A Funarte, o Ministério da Cultura e o Governo Federal apresentam o segundo ciclo de exposições dos projetos contemplados pelo Prêmio Funarte de Artes Visuais 2011, em Belo Horizonte. No dia 02 de fevereiro de 2012, serão inauguradas simultaneamente na Funarte MG as mostras “Campos Migratórios”, de Daniel Escobar e “Amazônia, Esfinge”, de Sávio Stoco. As exposições, que têm entradas gratuitas, ficam em cartaz até o dia 02 de março, e podem ser visitadas de segunda à sexta-feira, de 10h às 18h.
O Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2011 teve como objetivo estimular a multiplicidade e a diversidade de linguagens e tendências em suas variadas modalidades e promover reflexão e intercâmbio nas artes visuais. No total, 123 artistas se inscreveram no Prêmio, seis projetos foram contemplados e receberam aporte financeiro de R$ 40 mil, cada.
Renata Moreira Marquez, professora de análise crítica da arte da UFMG e curadora do MAP, foi uma das juradas e explica alguns critérios levados em consideração para a escolha dos projetos e realização das exposições simultâneas. “O caráter investigativo das propostas e a relação delas com questões atuais, do mundo político e geográfico foram determinantes na escolha dos projetos vencedores. Tanto em ‘Campos Migratórios’, como em ‘Amazônia, Esfinge’ é notório como a subjetividade lida com as questões geopolíticas. São trabalhos que repensam os espaços expositivos e a relação da arte com o mundo”, destaca.
Daniel Escobar | “Campos Migratórios”
Um mapa extraído do Google Map é desenhado sobre a parede a partir do acúmulo de fitas adesivas. Guias turísticos têm seus mapas, imagens e cenários transformados em cartografias labirínticas e ficcionais. Máquinas fragmentadoras reconstroem um mapa da cidade com tiras de papel. Letreiros luminosos extraídos da própria cidade anunciam: SONHO. A ideia é relacionar a palavra seja com a mobilização pelo sonho de consumo dos grandes centros urbanos, seja pelas cidades dos sonhos, em um universo cada vez mais imediatista, em que a publicidade torna-se uma ferramenta cada vez mais sedutora.
O processo de produção das obras cria diferentes camadas de diálogo entre a cidade e o espaço expositivo. Se por um lado é possível identificar a presença de obras que tomam como ponto de partida o próprio ponto de localização da Funarte no mapa urbano, por outro existem trabalhos que deslocam para este espaço, fragmentos da própria cidade, extraídos de pontos distintos a partir de um processo de trocas e negociações.
O projeto tem o acompanhamento da crítica de arte Janaína Melo (Curadora de Arte e Educação do Inhotim). Sobre o conceito da mostra ela destaca: “Campos Migratórios investiga as relações de migração, mobilidade e residência. As cidades hoje convidam a uma nova experiência do espaço urbano na qual habitar implica numa vivência ativada pela descoberta de um espaço em constante movimento e transformação. Na cena urbana noções de repouso, pertencimento ou memória dão lugar a ocupações temporárias, apropriações e fluxos que geram sempre novas territorialidades.”
Destaques
“Atlas de Anatomia Urbana”, 2011. O trabalho toma como ponto de partida a fragmentação do mapa da cidade em regiões para sua apresentação em um guia turístico. Através dos recortes estes fragmentos passam a ser reagrupados provocando cruzamentos entre as páginas do livro e criando novos desenhos urbanos. Este processo de “escavação” acaba trazendo elementos do interior do livro para a superfície, criando uma espécie de trama entre as páginas que impossibilita o ato de folhear e confere um caráter escultórico ao objeto.
Já em Scroll Bar um mapa que localiza a Funarte MG e seu entorno imediato na cidade de Belo Horizonte é obtido no Google Maps. A imagem é projetada diretamente sobre a parede da galeria e, em seguida, o mapa é redesenhado através da sobreposição de fitas adesivas de diferentes cores, que constroem o traçado urbano fisicamente sobre a parede. As bordas que delimitam o mapa são finalizadas com os rolos de fita, fazendo uma alusão à barra de rolagem utilizada no sistema de visualização de mapas pela internet ou GPS. No entanto, contrariando toda a lógica rigorosa de construção do próprio desenho sobre a parede, os rolos em aberto sinalizam para a possibilidade de expansão descontrolada deste mapa, uma vez que não existe um desenho pré-estabelecido para a continuidade da área visível.
