Direitos humanos e ancestralidade em mostra de dança na Funarte SP

A ancestralidade da cultura japonesa em coreografia de Emilie Sugai. Foto: silas Costa Pinto

Entre 30 de agosto e 2 de setembro de 2012, a Sala Renée Gumiel do Complexo Cultural Funarte São Paulo recebe mais duas novas vertentes da dança contemporânea brasileira. A sala apresentará obras da Cia Balé Baião, encabeçada pelo intérprete-criador cearense Gerson Moreno, e espetáculos da coreógrafa e dançarina de butoh Emilie Sugai.

Há 18 anos dedicada à pesquisa de conceituação e estetização das angústias humanas por justiça e liberdade, a Cia Balé Baião traz à Funarte SP dois espetáculos: Cumplicidade na contramão e Lamentos e gozos da Imperatriz de Itapipoca.

A segunda convidada do Interlocuções poéticas é a coreógrafa e dançarina de butoh Emilie Sugai, discípula do diretor Takao Kusuno e autora de uma linguagem estética construída a partir de suas próprias inquietações – na arte e na vida – e ancestralidade. Emilie Sugai apresentará, na Sala Renée Gumiel, os espetáculos solo Tabi e Lunaris, o mundo que passa.

Selecionado por edital público, o projeto Interlocuções poéticas oferece desde 25 de maio, a preços populares ou com entrada franca, uma programação que congrega espetáculos e encontros para debate, criação de redes, capacitação profissional e produção de conhecimento em dança contemporânea.

Cumplicidade na contramão
O coreógrafo Gerson Moreno fez de sua militância em movimentos sociais pela defesa dos direitos humanos, nos anos 80 e 90, uma das principais inspirações para seus trabalhos.
Com base nessa vivência, o artista leva ao palco uma homenagem às pessoas que se engajaram e, muitas vezes, perderam a vida pela causa da justiça e da dignidade humana na América Latina e no Brasil. Cumplicidade na contramão se apresenta, nas palavras do grupo, como um “bailado de teimosas esperanças/ De caminhos e descaminhos latino-americanos”.

Tabi
Tabi, em japonês, significa viagem. Neste espetáculo de Emilie Sugai, é a representação da busca da artista por suas raízes e ancestralidade. “Não se trata de um resgate histórico da imigração japonesa no Brasil, mas sim dos questionamentos a partir do meu corpo, misturando fragmentos de memórias tanto individuais quanto coletivas – deste corpo que carrega genes e sangue japonês e, paradoxalmente, o modo de ser brasileiro”, declara a artista, que é neta de imigrantes japoneses.

A base da coreografia, que estreou em 2002 em São Paulo, são os treinos e as lições aprendidas com o diretor Takao Kusuno, como a técnica do suriashi (deslizamento com os pés, numa interiorização corporal de “infinitos sentimentos envolvidos”). Segundo a coreógrafa, “os pés, em Tabi, são a possibilidade do indivíduo que caminha na busca de uma realização interna de transformações”.

Lamentos e gozos da Imperatriz de Itapipoca
O trabalho Lamentos e gozos da Imperatriz de Itapipoca nasceu da colaboração de três coreógrafos nacionais reunidos por residências de criação no Galpão da Cena de Itapipoca (CE), em 2010: Marcelo Evelin (PI), Andrea Bardawil (CE) e Lia Rodrigues (RJ).

Com direção de Gerson Moreno, o espetáculo é a representação de um diálogo com um pedaço de madeira e com o espaço que se constrói nas relações estabelecidas entre os corpos de sete intérpretes-criadores.

Lunaris: o mundo que passa
Neste solo de dança-teatro, com direção de Joel Pizzini, Emilie Sugai protagoniza uma interface artística entre a linguagem do corpo e a imagem da lua, refletida na obra zen-budista do escritor e poeta japonês Matsuó Bashô (1644-1694). Num ensaio poético narrado entre luzes e sombras, o corpo da dançarina recria formas ancestrais das personas de um guerreiro, um pescador e uma anciã que vagueiam em torno de um lago, contemplando a lua.

O texto Elogio à sombra, escrito em 1933 por Junichiro Tanizaki, sobre a concepção japonesa de beleza do mundo arcaico, é outra fonte de inspiração deste espetáculo. A noção de transitoriedade da existência, a natureza integrada à vida e a apreciação das sombras e da obscuridade propõem o diálogo entre o mundo atual e o antigo por meio da recriação de culturas.

Sobre Emilie Sugai e o butoh: Butoh é uma palavra de origem japonesa, surgida no pós-guerra a partir de um movimento criado pelo dançarino Tatsumi Hijikata, de recusa de influências estrangeiras e criação de uma nova forma de observar e realizar a dança, na qual “o corpo era apenas a matéria prima para interpretar a alma da pessoa e seus movimentos mostravam o pensamento e a vida”.

Em 1986, Kazuo Ohno, o mais importante dançarino de butoh em atividade na época, inspirou e influenciou jovens dançarinos brasileiros ao visitar o país, a convite do diretor Takao Kusuno, dentro do espírito e do conceito butoh de dança. Contrapondo-se à valorização crescente da forma, Kazuo Ohno preocupou-se em reposicionar a linguagem do Butoh na sua origem: o rito da vida.

