“Não gosto, não quero ser o autor oficial, não quero ter uma consagração definitiva, gosto que existam várias opiniões a meu respeito. A consagração, o sucesso, não fazem nenhum bem ao artista: o sucesso corrompe tanto quanto o dinheiro. Seria melhor que o autor, até o último dia de sua vida, fosse combatido, sofresse um massacre, porque isso seria um estímulo vitalíssimo para ele. Quando fui vaiado no Municipal, e o fui duas vezes e com a maior violência, achei isso uma experiência fantástica.”
Nelson Rodrigues
A Funarte encerrou, na noite do dia 31 de agosto, no Teatro Dulcina, Rio de Janeiro, a mostra “A gosto de Nelson”. Aberta em 1º de agosto, a programação reuniu as 17 obras de dramaturgia de Nelson Rodrigues, em comemoração ao centenário do escritor e jornalista, nascido no dia 23 de agosto. Com ingressos a preços populares, a programação ocupou dois dos teatros da Instituição, no Rio, o Glauce Rocha e o Dulcina – que recebeu o espetáculo de encerramento, “A Serpente”, montagem do Teatro do Pequeno Gesto (RJ). O diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, Antonio Gilberto, encerrou oficialmente o evento. Estavam presentes Nelson Rodrigues Filho e Crica Rodrigues, neta do dramaturgo, entre outros artistas e personalidades.
A mostra reuniu montagens de grupos de dez estados, de todas as regiões do Brasil. Os projetos foram contempladas no edital do Prêmio Funarte Nelson Brasil Rodrigues – 100 anos do Anjo Pornográfico, lançado em janeiro. Os trabalhos foram selecionados por uma comissão de especialistas, que se preocupou em contemplar o maior número possível de regiões do país, para que cada grupo representasse sua região e sua proposta de linguagem teatral específica. Artistas de Rondônia, Ceará, Pernambuco, Bahia, Goiás, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Paraná se apresentaram no festival. Além de A Serpente, as peças encenadas foram: Vestido de Noiva, A Mulher Sem Pecado, Viúva, Porém Honesta; Anti-Nelson Rodrigues; Álbum de Família; Anjo Negro; Dorotéia; Senhora dos Afogados; A Falecida; Perdoa-me Por Me Traíres; Os Sete Gatinhos; Boca de Ouro; Beijo No Asfalto; Otto Lara Resende ou Bonitinha, Mas Ordinária; Toda Nudez Será Castigada; Valsa Nº 6.
Nelson Rodrigues filho explica que “A gosto de Nelson” foi ideia sua e de Crica, sua filha. A iniciativa foi iniciada em parceria com a Funarte, na exposição Nelson Brasil Rodrigues – Cem Anos do Anjo Pornográfico – em cartaz de 31 de janeiro a 30 de dezembro de 2012, no Glauce Rocha – que traz fotos, depoimentos de Nelson e do elenco das montagens originais e objetos pessoais do escritor. “A Funarte assumiu maravilhosamente o ‘A Gosto de Nelson’, fazendo o edital com as 17 peças, garantindo que toda a obra teatral estivesse aqui no Rio de Janeiro, cidade que o velho assumiu como sua, num festival sensacional, que nunca houve no Brasil”, afirmou o filho do dramaturgo.
Antonio Gilberto, diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, destacou que todas as apresentações foram sucesso de público. Para ele, elas revelaram a diversidade da produção cultural brasileira. “Foi difícil para a comissão selecionar os projetos para o Prêmio, já que os inscritos foram muitos. O foco foi contemplar todos as regiões do Brasil e entender como Nelson é encarado, dentro e fora do eixo Rio-São Paulo. No ‘A Gosto de Nelson’, o público se aproximou da obra do dramaturgo e também de um panorama do teatro brasileiro contemporâneo. Foi possível ver como grupos de diversos lugares montam suas peças, tão fortes e universais. Além de grande autor teatral, romancista e cronista, o homenageado marcou nossa cultura, pela forma como ele se posicionava, como artista e cidadão. Sinto-me honrado por ter participado desta realização, junto com toda a equipe do Ceacen e da Coordenação de Teatro da Funarte. Agradeço a Nelson Rodrigues filho, a Crica Rodrigues, a todos os funcionários da Funarte e aos jurados Angel Palomero, Celso Lemos, Colmar Diniz, Jefferson Miranda e Maurício Gonçalves que trabalharam para a realização desta homenagem.”
“Meus dramas são como a luz do sol caindo sobre o pântano. Talvez algum dia o sol mude de lugar, mostrando, então, outras partes da paisagem humana.
Meus personagens são retirados da vida real e da vida irreal. Esta mistura é que faz o meu elenco: realidade e irrealidade, delírio, alucinação, objetividade.”
Nelson Rodrigues