Marcelo Velloso, chefe da Representação Regional do MinC no Rio de Janeiro/Espírito Santo, foi o mediador da mesa temática O papel das redes na produção cultural contemporânea, que norteou os debates da manhã desta quarta (14/11), último dia do II Encontro Funarte de Políticas para as Artes, que reuniu, no Auditório Muniz Aragão, do Palácio Gustavo Capanema, os convidados Jailson de Souza, do Observatório das Favelas; Davi Alexandrinsky, da Comissão Nacional de Pontos de Cultura; Ivana Bentes, do Pontão da ECO/UFRJ; Marcus Faustini e Igor Lopes, ambos da Agência Redes para a Juventude.
O coordenador-geral do Observatório das Favelas, Jailson de Souza, iniciou a discussão sobre a questão Pressupostos para a democratização das políticas das artes e consequências possíveis, afirmando que a arte, como forma de significação da vida, é fundamental. Jailson reforçou que os agentes culturais precisam de “mais oportunidades para dar ainda mais força na criação e na produção de coisas interessantes”. O geógrafo destacou também a contribuição que as Unidades de Polícia Pacificadora, implantadas pelo governo estadual nas áreas de conflito, trouxeram para as artes. “A UPP permitiu a maior circulação na cidade; o que temos hoje, na verdade, é mobilidade geográfica”, disse Jailson.
O tema foi ampliado pelos representantes da Agência Redes para a Juventude, Marcus Faustini e Igor Lopes, que falaram sobre A linguagem e a vida são uma coisa só: A metodologia da Agência de Redes para a Juventude. Autor do documentário Carnaval, bexiga, funk e sombrinha (2006) e do livro Guia afetivo da periferia (2009 – Editora Aeroplano), Marcus Faustini conhece bem a criatividade da juventude das áreas mais carentes da cidade. O gestor explicou que o jovem da favela é criador. “Na metodologia da Agência Redes ele não vem ser aluno, ele vem com idéias”, afirmou. E pontuou com uma das frases de que mais gosta: “A cultura é quando o quadro não está na parede”. Marcus Faustini falou ainda sobre inovação, sobre como usar o capital para a vida e não só para a produção cultural e disse o que espera da sociedade na comunicação: “Quero uma sociedade de encontro, me relacionar com o outro e dinamizar a ação”.
Em seguida, o jovem colaborador da Agência Redes, Igor Lopes, falou sobre o seu projeto CDD na tela, classificado no edital Agente Jovem de Cultura do MinC. “A gente percebeu que o projeto não era só uma TV online, nós tínhamos que mobilizar a comunidade para participar. O jovem de comunidade quer ser ouvido, quer fazer evento importante sem se preocupar com a violência que existe naquele local.” Igor disse que deseja ver cada vez mais jovens participando e desenvolvendo idéias, não só para as comunidades, mas para a cidade como um todo.
Ivana Bentes, que coordena o Pontão da ECO/UFRJ falou sobre Redes, plataformas e labs. “A produção da linguagem é transversal, totalmente casada com a comunicação. A meta é incidir políticas públicas estruturantes – ambientes territoriais com ambientes de rede”, explicou Ivana. A professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro disse, ainda, que as instituições precisam fomentar e apoiar os circuitos de rede, adotando “políticas públicas de incidência que assegurem a produção em terra digital.”
O programa Cultura Viva do Ministério da Cultura foi um dos focos dos debates, no último dia da segunda edição do Encontro Funarte de Políticas para as Artes. David Alexandrinsky, que integra a Comissão Nacional de Pontos de Cultura, esclareceu que, atualmente, cerca de 2.600 Pontos estão recebendo apoio do programa. Durante o painel Por uma rede sem nós, ele ressaltou que os Pontos de Cultura constituem uma rede dispersa, sem nós. E, que na construção dessa rede, o grande desafio é “estender a corda”. Alexandrinsky defendeu, ainda, que a rede de Pontos de Cultura seja reconhecida como parte do circuito cultural brasileiro.
Lançamento da Coleção Criação Literária e do livro Políticas para as Artes – Encontro Funarte 2011 encerrou a programação
Na parte da tarde, a conferência realizada por Marcos Moraes, com o tema Residência Artística: ambientes de formação, produção e difusão das práticas artísticas contemporâneas encerrou o II Encontro Funarte de Políticas para as Artes, na Sala Portinari, 2º andar do Palácio Gustavo Capanema. Marcos Moraes é curador independente e coordenador do curso de Artes Visuais da Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP (SP) há 15 anos, onde também coordena o programa de residências artísticas. Após a conferência, foi realizado o lançamento dos livros contemplados com a Bolsa Funarte de Criação Literária 2010 e a publicação que reúne o conteúdo do I Encontro Funarte de Políticas para as Artes (2011).
