“O mercado é um primo rico, ele cuida de si mesmo. A cultura é uma matriarca respeitada, ela cuida de si mesma. A arte é tão sutil quanto violenta, tão frágil quanto fundamental. Sempre precisa dos artistas para defendê-la.” Este brado consta da carta aberta enviada pelo grande artista Domingos de Oliveira a mim e ao Ministério da Cultura, em que defende a arte dentro da cultura e a importância social da arte.
Aceita a provocação, cabe buscar seu motivo condutor. Quando as primeiras instituições públicas de apoio à cultura foram criadas, seu principal foco de atuação eram as linguagens artísticas. Nos últimos anos, porém, o MinC aproximou-se do conceito antropológico de cultura e trouxe para si a obrigação de fomentar outras esferas da atividade intelectual, a produção e preservação de bens imateriais e a continental diversidade de modos de viver do brasileiro.
Foi um inequívoco avanço, cujos resultados práticos apenas começam a ser percebidos, dentro e fora do país. A arte não é supérflua, ela funciona como motor da economia, gera empregos, serve de matéria-prima para a educação – esses são apenas alguns de seus efeitos positivos, que vêm sendo defendidos pelo ministério com a criação da Secretaria da Economia Criativa.
Uma política consistente para a valorização das artes deve considerar também a criatividade e a inovação artística como benefícios diretos para a vida de todos os brasileiros. Arte de qualidade desenvolve a subjetividade e o senso estético do indivíduo, e consolida os valores da sociedade. Mas, assim como a própria arte é intangível, também são os seus resultados. Não obstante, sabemos da sua capacidade de transformação. O sucesso de experiências como o projeto Interações Estéticas, que permite aos artistas desenvolver parcerias com os Pontos de Cultura, enfatiza tudo isso.
Defendo o apoio ao artista como ponto substancial de uma política cultural abrangente. O artista sem adjetivo (consagrado, iniciante, marginal, pobre, fora do eixo, independente, profissional ou amador) deve e necessita dividir nossa atenção com as demais manifestações culturais. A arte de excelência deve integrar a cesta básica do cidadão brasileiro. Não confundir excelência com consagração, pois são predicados que nem sempre andam juntos.
Não são poucos os desafios do gestor público que tem como missão o desenvolvimento das artes no país, mas talvez seja este o maior deles: encontrar um lugar ao sol para as linguagens artísticas num novo e sofisticado ambiente em que tudo é cultura. Árdua também é a tarefa de adaptar uma matéria tão subjetiva às normas da administração pública. A Funarte continuará de portas abertas a opiniões, críticas e ideias inovadoras que honrem sua história de principal agência de apoio ao artista brasileiro.
Antonio Grassi
Presidente da Funarte