Espetáculo inspirado na obra de Jorge Amado estreia na Funarte MG

Capitães da Areia | Foto: Naum Produtora

O TU – Teatro Universitário da UFMG estreia no dia 24 de julho, quarta-feira, com temporada até o dia 28, domingo, o espetáculo Capitães da Areia. Inspirado na obra homônima de Jorge Amado, o espetáculo é dirigido por Rogério Lopes. Capitães da Areia será apresentado na Funarte MG, de quarta a sábado, às 21 h, e no domingo às 20 h. A entrada é franca.

Em Capitães da Areia, ao adentrar um galpão abandonado em algum lugar do Brasil de 1937, o público irá testemunhar, de maneira intimista, o cotidiano de um grupo de meninos de rua.

O processo de pesquisa e criação

No início do segundo semestre de 2012, a turma do primeiro ano do Teatro Universitário da UFMG desenvolveu um estudo de ações dramáticas a partir da obra “Capitães da Areia”, de Jorge Amado. Este estudo foi realizado tendo como referência alguns princípios do jogo da capoeira, utilizados na preparação dos atores, e conceitos desenvolvidos pelo teórico russo Stanislavski, numa tentativa de identificar e compreender minuciosamente as ações dramáticas apresentadas por Jorge Amado no decorrer do seu romance. Num primeiro momento, o objetivo central foi o de traduzir em ações as palavras do autor, sem que as mesmas precisassem ser decoradas pelos atores. Estudamos exaustivamente o sentido cênico de alguns verbos de ação, como por exemplo, “escapar” e “perseguir”, independente de saber quem escapa ou quem persegue. Depois foram sendo acrescentadas informações gerais para a caracterização de cada um dos agentes, como a idade, o sexo e, por último, a condição social. Esse processo resultou em um roteiro de ações, que privilegiou as situações protaganizadas pelos personagens das crianças e adolescentes, deixando para o segundo plano os personagens adultos. O objetivo era fazer com que o ponto de vista daqueles meninos de rua da Bahia de 1937, tão bem captado pelo autor do romance,  ficasse ainda mais em evidência. Durante uma semana do mês de novembro de 2012, os atores executaram esse roteiro de ações com a presença do público, que depois era convidado para um debate. O trabalho foi todo realizado em cima de improvisações de cenas, não havendo marcas nem textos fixos, os alunos entendiam o contexto da cena, o lugar que seu “personagem” representava nela e jogavam individual e coletivamente.

No início do ano de 2013, nove dos dezoito alunos que realizaram a experiência inicial na disciplina resolveram continuar o processo de pesquisa, a procura de se aprofundarem no universo das crianças e adolescentes com trajetória de rua de Belo Horizonte e realizar a montagem de um espetáculo teatral inspirado nos Capitães da Areia. Para isso, os atores utilizaram um dos quatro ensaios semanais para ministrar oficinas de teatro em abrigos e casas de passagens mantidas pela prefeitura de Belo Horizonte, que se constituiu numa ação de extensão. Por quatro meses, aproximadamente, eles frequentaram o Miguilim Cultural e as Casas de passagem Vila Eunice e Dom Bosco. Nestes locais, os atores podiam se aproximar de cada criança e adolescente, convivendo com os mesmos fora do ambiente da rua, o que os ajudou a ampliar a percepção que tinham daquela realidade. Somado a isso, foi também realizada observação de rua em diversos horários e locais da cidade.

“A mímeses corpórea, técnica desenvolvida pelo Lume (Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp), foi um referência metodológica importante, mas não ficamos restritos apenas a copiar ações e características físicas aparentes das crianças e adolescentes, e, sim, mais preocupados em exercitar o que Graziela Rodrigues também da Unicamp chamou de Co-habitar com a fonte, o que nos permitia uma aproximação muito mais sensível e delicada de um universo tão diferente daquele com o qual estávamos acostumados”, explica o diretor do espetáculo, Rogério Lopes.

A capoeira foi utilizada fundamentalmente como preparação corporal, mas  também como forma de auxiliar os atores a desenvolverem estratégias de jogo fundamentais para conseguir traduzir em ações os elementos descritos no romance. Fora o fato de ser um elemento citado diversas vezes por Jorge Amado como uma prática constante entre os Capitães da Areia. No espetáculo, a roda de capoeira aparece em cena, e muitos dos  princípios de ação contidos nos três diferentes tipos de  jogo (angola, regional e de rua) trabalhados durante o processo ficam evidentes na maneira como os atores desenvolvem o jogo cênico, principalmente na ginga que tiverem que desenvolver para trabalhar o texto de caráter realista.

O espetáculo Capitães da Areia é o resultado do primeiro processo de pesquisa empreendido pelo “Teatro&Cidade – Nucleo de Pesquisa Cênica” do TU-UFMG, que pretende contribuir para reafirmar a tradição da escola em formar atores conscientes não só das implicações técnicas e estéticas do fazer teatral, mas que também valorizem os seus aspectos éticos,  políticos e sociais. “O objetivo desse núcleo de pesquisa é desenvolver processos teatrais em constante diálogo com a cidade, seus moradores e os espaços urbanos. Por isso, num momento em que se discute tanto a redução da maioridade penal, torna-se bastante apropriada a escolha da obra Capitães da Areia, de Jorge Amado como mote para o primeiro trabalho”, comenta o diretor.

O Diretor

Rogério Lopes é ator, diretor, cenógrafo e professor do Curso Técnico de Formação de Atores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG – Brasil), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP-Brasil – 2011), com estágio de doutoramento de doze meses no ISCTE-Lisboa/Portugal (2009) e graduado em Antropologia pela UFMG (2001). Seu último trabalho foi a direção e atuação no espetáculo de rua Naquele Bairro Encantado, criado durante o ano de 2011, no Bairro Lagoinha, em Belo Horizonte. Em 2012, esse espetáculo integrou a grade de programação do FIT-BH e participou do Festival Teatro Agosto, em Portugal. Dirigiu o grupo Peripécias Teatrais de Belo Horizonte por doze anos, com destaque para a pesquisa realizada com o teatro de rua e a coordenação de projetos de arte-educação para crianças e adolescentes de vilas e favelas. Além de ter ministrado aulas de teatro e circo por mais de dez anos para crianças e adolescentes nos projetos Arte e Cultura, Arena da Cultura e Agente Jovem da Prefeitura de Belo Horizonte.

Histórico do TU – Teatro Universitário

Desde o ano de 1952, a Universidade Federal de Minas Gerais oferece o Curso Técnico de Formação de Ator promovido pelo Teatro Universitário (TU), que além de ser uma das mais antigas escolas de formação de atores do país é o único curso técnico da UFMG voltado para o campo das artes e humanidades. Nestes 60 anos de atividades, o TU foi responsável por formar boa parte dos profissionais do teatro em Minas Gerais. O ensino teatral de excelência, pelo qual a escola se tornou conhecida, se manteve em função da permanência, em seu quadro docente, de professores que sempre tiveram uma atuação relevante como artistas no teatro nacional, como o professor Pontes de Paula Lima, responsável pela tradução de boa parte da obra do russo Constantin Stanislavski, principal mestre do teatro mundial; o professor Fernando Linares, um dos fundadores do grupo Galpão, que é um dos mais antigos e importantes grupos de teatro brasileiro, o professor Fernando Limoeiro, um dos fundadores do grupo Giramundo, famoso por seu trabalho com bonecos. Destacando-se, ainda, João Etienne, Haydée Bittencourt, dentre outros.

Serviço

CAPITÃES DA AREIA
TEATRO & CIDADE
NÚCLEO DE PESQUISA CÊNICA DO  TU-UFMG

Livremente Inspirado na Obra homônima de Jorge Amado

Local: Funarte MG
Endereço: Rua Januária, 68. Floresta – Belo Horizonte/MG Fone: 3213-3084

Data: 24 a 28 de julho
Horários: quarta a sábado às 21h, e no domingo às 20h

Duração: 1h15

Classificação: 14 anos

Entrada franca

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