Destaque também para a instalação “Continuous”, 2012. O trabalho consiste em uma instalação de grandes dimensões, composta por cinco máquinas fragmentadoras de papel (equipamento comumente utilizado em escritórios), e cinco bobinas de papel branco que serão parcialmente processadas por estas máquinas, gerando um acúmulo de tiras de papel. No centro da instalação, as tiras de papel vindas de diferentes direções, constroem uma trama que redesenha a malha urbana da parte planejada da cidade de belo Horizonte. A instalação se espalha pelo espaço expositivo de acordo com o croqui apresentado e o papel branco vai acumulando poeira ao longo do período de exposição.
DANIEL ESCOBAR nasceu em 1982 na cidade de Santo Ângelo (RS), vive e trabalha em Belo Horizonte (MG). Formado em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escobar recebeu importantes premiações como Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, Bolsa Pampulha, Prêmio Fiat Mostra Brasil e Prêmio Açorianos de Artes Plásticas. Suas obras já foram exibidas em diversos museus e instituições incluindo o Goethe-Institut em Porto Alegre, o Museu Lasar Segall em São Paulo, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, o Museu de Arte da Pampulha em Belo Horizonte e o Museu de Arte Contemporânea de Curitiba. Escobar possui obras em importantes acervos institucionais como Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Fundação Iberê Camargo e Museu de Arte Contemporânea de Curitiba. O artista é representado pela RH Gallery, em New York. www.danielescobar.com.br
Sávio Stoco | “Amazônia, Esfinge”
Exposição de estreia de Sávio Stoco reflete sobre a paisagem amazônica ao mesclar técnicas, referências das artes amazonenses e critica práticas dos grandes centros urbanos da região.
Uma pintura de paisagem natural amazônica de grandes dimensões pendurada na recepção de um hotel. Passando na frente dessa paisagem tradicional, feita pelo pintor amazonense Moacir Andrade, uma figura masculina de costas, mal focada com camisa social, fazendo um movimento giratório incompreensível com as mãos, próximo a uma impressora. A composição fotográfica insólita pretende sugerir uma narrativa oblíqua e inconclusa. É a alegoria visual que abre a exposição “Amazônia, Esfinge”, composta por mais seis conjuntos formados por imagens/objetos.
“Durante o trabalho de produção das obras e seleção para a montagem, achei que essa imagem não poderia faltar porque sugere o enigma deste espaço brasileiro tão desconhecido que me propus a investigar e reorganizar visualmente”, disse o artista, paulista radicado em Manaus desde a infância e que tem neste trabalho sua primeira exposição de artes visuais individual.
Em seguida, a mostra dá destaque à obra de maior dimensão da exposição, “Espelho” , composta por duas colunas em forma de “U”, com dois metros de altura cada. Em cada uma delas foram fixadas duas imagens fotográficas que buscam a experiência escultural, tridimensional. A visualidade propõe um jogo de dentro e fora, tanto na forma da coluna (lado externo e interno do “U”), como no conteúdo das duas imagens que foram fixadas e dobradas acompanhando a forma das colunas. Uma fotografia tem um muro que se dobra para incluir em seu interior uma única árvore; e a outra é como uma imagem espelhar: um muro se dobra para excluir uma árvore do seu interior. “Espelho” mescla a exuberância da figuração natural com a urbana, diálogo que perpassa todas as obras da mostra.
Formado por três obras, o conjunto “Performance” reutiliza a mesma pintura de Moacir Andrade que agora é transformada em objeto-fetiche que o artista tentou reproduzir à lápis em tamanho natural. Em seguida, observa-se outra paisagem amazônica em grafite, agora produzida por um artista popular e que teve parte apagada por Sávio Stoco. O último quadro mostra uma borracha escolar branca solitária em uma moldura toda branca.
