Documentários sobre quilombolas e caiçaras são lançados no Paraná

O lançamento de dois documentários sobre culturas populares está marcado para a segunda-feira, dia 7 de maio, na Cinemateca de Curitiba. “Quilombolas das Lauráceas” é o retrato de comunidades descendentes de escravos fugitivos, que conservam sua cultura e processos para extrair sua sobrevivência da natureza. Já “Trânsitos Caiçaras em redes fandangueiras”, é baseado nas rotas, por mar e terra, usadas habitualmente pelos pescadores nativos, e numa expressão cultural que os une: o fandango. O projeto dos documentários foi realizado com recursos da Bolsa Funarte de Produção Crítica em Culturas Populares e Tradicionais 2010.

A proposta dos filmes é registrar sentimentos e significados culturais de contextos culturais diferentes, mas que revelam expressões estéticas da relação homem/natureza. Os autores buscaram trazer para a linguagem audiovisual as culturas das populações locais, das regiões situadas desde a região do Vale do Ribeira – entre o sul de São Paulo e o leste do Paraná – até o litoral. Estas seriam regiões de fronteiras, não geopolíticas, mas sim simbólicas, entre o Paraná e São Paulo. Os documentários tratam, ainda, de relações culturais e sociais destas áreas fronteiriças. Eles registram visões de mundo, técnicas e conhecimentos tradicionais, objetos do cotidiano, instrumentos musicais, moradias, danças, expressões corporais e musicais. “Estes elementos articulam as redes de parentesco e formas específicas de organização social daqueles locais”, explica Flavio Rocha, diretor dos documentários. Nas obras, as pesquisadoras Patrícia Martins, Jandaíra Moscal e Tatiana Kaminski retratam desde oos modos de produção e de arte quilombola, em cestos e telhados de casa, até os bailes de fandango, em apresentações, festas comunitárias ou casamentos

Os realizadores encaram a produção também como ação política. Nas duas obras, as pesquisadoras também buscam retratar os modos pelos quais as comunidades produzem transformações sociais e culturais e lutam por sua permanência nos locais onde vivem. A temática é pautada pela proposta de continuidade das interações relação homem/natureza. “Ela mostra ser urgente o diálogom, não somente dos quilombolas e fandangueiros, mas também das instituições que podem auxiliar na promoção da defesa dos direitos culturais destes povos e seus territórios”. O lançamento tem como convidados pessoas que representam essas instâncias, e contará com uma breve apresentação dos realizadores.

Os documentários O filme “Quilombolas das Lauráceas”, de Jandaira Santos Moscal Moscal e Tatiana Kaminski, registra a vida de comunidades quilombolas do Vale do Ribeira paranaense, que conservam seus processos culturais. O Parque Estadual das Lauráceas é o ponto de partida do documentário, que reúne amostras do diverso conhecimento popular da região, de vales montanhosos e de difícil acesso. Não é à toa que o lugar foi escolhido como refugio para negros que escapavam da escravidão, que construiram Casas de barro e chão de terra batida, com estrutura de madeira, no estilo pau-a-pique, cobertas por sapê e amarradas com cipó. Pilões, monjolos, escascadores e peneiras, instrumentos que auxiliam o dia a dia do local, até hoje. Canoas de tronco são só meios de locomoção nos rios. Já a obra “Trânsitos Caiçaras” documenta os vários caminhos, por mar ou por terra, em barcos, canoas, em veículos ou a pé, percorridos pelos pescadores nativos, os caiçaras, e de que modo a vida deles seria articulada pelo fandango. A dança, antigamente considerada “licenciosa”, ainda hoje recria seus laços, de parentesco, compadrio ou vizinhança. Novas dinâmicas de circulação do fandango unem-se àquelas consideradas tradicionais. Assim constituem-se circuitos de apresentações, bailes e festivais, que tem conectado tocadores e dançadores de todas as idades, das regiões do Marujá, Ariri, Juréia, Cananéia, Iguape, Agrossolar, Paranaguá, Ilha do Superagui e Ilha dos Valadares.

As comunidades tradicionais documentadas nesse trabalho retiram os recursos diretamente da natureza e o respeito a ela é a marca deste extrativismo. “As populações desses locais bem sabem que desse manejo equilibrado depende a garantia do seu futuro. Eles acumularam muitos conhecimentos, por exemplo, sobre a mata atlântica, que merece ser mantido e enaltecido, para a sustentabilidade cultural dos territórios”, diz Flavio Rocha”. Mas, segundo ele, com a ocupação não planejada e restrições ambientais, o uso dos recursos naturais e dos saberes e fazeres tradicionais daquelas regiões estão comprometidos. Nilton Morato, Morador de uma das comunidades quilombolas, destaca: “Parte da história do nosso povo só poderá ser resgatada quando a sociedade respeitar os nossos ancestrais”.

Lançamento de documentários sobre culturas populares e tradicionais
7 de maio de 2012, segunda-feira, às 19hs

“Quilombolas das Lauráceas”
Pesquisa: Jandaira Santos Moscal Moscal e Tatiana Kaminski
Direção: Flavio Rocha

“Trânsitos Caiçaras”
Pesquisa: Patricia Martins
Direção: Flavio Rocha
Local: Cinemateca de Curitiba
Endereço: Rua Carlos Cavalcanti, Nº 1174
Curitiba (PR)

Projeto contemplado com a Bolsa Funarte de Produção Crítica em Culturas Populares e Tradicionais 2010

Mais informações
E-mail: patricia.martins@ifpr.edu.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *