O lançamento de Cartas de João do Rio a João de Barros e Carlos Malheiro Dias, publicado pela Funarte, reuniu na noite desta quinta (25/04), jornalistas, escritores e um grande público, interessados em conhecer a correspondência inédita que o cronista carioca manteve com os dois intelectuais portugueses. O presidente da Fundação Nacional de Artes, Antonio Grassi, que se encontra em Portugal para os eventos do Ano Brasil Portugal, foi representado por Antonio Gilberto, diretor do Centro de Artes Cênicas.
Estiveram presentes ao evento a diretora do Centro de Programas Integrados (Cepin), Ana Claudia Souza; a diretora do Centro de Documentação, Denise Portugal; o gerente de Edições, Oswaldo Carvalho; o coordenador de Dança, Fabiano Carneiro e a coordenadora de Comunicação Camilla Pereira. O escritor, ator e diretor de teatro Sérgio Fonta e o músico, pesquisador e produtor cultural Haroldo Costa também prestigiaram o lançamento.
O diretor de Artes Cênicas e presidente interino da Funarte, Antonio Gilberto, disse que Cartas de João do Rio tem uma grande importância para a literatura e também para o mercado editorial, e demonstra o aprimoramento das edições da Funarte. “Esse lançamento é fundamental por ocorrer durante o Ano Brasil Portugal, com atividades nas artes cênicas, música, literatura e artes visuais, num momento de crise naquele país, em que essa programação foi destaque para os portugueses. Além de João do Rio ser especialmente importante para a cultura carioca – ele fez uma radiografia de uma época e foi também crítico de teatro –, a publicação dessas cartas é muito oportuna.”
O jornalista Zuenir Ventura, que prefaciou a obra, disse que a pesquisadora Cristiania D’Avila realizou um trabalho admirável ao trazer um João do Rio que não era conhecido. “Ele foi um militante de uma causa luso-brasileira, algo até comovente, pois era um momento de muito preconceito contra essa herança portuguesa. E ele propõe essa aliança luso-brasileira, como um projeto nacionalista em reconhecer essa herança.”
Zuenir falou também sobre a figura polêmica do escritor que dividia opiniões. “O João do Rio era amado e odiado, tinha muitos desafetos e muita inveja em torno dele. Essa campanha dele teve muita resistência. Quem ainda acha que João do Rio era um fútil, um escritor da sociedade, vai ver que ele era uma pessoa muito mais séria do que parecia. Ele era um dândi, provocador, agia assim para contestar a hipocrisia da época. O livro é da maior importância. É um trabalho admirável da Cristiane: quatro anos de pesquisa, mais de três mil documentos aqui e em Portugal. E nós,jornalistas, escritores, admiradores de João do Rio, temos que ler essas cartas.”
A diretora do Cepin, Ana Cláudia Souza, destacou a importância da publicação durante o Ano Brasil Portugal, com tantas comemorações e ações de aproximação entre os dois países. “Esse livro mostra como foi a relação do João do Rio através das cartas que ele trocou com o João de Barros e o Carlos Malheiro Dias e como essa correspondência contribuiu para essa virada da lusofobia para a lusofilia, para a aproximação entre Brasil e Portugal. É muito feliz essa edição, pois estamos agora ressaltando essa fraterna convivência entre esses dois países.“
A pesquisadora Cristiane D’Avila contou que já tinha pesquisado a obra de João do Rio durante seu mestrado e, por indicação de seu orientador, Renato Cordeiro Gomes, do Departamento de Letras e Comunicação da PUC-Rio, deciciu investigar esse aspecto, ainda inexplorado da obra e da vida de João do Rio. “O trabalho de pesquisa revelou que essa aproximação acabou por tornar-se o aspecto mais importante da vida pessoal e profissional dele. Descobri um homem extremamente dedicado e envolvido com um aspecto político, e não apenas literário. A jornalista explica que João do Rio travou “uma luta pessoal “ ao tentar aproximar os dois países e que vislumbrava uma posição ambiciosa para o Brasil no cenário internacional. “A visão dele é de um diplomata com ambições de levar o Brasil a uma esfera superior de aproximação com Portugal. E, também, de formação de um grande bloco brasileiro juntamente com os países africanos, até porque se vivenciava um período pós Primeira Guerra. Ele se empenha e acredita que isso, por intermédio da língua e dos interesses econômicos comuns, era possível numa visão estratégica de política internacional que leva seu papel além do de grande repórter e cronista que ele foi.
O livro Cartas de João do Rio a João de Barros e Carlos Malheiro Dias, organização de Cristiane D’Avila, será vendido na Livraria Mário de Andrade, no térreo do Palácio Gustavo Capanema, Rua da Imprensa, 16, no Rio de Janeiro.