Libras. O espetáculo ocorreu de forma remota.
Segundo Pitta, cumprir o cronograma de ações foi um desafio e, ao mesmo tempo, trouxe muitas descobertas. “Estudamos e construímos juntos sob uma narrativa virtual e de muita observação. Tivemos que aprender a respirar, a se adaptar, a testar novas formas de trabalho e a entender as limitações do outro”.
A Cia. de Dança Eficiente, de Teresina (PI), exibe a montagem Plenitude, no dia 25 de agosto. O espetáculo levanta a discussão em torno da estética da dança e permite que a dançarina com deficiência desenvolva e exponha seus potenciais artísticos. O trabalho experimenta e ocasiona mudanças na noção de corpo por meio da dança contemporânea, questionando hierarquias entre corpos que podem e que não podem dançar.
“A pesquisa se dá nas diferenças, nos diferentes corpos que se comunicam com o todo social pela sua presença, unindo uma parte que não necessariamente encaixa em outra determinada parte, mas que comunica o estado de existir, ocupando seu lugar de direitos e deveres comuns a todos, criando um ponto de discussão sobre como são os modos de relacionar-se com esta nova presença, que necessita de adaptações estruturais e mentais para o bom convívio em sociedade”, relata a companhia.
Abrindo o mês de setembro, no dia 1º, o coreógrafo, dançarino, professor e pesquisador Edu O. apresenta sua obra Ah, se eu fosse Marilyn!, da Bahia (BA). A montagem é inspirada no texto Dias Felizes, de Samuel Beckett, e a performance foi criada pelo primeiro professor cadeirante de uma faculdade de Dança do Brasil, o Edu. “A obra é uma proposta artística que versa sobre os padrões corporais e morais impostos às individualidades e particularidades de cada um. Suas reflexões são menos sobre o desejo de ser igual a uma outra pessoa — no caso, a atriz Marilyn Monroe —, mas, sobretudo, acerca do que ela representa no imaginário coletivo, sobre o que se projeta de expectativas para o outro”, aponta Edu O.
Ah, se eu fosse Marilyn! é concebido a partir da construção e desconstrução de imagens corporais do cotidiano. Enterrado até a cintura com areia (praia) ou roupas e objetos (quarto), a performance reflete sobre a passagem do tempo que nos consome e nos transforma.“Quando lembramos dos nossos sonhos antigos e nos damos conta do que nos tornamos, podemos nos questionar sobre: Aonde chegamos? O que é dar certo? O que é o sucesso? Sou o que desejei para mim? Que rastros fui deixando pelo caminho? Quem tem direito ao seu próprio desejo ou a ser quem se é? Como podemos pensar essas questões no contexto das pessoas com deficiência?”, questiona.
A performance foi realizada entre dezembro e janeiro (2020/2021) e traz imagens feitas no quarto do artista e, também, na praia, onde originalmente o trabalho foi criado, concebendo um ambiente entre realidade e sonho. No vídeo, a audiodescrição é parte integrante da obra, tecendo o fio condutor da narrativa; e a interpretação em Libras também é compreendida dentro da sua estética. O próprio dançarino é o intérprete e utiliza os sinais para seus movimentos coreográficos.
Para encerrar a programação da Região Nordeste, a Companhia Giradança, de Natal (RN), exibe a montagem Proibido Elefantes, dia 8 de setembro. A obra fala do olhar como via de acesso, porta de entrada e saída de significados. “O modo como percebemos a realidade é resultante do diálogo que estabelecemos com ela. Nosso olhar é constituído pela realidade assim como a realidade é constituída pelo nosso olhar — a construção do sentido transita em via de mão-dupla. O olhar enquanto apreensão subjetiva do mundo é, neste trabalho, apontado como elemento potencializador do sujeito diante dele”, frisa o coletivo.
Segundo a companhia de dança, proporcionar acesso do público em geral a uma montagem como Proibido Elefantes é colocar a sociedade em frente a um espelho. “Mesmo no campo subjetivo que é a criação em dança, o espetáculo absorve diversas vivências, sejam elas dos corpos dançantes que estão no vídeo ou de pessoas que passaram pela vida deles”, diz. “Proibir elefantes, neste espetáculo, é proibir o olhar que ressalta as limitações, os impedimentos e que duvida da capacidade do sujeito frente à adversidade. Proibir elefantes, aqui, é apostar no olhar do sujeito sobre si e sobre o mundo em que vive como elemento ressignificador e instaurador de realidade”, reforça.