Emilie Sugai foi discípula de Takao Kusuno, difusor do butoh no Brasil, falecido em 2001. Com seu trabalho, a artista recebeu vários prêmios, entre eles o do programa de bolsas para artistas Unesco Aschberg, com três meses de estágio no Senegal. Através do Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, a dançarina recebeu incentivo para apresentar a peça Totem em várias cidades do Estado de São Paulo. Nesta turnê, Emilie sugai fez questão de se apresentar no Teatro da comunidade japonesa Yuba, em Mirandópolis (SP).

Serviço:

Projeto Interlocuções poéticas
Contemplado pelo Edital de Ocupação da Sala Renée Gumiel do Complexo Cultural Funarte SP. Alameda Nothmann, 1058, Campos Elíseos, São Paulo, SP. Tel (11) 3662-5177
Coordenação geral: Solange Borelli | Equipe de produção: Selene Marinho, Djalma Moura, Pedro Borelli e Claudethe Silveira| Assessoria de imprensa e divulgação: Leonardo Almeida |Realização: Radar cultural – Gestão e projetos

Espetáculo: Cumplicidade na contramão
Dia 30 de agosto | Quinta, 19h

Com: Cia. Balé Baião de dança contemporânea (CE)
Concepção, criação e interpretação: Gerson Moreno | Trilha sonora e produção: Cacheado Braga
Duração: 25 min. | Recomendação etária: 14 anos
Ingressos: R$ 10 (meia entrada: R$ 5). Bilheteria abre uma hora antes do espetáculo – um ingresso por pessoa
Assista aqui e aqui

Espetáculo: Tabi
Dias 30 e 31 de agosto | Quinta e sexta, 19h45

Criação e interpretação: Emilie Sugai(SP)
Atrizes convidadas: Dorothy Lenner e Marilda Alface | Espaço cênico: Hideki Matsuka | Trilha sonora: Flávia Calabi | Iluminação: Hernades de Oliveira | Adaptação da luz: Arinagô | Apoio para ensaios: Associação da Província de Tochigi | Realização: Cooperativa Paulista de Teatro – Núcleo Tabi
Duração: 45 min. | Recomendação etária: 14 anos
Ingressos: R$ 10 (meia entrada: R$ 5). Bilheteria abre uma hora antes do espetáculo – um ingresso por pessoa
Mais informações: www.emiliesugai.com.br

Espetáculo: Lamentos e gozos da Imperatriz de Itapipoca
Dias 31 agosto, 1 e 2 de setembro | Sexta e sábado, 19h, domingo, 18h

Com: Cia Balé Baião de dança contemporânea (CE)
Direção: Gerson Moreno | Intérpretes-criadores: Cacheado Braga, Edileusa Inácio, Edilene Soriano, Glaciel Farias, Gerson Moreno, Roniele de Souza, Viana Júnior | Apoio técnico: Gidalto Paixão
Duração: 45 min. | Recomendação etária: livre
Ingressos: R$ 10 (meia entrada: R$ 5). Bilheteria abre uma hora antes do espetáculo – um ingresso por pessoa
Assista aqui e aqui

Espetáculo: Lunaris: o mundo que passa
Dias 1 e 2 de setembro | Sábado, 19h45, domingo, 18h45

Criação e interpretação: Emilie Sugai (SP)
Direção: Joel Pizzini | Assistência de direção: Gianni Toyota | Espaço cênico e figurinos: Telumi Hellen | Iluminação: André Boll | Colaboradores da trilha sonora: Michelle Agnes, Celio Barros e Livio Tragtenberg | Colaboração conceitual: Sergio Medeiros | Colaboração na preparação dos movimentos: Rodrigo Ramos | Confecção do objeto “sombrinha”: Clau do Carmo | Confecção dos figurinos: Atelier de Costura Salete | Apoio para ensaios: Associação da Província de Tochigi | Produção: Cooperativa Paulista de Teatro – Núcleo Tabi
Duração: 60 min. | Recomendação etária: 16 anos
Ingressos: R$ 10 (meia entrada: R$ 5). Bilheteria abre uma hora antes do espetáculo – um ingresso por pessoa

Grupo de estudo: Formação de público para a dança contemporânea
De 18 de julho a 18 de setembro | Quartas, das 15h às 17h
Entrada franca

Coordenação: Solange Borelli (mestre em Artes pela Unicamp e coordenadora geral do Interlocuções Poéticas)

O grupo realiza encontros semanais e parte da ideia de que é nas relações que se possam estabelecer entre a dança e a plateia que nasce a estetização do cotidiano.

Improviso acústico: Jam de dança
Dias 5 e 19 de setembro | Quartas, das 19h30 às 21h30
Entrada franca

Com: Ricardo Neves (ator e bailarino) e Mauricio Fernandes (músico e guitarrista)
*não é necessário inscrição prévia, apenas chegar com 15 minutos de antecedência com trajes adequados para a prática de atividades corporais.

Ensaios abertos: Residências artísticas
Núcleo Coletivo 22
Quartas, das 21h às 22h

E2 Cia. de Teatro e Dança
Quintas, das 11h às 13h

Mais informações: interpoeticas@radarcultural.com.br ou http://interlocucoespoeticas.blogspot.com.br

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