O conjunto que pretende mais interação com o espaço expositivo está no trio de fotografias em que o tema urbano é bastante explorado e práticas observadas na capital amazonense são criticadas. Em “Árvore”, vemos uma fotografia emoldurada tradicionalmente, porém localizada rente ao chão como está disposto o pedaço de tronco de árvore robusto na imagem fotográfica que serve de aparador para uma pequena árvore de Natal.
Em “Condicionado” , a imagem que de um tronco cortado ainda enraizado, todo acimentado ao redor, foi disposta muito próxima do aparelho de ar condicionado do interior da galeria, já que a fotografia também exibe em sua parte superior um aparelho de mesmo tipo, tão comum nos ambientes internos de Manaus.
Já em “Estacionamento” , nos deparamos apenas com uma folha de papel A4, simples, contendo uma mensagem orientando ao observador procurar a obra no estacionamento de carros na frente da Funarte MG. A mensagem é acompanhada de uma reprodução precária da fotografia que deveríamos estar observando. A fotografia mostra outra árvore cortada em destaque, próxima a um carro estacionado e se remete à grandiosa frota de carros particulares nos grandes centros da Amazônia. “São detalhes marginais nas fotografias, mas que acabaram guiando as escolhas para compor essas maneiras específicas de exposição e consequentemente das leituras”, explica Sávio Stoco.
“Amazonas, Esfinge” contou com acompanhamento criativo do artista acreano, radicado em Manaus, Roberto Evangelista, um dos principais nomes regionais reconhecido nos circuitos de arte contemporânea brasileira, com mostras no exterior.
A exposição é dedicada ao antropólogo Etienne Samain, professor do Instituto de Artes da Unicamp e ao comunicólogo Tom Zé (Antônio José Vale da Costa), professor do departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). “A sensibilização direcionada à reflexão por imagens que o primeiro promove em suas disciplinas na pós-graduação, nortearam boa parte dos processos criativos. Já o segundo foi definitivo nos primeiros contatos e envolvimento com a fotografia”, disse o artista.
SÁVIO STOCO graduado em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas (2008). Especialista em Artes Visuais: Cultura e Criação (Senac) e em Produção, Direção e Criação em Cinema (Uninorte). Pesquisador integrante do Núcleo de Antropologia Visual (Navi) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam); com o qual já realizou produção e curadoria da Mostra Amazônica do Filme Etnográfico. Em 2010 ganhou a Bolsa Funarte Reflexão Crítica em Mídias Digitais para realizar a pesquisa “Híbridos – A Imagem Digital nas Artes Amazonenses”. Desde 2008 integra o Coletivo Difusão, grupo de artes integradas de Manaus integrante co Circuito Fora do Eixo com o qual desenvolve grande parte de sua produção videográfica, como o curta-metragem documental Janela para o Outro – Homenagem a Narciso Lobo, co-direção com Michelle Andrew, Prêmio do Júri no Amazonas Film Festival 2009. Em 2011 cursou disciplinas como aluno especial e ouvinte no programa de pós-graduação Meios e Processos Audiovisuais da Escola de Comunicação de Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) e no programa Multimeios do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No mesmo foi vencedor do Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, Prêmio de Artes Visuais Viva da Fundação Municipal de Cultura (Manauscult), Prêmio Especial do Júri no Amazonas Film Festival, com o documentário ensaístico Rito de Morte, Prêmio Djalma Limongi de Audiovisual (Manauscult), Prêmio Narciso Lobo de Literatura (Manauscult) e Menção honrosa no Prêmio Cosme Alves Neto de Ensaio de Cinema no Prêmio Literário Cidade de Manaus.
Serviço
Campos Migratórios – Daniel Escobar
Amazônia, Esfinge – Sávio Stoco
Abertura: quinta-feira, 02 de fevereiro, às 19h
Exposição: De 02 de fevereiro a 02 de março de 2012
Local: Funarte MG
Endereço: Rua Januária, 68, Floresta, Belo Horizonte
Horário: Segunda a sexta das 10 às 18h
Informações: funartemg@funarte.gov.br
Telefones: (31) 3213-3084 e (31) 3213-7112
Entrada Gratuita
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