A primeira semana de setembro no projeto Interlocuções poéticas, selecionado por edital da Funarte para ocupar a Sala Renée Gumiel (SP), abriga criações artísticas construídas a partir dos olhares diferenciados das bailarinas Andréia Nhur e Janice Vieira, do Grupo Pró-Posição, e Érica Tessarolo.
Janice Vieira e Andréia Nhur, mãe e filha, apresentam Vis-à-vis, uma composição das lembranças de ambas, em momentos distintos. Érica Tessarolo, que é também artista plástica, baseia-se na obra o pintor irlandês Francis Bacon, Três estudos para figuras ao pé de uma crucificação, para desenvolver sua coreografia Para ver o azul da carne. Os dois espetáculos estarão em cartaz de 6 a 9 de setembro de 2012.
Mas a semana do Interlocuções poéticas já começa dia 5 de setembro, com uma jam session de dança gratuita, coordenada pelo bailarino e ator Ricardo Neves e pelo guitarrista Maurício Fernandes. A partir da premissa de que “tudo o que sentimos e pensamos gera movimento”, estes dois artistas convidam bailarinos, atores, performers e estudantes de artes para um exercício de improviso em dança.
No evento – que se repete em 19 de setembro – , os participantes terão a oportunidade de praticar técnicas de relaxamento e de improvisação e aplicar alguns movimentos baseados nos princípios do Aikidô. Ricardo Neves é diretor artístico do Encontro internacional de contato improvisação de São Paulo, e praticante de Aikidô desde 2006. Maurício Fernandes atua há mais de 20 anos nos palcos brasileiros e é autor dos CDs Vento impetuoso, Do começo ao fim e Move on.
A programação da primeira semana de setembro contará, ainda, com uma homenagem especial à coreógrafa francesa Renée Gumiel, que dá nome à sala onde se desenvolve o Interlocuções poéticas. Considerada uma das pioneiras da dança moderna no Brasil, Renée morreu em São Paulo, em 10 de setembro de 2006. Para celebrar esta data, a mostra apresenta domingo, dia 9 de setembro, Leitura dramática de Ohio impromptu – Beckett, um projeto de Carlos Alberto da Conceição Teixeira que agrega teatro, dança e música em torno de outro artista irlandês: o escritor Samuel Beckett.
Vis-à-vis
Terceiro trabalho da parceria entre as bailarinas Andréia Nhur e Janice Vieira, Vis-à-vis, expressão francesa que significa “frente a frente”, sucede uma trilogia da dupla sobre a relação entre mãe e filha: Swan – corpo adaptado (2007), O cisne, minha mãe e eu (2008), e Linhagens (2009). Mas esta nova proposta difere das anteriores por sua abordagem politizada. Janice traz uma lembrança engajada dos anos 60 e 70, período da ditadura militar. Em 1973, a bailarina fundou, ao lado de Denilto Gomes, o Grupo Pró-Posição – extinto em 1883 e relançado em 2008. E Andréia viveu, na infância, as transformações sociais que acompanharam a década de 1980. “Queria saber como esses períodos conversavam entre si”, explica Andréia.
Para ver o azul da carne
Primeiro solo de dança contemporânea com concepção, criação e direção coreográfica da bailarina e artista plástica Érica Tessarolo, Para ver o azul da carne estreiou em junho de 2010 e foi contemplado, no ano seguinte, pelo Programa de Ação Cultural/ProAC, da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. O trabalho busca possibilidades para uma investigação de movimento e coreografia na obra Três estudos para figuras ao pé de uma crucificação, do pintor irlandês Francis Bacon.
O inesperado das carnes azuladas do artista irlandês sugeriram a Érica a cor azul como uma metáfora para sua dança, “alimentando a busca pelo inusitado do seu corpo”. Para ver o azul da carne também é fruto de uma pesquisa iniciada em 2007, a partir do envolvimento da artista com coreógrafos que trabalham na intersecção entre diferentes linguagens artísticas.
Sobre o grupo Pró-Posição – Fundado em 1973 em Sorocaba (SP), pelos bailarinos Denilto Gomes (1953-1994) e Janice Vieira, o grupo tinha como proposta marcar uma posição frente à conjuntura política daquela época no Brasil. Entre os anos 70 e 80, o Pró-Posição integrou o movimento do Teatro Galpão (Teatro de Dança) e da Oficina Nacional de Dança Contemporânea da Bahia. Entre as principais criações desta época, estão: Boiação (1976), Silêncio dos pássaros (1978), Sacrário (1978), Pranto por Ignácio Sanchez Mejia (1979) e Como sói acontecer (1980). Em 2008, após 25 anos de suspensão de suas atividades oficiais, o grupo foi relançado através da parceria entre Janice Vieira e sua filha, Andréia Nhur. Desde então, o Pró-Posição tem desenvolvido projetos artísticos e circulado por mostras nacionais e internacionais. Desde 2007, foi premiado quatro vezes pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, através do ProAC (2007,2008,2009 e 2011). Janice Vieira é bailarina, coreógrafa e acordeonista. Teve em sua formação nomes como Maria Olenewa, Alwin Nikolais e Maria Duschenes, com quem estudou por mais de dez anos. Em 1975, participou do American Dance Festival, no Connecticut College (EUA), onde tomou contato com técnicas diversas de dança moderna. Andréia Nhur é atriz, bailarina e pesquisadora, doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC‐SP, sob orientação de Helena Katz, e graduada em Dança pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 2011, desenvolveu estágio doutoral no Departamento de Dança da Université de Paris 8 (França), sob orientação de Isabelle Launay.