Em sua fala, Marcos Moraes traçou um breve panorama do desenvolvimento histórico do conceito de residência, a partir das viagens patrocinadas pelos mecenas europeus, dos séculos XVII a XIX – em que jovens artistas iam aprender com grandes mestres e usufruir do ambiente de Paris e Roma – e do desenvolvimento atual da atividade, marcado por substanciais diferenças. Segundo Marcos, no geral, a atividade foi incrementada a partir de 1990, com maior difusão para os artistas nos anos 2000.
O curador comentou, também, vários casos de criadores beneficiados pelos programas de residência e mostrou imagens relacionadas. Os exemplos principais vêm de Paris (FR): as residências artísticas da FAAP, com hospedagem no Edifício Lutétia e o projeto de residências, também coordenado por Marcos, na Cité dés Arts. Nestes locais, há residências de seis meses para artistas brasileiros. “Tempo, espaço são os dois conceitos básicos sobre os quais se pode pensar residências artísticas. A noção de tempo mudou, na contemporaneidade. Tudo é mais acelerado, com as novas tecnologias. Mas é preciso dar tempo para o processo artístico – mas um tempo qualificado, em ambientes adequados. É o fator ‘espaço’. Alguns locais tem uma atmosfera árida, o que dificulta. Na FAAP, por exemplo, procuramos criar espaços neutros, mas não despojados demais, adequados para receber os residentes”, comentou o palestrante. “É importante que o artista saia do seu contexto habitual, de sua formação, para, primeiramente, deparar-se consigo mesmo. Um ambiente novo provoca isso; em seguida, vai conviver com outro tipo de sociedade e até leis diferentes. Tudo isso provoca mudanças no processo de produção, o que revela o grande potencial desta atividade nas transformações no trabalho de cada artista”.
Marcos Moraes coordena também o Programa Faap/Fulbright Distinguished Chair in Visual Arts; é doutor em Projeto, espaço e cultura; especialista em Arte, educação e museu pela pela FAU-USP e também em Museologia, pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e em Administração da cultura, pela FGV/SP.
Ana Claudia Souza, diretora do setor que idealizou e organizou o Encontro, o Centro de Programas Integrados (Cepin)/Funarte encerrou o evento. “O Encontro deste ano tem o mérito de ter um foco ajustado, com um tema central. “Interações Estéticas em Rede” foi a partir deste eixo que foi desenvolvida a ação. Em torno dele, se pensou qual é o caminho da criação artística em processos de rede, tais como nas residências artísticas – que tem ligação, por exemplo, com a Bolsa Funarte Interações Estéticas – Residências artísticas em Pontos de Cultura; com as ocupações artísticas, relacionadas, por sua vez, com os editais de ocupação dos espaços direcionados a circo, dança, teatro, música e artes visuais da Funarte; e ainda com o projeto dos laboratórios de arte e tecnologia do Cepin, ligados a novas perspectivas da arte, em parceria com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Além disso, cada um sai do encontro com reflexões úteis e específicas sobre seu fazer cotidiano, o que é muito positivo”. Ana Claudia agradeceu a cada setor da Fundação. “Um trabalho como este só pôde ser realizado com a participação de todos eles”, comemorou.
A partir das 15h, no Mezanino do Palácio Gustavo Capanema, foram lançados os livros contemplados com a Bolsa Funarte de Criação Literária 2010: a Coleção Criação Literária. Os autores, apresentados ao público, foram: Pablo de Carvalho – Recife (PE), contemplado pela trama policial Catracas púrpuras; Tiago Novaes – São Paulo (SP), por Documentário – um mosaico literário, tendo a psicanálise como pano de fundo; Marco Catalão – Campinas (SP), pela coletânea de poemas Sob a face neutra e Ivan Fernandes – Rio de Janeiro (RJ), por Martins e Caetano – Quando o teatro começou a ser brasileiro, ficção histórica sobre o teatro do Brasil. Juntamente com as obras literárias, a Funarte lançou a publicação I Encontro Funarte de Políticas para as Artes, uma compilação e sistematização das informações produzidas no evento do ano passado.