A cruz que me carrega, espetáculo de dança contemporâneo-brasileira, concebido pelo Núcleo Pé de Zamba, com direção de Andrea Soares, estreia no Sesc Pinheiros, em São Paulo, nesta terça, dia 25 de junho, dentro da programação do Projeto Fora do Palco, e segue em temporada todas as terças e quartas, até o dia 10 de julho, sempre às 20h30.
Com música ao vivo e um elenco múltiplo composto por bailarinos, músicos e atores, o trabalho foi pensado para espaços não convencionais e se inspira na trajetória da população afro-banto, vinda ao Brasil na condição de escravizada.
Ao investigar aspectos desta migração através das manifestações culturais encontradas na Irmandade de N. Sra. do Rosário de Justinópolis, o grupo identificou reverberações culturais surgidas a partir da chegada destes africanos. “A Irmandade é uma comunidade centenária sediada em Ribeirão das Neves, Minas Gerais, e funciona como um lugar que acolhe e une a comunidade afrodescendente da região, a exemplo do que acontecia desde a escravidão com tantas outras irmandades dos homens pretos em todo o país”, aponta Andrea Soares, cuja pesquisa de mestrado investiga a interface entre a contemporaneidade e as culturas populares tradicionais brasileiras, passando especialmente por questões ligadas à afrobrasilidade, em seu cunho artístico e político-social.
Costurada pela linha da religiosidade, que desliza entre o catolicismo popular e a ancestralidade banto, a comunidade destaca-se pela força do coletivo, que preenche de beleza os múltiplos aspectos da vida, mostrando que a arte é inerente ao ser humano e que pode apresentar-se sob diferentes possibilidades estéticas. E exatamente o encantamento promovido por este “estado de arte” e a força resultante do trabalho coletivo moveram o Núcleo Pé de Zamba e alimentaram o processo criativo dos intérpretes.
A cruz que me carrega tem orientação dramatúrgica de Valéria Cano Bravi, trilha sonora livremente inspirada nos ritos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Justinópolis, de Leandro Medina e Andrea Soares, figurinos assinados por Marcondes Lima e projeto de iluminação de Ligia Chaim. Os criadores-intérpretes contaram com Beth Bastos para a preparação em Técnica Klauss Vianna, Karen Müller, em Eutonia (prática e educação corporal que equilibra o tônus muscular), e Beth Just na preparação vocal.
A escolha do título se inspirou na indagação reflexiva: “você carrega a sua cruz ou sua cruz lhe carrega?”, proferida pela eutonista Ana Quesada, quando levantava a importância da harmonia entre o eixo vertical do corpo humano e a cintura escapular, que juntos nos remetem à imagem de uma cruz.
A cruz que me carrega foi contemplado pelo Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna 2012, e conta com apoio do Sesc-SP para realização.
Núcleo Pé de Zamba
Criado em 2009, o Núcleo Pé de Zamba tem como meta principal o estudo do corpo como fonte da expressividade cênica em suas múltiplas possibilidades e a sua relação com o público. Tal caminho floresceu a partir das pesquisas de sua fundadora, Andrea Soares, junto às culturas tradicionais brasileiras.
Dentro deste universo, o artista brincante trafega por artes diversas, unindo-as em torno da expressão cênica, gerando resultados que não podem ser classificados só como dança ou teatro ou música, mas sim como algo mais abrangente, onde estas linguagens, e mais o elemento plástico, atuam juntos e intrínsecos.
O primeiro trabalho formal do Núcleo, Silibrina? É a Diana Menina!!”– uma intervenção teatral musical para espaços não convencionais – estreou no SESC Pompéia em Dezembro/2009. Em março de 2010, estreou Glocalidades – Antropofagia nossa de cada dia, espetáculo de improvisação em dança contemporânea aberto ao público, no programa Improviso, do SESC Pinheiros, em São Paulo. Em 2011, o Grupo circulou com Para Lá das Palavras, também de perfil cênico-musical e interativo, construído a partir de questões do letramento e leitura, considerando os aspectos orais da literatura. Este espetáculo percorreu todas as regiões da cidade de São Paulo, atingindo mais de 40 bairros diferentes. Em 2012, foi contemplado com o Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna, para criação e montagem de A Cruz que me carrega, inspirado na ancestralidade afro-banto no Brasil e na Irmandade de Nossa senhora do Rosário de Justinópolis/MG.
Andrea Soares
Andrea Soares é artista cênica que trafega pela dança, música e teatro, além de educadora em artes e pesquisadora das culturas tradicionais brasileiras. Graduou-se em Licenciatura em Artes Cênicas pela ECA/USP, unidade onde atuou, em 2012, como professora convidada, na disciplina Folclore Brasileiro. É mestranda do Programa Interunidades em Estética e História da Arte da USP. Está, ainda, em fase de conclusão da Formação Profissional em Eutonia, pelo Núcleo Berta Vishnivetz.
Como artista, trabalhou junto a diversos grupos da cidade de São Paulo, como o XPTO, Cia Ocamorana e fundou em 2002, o Grupo Babado de Chita, que coordenou artisticamente até 2009, conquistando os prêmios Myriam Muniz e Klauss Vianna, em 2006, e Fomento à Dança de SP, em 2007, com projetos de sua autoria.
Atualmente é diretora artística e compõe o elenco do Núcleo Pé de Zamba, coletivo com o qual dá continuidade a sua pesquisa de linguagem para a cena, nominada “contemporâneo-brasileira” e que tem como premissa o diálogo entre a cultura tradicional brasileira e as perspectivas contemporâneas para criação.
A cruz que me carrega
Com o Núcleo Pé de Zamba
De 25 de junho a 10 de julho
Terças e quartas-feiras, 20h30
Local: Praça do Sesc Pinheiros
Rua Paes Leme, 195 – Pinheiros – São Paulo (SP)
(11) 3095-9400)
Classificação: livre
Duração: 50min
Ficha Técnica
Concepção e direção: Andrea Soares
Elenco: Andrea Soares, Bárbara Freitas, Lívia Barros, Leandro Medina, Tom Campos, Val Ribeiro
Orientação dramatúrgica: Valéria Cano Bravi
Trilha Sonora: Leandro Medina e Andrea Soares, livremente inspirada nos ritos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Justinópolis.
Figurinos: Marcondes Lima
Iluminação: Ligia Chaim
Preparação em Técnica Klauss Vianna: Beth Bastos
Preparação em Eutonia: Karen Müller
Preparação Vocal: Beth Just