Sobre Érica Tessarolo – Bailarina, coreógrafa e artista visual, Érica Tessarolo completou o bacharelado em Artes Plásticas, pela Unicamp, em 2002. Especializou-se em Pintura, tendo participado de várias exposições, e fez aulas de dança com as professoras Daniele Calichio (dança contemporânea), Viviane Procópio (modern-jazz) e Rachel Gouvêa (improvisação). Completou o bacharelado em Dança, também pela Unicamp, em 2008. Co-fundou e integrou o In vitro grupo de dança, produzindo o espetáculo Depois do verde, com direção de Angela Nolf. Desenvolveu os solos Tu não te moves de ti, Quimera e A figura e o fato, com direção de Marisa Lambert. Em 2007, foi estagiária da Cia Borelli de Dança, acompanhando a remontagem do espetáculo O processo e da nova montagem de Carne Santa. Nesse mesmo ano passou a integrar a Cia fragmento de dança, da coreógrafa Vanessa Macedo, onde atuou até 2010. Integrou a Cia perdida, da coreógrafa Juliana Moraes, sendo criadora-intérprete do espetáculo (depois de) Antes da queda. Em 2010, desenvolveu o solo Para ver o azul da carne, participando dos eventos “Semanas de Dança – Diálogos”, do CCSP, e “Primeiro Passo” do Sesc Pompéia. Atualmente integra projeto de pesquisa da Cia perdida, contemplado pelo Programa de fomento à dança da Prefeitura de São Paulo, e continua a investigação artística autoral na qual relaciona a obra do pintor Francis Bacon com sua dança. Mantém, ainda, o blog http://abridela.blogspot.com , com reflexões e trabalhos artísticos antigos e atuais.
Serviço:
Projeto Interlocuções poéticas
Contemplado pelo Edital de Ocupação da Sala Renée Gumiel do Complexo Cultural Funarte SP. Alameda Nothmann, 1058, Campos Elíseos, São Paulo, SP. Tel (11) 3662-5177
Coordenação geral: Solange Borelli | Equipe de produção: Selene Marinho, Djalma Moura, Pedro Borelli e Claudethe Silveira| Assessoria de imprensa e divulgação: Leonardo Almeida |Realização: Radar cultural – Gestão e projetos
Improviso: Jam de dança
Dias 5 e 19 de setembro | Quartas, das 19h30 às 21h30
Entrada franca*
Com: Ricardo Neves (ator e bailarino) e Mauricio Fernandes (músico e guitarrista)
*não é necessária inscrição prévia; chegar com 15 minutos de antecedência com trajes adequados para a prática de atividades corporais.
Ensaios abertos: Residências artísticas
Núcleo Coletivo 22 – Quartas, das 21h às 22h
E2 Cia. de Teatro e Dança – Quintas, das 11h às 13h
Entrada franca
Espetáculo: Vis-à-vis
Dias 6, 7, 8 e 9 de setembro | Quinta, sexta e sábado, 19h; domingo, 18h
Com: Grupo Pró-Posição (Sorocaba, SP)
Criação/interpretação: Janice Vieira e Andréia Nhur | Concepção musical: Janice Vieira | Colaboração artística: Isabelle Launay e Roberto Gill Camargo | Produção: Dudu Oliveira | Iluminação: Roberto Gill Camargo
Duração: 35 min. | Recomendação etária: livre
Ingressos: R$ 10 (meia entrada: R$ 5). Bilheteria abre uma hora antes – um ingresso por pessoa
Assista ao clipe aqui
Espetáculo: Para ver o azul da carne
Dias 6, 7, 8 e 9 de setembro | Quinta a sábado, 19h45; domingo, 18h45
Concepção, criação e interpretação: Érica Tessarolo
Música: Daniel Dias | Luz: André Prado | Figurino: Mariana Costa | Fotografia: Cris Lyra | Produção executiva: Alessandra Souza
Duração: 40 min. | Recomendação etária: livre
Ingressos: R$ 10 (meia entrada: R$ 5). Bilheteria abre uma hora antes – um ingresso por pessoa
Assista ao clipe aqui
Leitura Beckett – Ohio impromptu – uma homenagem a Renée Gumiel
Dia 9 de setembro | Domingo, às 15h
Idealização, interpretação e direção: Carlos Alberto da Conceição Teixeira | Texto: Samuel Beckett (tradução para o português de Maria Helena Kopechitz) | Cenário e figurino: F. E. Kokocht | Preparação vocal: Sandro Bodlon | Iluminação: Nezito Reis | Fotos: Jesus Carlos | Documentação: Adhemar Petti Filho | Projeto do Núcleo de pesquisa em artes e cultura Uirapuru visível
Duração: 85 min. | Recomendação etária: livre
Entrada franca
Grupo de estudo: Formação de público para a dança contemporânea
De 18 de julho a 18 de setembro | Quartas, das 15h às 17h
Entrada franca
Coordenação: Solange Borelli (mestre em Artes pela Unicamp e coordenadora geral do Interlocuções poéticas)
O grupo realiza encontros semanais e parte da ideia de que é nas relações que se possam estabelecer entre a dança e a plateia que nasce a estetização do cotidiano.
Mais informações: interpoeticas@radarcultural.com.br ou http://interlocucoespoeticas.blogspot