O Festival Funarte Acessibilidança
O Festival Funarte Acessibilidança, em estreia na instituição, foi criado a partir das ações do Prêmio Festival Funarte Acessibilidança Virtual 2020. No concurso público, foram premiados 25 projetos de vídeos de espetáculos, que promovem o acesso de todas as pessoas à arte.
Com a iniciativa, a Funarte busca realizar novas ações a partir do uso das mais recentes tecnologias, estendendo, desse modo, um novo modelo para todo o Brasil. Assim, a Fundação reforça seu compromisso de promover e incentivar a produção, a prática, o desenvolvimento e a difusão das artes no país; e de atuar para que a população possa cada vez mais usufruir das manifestações artísticas. Criada em 1975, a Funarte segue, portanto, empenhada em acompanhar as transformações no cenário artístico e social.
O coordenador de Dança da entidade, Fabiano Carneiro, destaca a importância de se levar essa linguagem artística à população, durante o período de distanciamento social. “Estamos estreando o Festival Funarte Acessibilidança, um projeto inédito com foco na acessibilidade e na inclusão. Ao longo dos próximos meses, serão apresentados espetáculos de dança das cinco regiões do Brasil, plenamente acessíveis ao público, contemplando uma enorme diversidade na sua programação”, explica o coordenador.
O festival foi lançado no dia 16 de junho, com o espetáculo Lua de Mel, da Cia. Lamira Artes Cênicas (Tocantins). Na semana seguinte, foi exibido Maculelê: Reconstruindo o Quilombo, do Grupo de Dança Reconstruindo o Quilombo (Rondônia). Solatium encerrou a programação de companhias da Região Norte. A segunda fase apresentou montagens premiadas da Região Sul e Flamenco Imaginário, da Cia. Del Puerto (Rio Grande do Sul), deu início a programação. Em seguida, Convite ao Olhar, da Cia. de Dança Lápis de Seda (Santa Catarina) foi exibido. O espetáculo Do Avesso, do Grupo Nó Movimento em Rede (Paraná), fechou a temporada da região. A fase atual apresenta as montagens da Região Nordeste.
Os projetos contemplados nas demais regiões do País serão exibidos em seguida, até outubro, por meio do canal da Funarte no YouTube (bit.ly/FunarteYouTubeFestivalAcessibiliDanca). No decorrer das apresentações, o coordenador de Dança da Fundação, Fabiano Carneiro, participará de uma “live” com diretores e artistas de dança, além de convidados.
Festival Funarte Acessibilidança
Acesso gratuito, no canal: bit.ly/FunarteYouTubeFestivalAcessibiliDanca
Com audiodescrição e Libras
Agenda dos contemplados da Região Nordeste
Dia 28 de julho, quarta-feira, às 20h
Estreia com exibição do espetáculo Estado de Apneia, do Grupo Movidos Dança Contemporânea (Rio Grande do Norte)
Dia 4 de agosto, quarta-feira, às 20h
Montagem de dança Ensaio sobre o Silêncio, da coreógrafa e bailarina Taciana Gomes (Pernambuco)
Dia 11 de agosto, quarta-feira, às 20h
Espetáculo Maré – Versão virtual e acessível, do Coletivo CIDA – Coletivo Independente Dependente de Artistas (Rio Grande do Norte)
Dia 18 de agosto, quarta-feira, às 20h
Montagem Rio sem Margem, do coreógrafo e bailarino Elísio Pitta (Bahia)
Dia 25 de agosto, quarta-feira, às 20h
Espetáculo Plenitude, da Cia. de Dança Eficiente (Piauí)
Dia 1º de setembro, quarta-feira, às 20h
Montagem Ah, se eu fosse Marilyn!, do diretor, coreógrafo e dançarino Edu O. (Bahia)
Dia 8 de setembro, quarta-feira, às 20h
Espetáculo Proibido Elefantes, da Companhia Giradança (Rio Grande do Norte)
Agenda dos contemplados das demais regiões
Região Centro-Oeste – Dia 15 de setembro
Região Sudeste – Dia 13 de outubro
Região Norte (espetáculos já disponíveis): Lua de Mel, da Cia. Lamira Artes Cênicas (TO); Maculelê: Reconstruindo o Quilombo, do Grupo de Dança Reconstruindo o Quilombo (RO); e Solatium, do Corpo de Dança do Amazonas (AM)
Região Sul (espetáculos já disponíveis): Flamenco Imaginário, da Cia. Del Puerto (RS); Convite ao Olhar, da Cia. de Dança Lápis de Seda (SC); e Do Avesso, do Grupo Nó Movimento em Rede (PR)
Os vídeos ficam disponíveis no canal da Funarte no YouTube após a exibição
Realização
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