“Conatus”: o impulso da vida em dança e teatro

O espetáculo de dança-teatro “Conatus – a essência do ser”, da Crepúsculo Cia. de Dança (MG) está em cartaz no Teatro Cacilda Becker, da Funarte, no Rio de Janeiro, de 27 a 31 de julho. O elenco de nove artistas representa os seres e suas buscas, em fusão – diferentes essências que se fundem, multiplicam-se e geram inúmeras possibilidades e movimentos, dentro e fora de cada indivíduo. A obra é inspirada em ideias de Antonin Artaud e no conceito filosófico de “conatus”: o impulso para a vida e a vontade de viver, abordado de diferentes maneiras, por diversos filósofos.

De inclinação anarquista, o poeta, ator, dramaturgo e diretor teatral francês Artaud (1896-1948), disse que, “assim como o mundo tem uma geografia, também o homem interior tem sua… e esta é uma coisa material” (“Surrealismo e revolução”). Para o artista, o ser humano tem um “mapa interno”, feito de linhas imaginárias. Algumas são impostas, vem de fora para dentro. Mas outras devem ser inventadas por cada um. A estas, ele chamou “linhas de fuga”. Para Artaud, “elas se transformam e podem mesmo penetrar uma na outra”, ou nas de outras pessoas.

A montagem “Conatus” utiliza um cruzamento de técnicas de dança e teatro. os intérpretes, também criadores, ora parecem correr, para escapar em direção ao lúdico, semelhantes às linhas de fuga. Mas também parecem representar a a tendência natural dos seres por paixões e alegria, que, diz a Crepúsculo, se assemelha ao “conatus” do filósofo Spinoza.

A proposta do espetáculo é instigar o público a gerar sentimentos, que vão da alegria à tristeza, da raiva ao medo – e, a partir disso, estimular nele pensamentos e atitudes. “Buscamos mostrar que é a própria vida que nos põe em contato com nossa natureza humana: a essência do ser – que é a definição de conatus”. Diz Luciane Kattaoui, diretora e coreógrafa. Ela destaca que os movimentos dos bailarinos expressam as múltiplas possibilidades humanas. “Estas se mesclam e escrevem a história da vida, que segue sempre, coreografada por cada ser”, complementa.

Este é o quarto espetáculo da Crepúsculo que, há 14 anos, desenvolve aulas de dança, teatro, música, artes plásticas, contação de histórias, oficinas, palestras e consultorias. A Companhia faz parte da a Associação Crepúsculo, que promove a convivência e a arte. O grupo trabalha com as diferenças e semelhanças das pessoas com e sem deficiência. O objetivo é  a promoção da cultura, da saúde e da educação. “Acreditamos que a troca entre as diferenças produz novas vivências e reflexões, forma consciências e possibilita encontros e somas, que ampliam a condição humana”, diz Luciana.

“Conatus – A essência do ser” estreou em 2010, em Belo Horizonte e saiu em turnê por Minas Gerais. Depois do Rio de Janeiro, o espetáculo segue para S. José do Rio Preto (SP), Juiz de Fora (MG), Vitória e São Paulo.

Conatus – A Essência do ser
Espetáculo de dança inclusivo