A exibição do documentário Pérolas do Centauro agradou ao público que driblou o tempo chuvoso e frio desta quarta-feira (4/09), no Rio, para prestigiar o lançamento do projeto de mesmo nome, na Sala Funarte Sidney Miller, Centro da cidade. Músicos, poetas e admiradores da cultura cearense foram conferir o resultado do trabalho do artista Pingo de Fortaleza – também ele músico, que reúne em documentário, livro e CDs os últimos 40 anos da memória da música cearense. O lançamento contou com o depoimento do pesquisador da música brasileira Ricardo Cravo Albin e terminou com a apresentação do cantor e compositor cearense Ednardo. O evento foi aberto pelo coordenador de Música Popular da Funarte, Cláudio Guimarães.
Considerado o maior estudioso da música popular brasileira, Ricardo Cravo Albin se disse comovido com o projeto de Pingo de Fortaleza pelo trabalho de sistematização da música do Ceará. Destacou que o DVD aponta “o começo da definição da música urbana cearense, a partir da época do rádio com Embalança, de Lauro Maia (…), e a grande contribuição com o sequenciamento das fontes das origens sólidas, que emprenharam gerações”, referindo-se à obra deixada por Lauro Maia e Humberto Teixeira.
Cravo Albin disse que o projeto Pérolas do Centauro é “um trabalho de grande reflexão que remete às fontes originais da música cearense”. O pesquisador lembrou que não há no Brasil um foco tão relevante quanto o da música do nordeste, onde se insere a música do Ceará e de Pernambuco. “É um trabalho memorável, de referência, que merece não só o respeito de todos nós pesquisadores quanto uma recepção e divulgação calorosas”, disse sobre a obra de Pingo de Fortaleza.
Durante 40 minutos, o DVD apresentou ao público depoimentos de pesquisadores, músicos e imagens documentais sobre a produção musical cearense, contando histórias de trajetórias de sucesso de seus cantores, compositores, grupos musicais e seus ritmos, características e singularidades. Entre outros, são revisitados Ramos Cotoco, Quatro Ases e Um Coringa (anos 40 a 60); Belchior, Fagner, Ednardo, Fausto Nilo e Mona Gadelha (anos 70); Pingo de Fortaleza, Rogério Franco, Nação Cariri, Bernardo Neto, David Duarte (anos 80); os movimentos urbanos que marcaram o estado com eventos musicais nos anos 90; e os grupos de rock cearenses dos anos 2000, como Renegados, Cabasom e Braculê, entre outros.
Pingo de Fortaleza contou que a ideia do projeto era comemorar seus 30 anos de carreira, mas achou muito individualista olhar só para o próprio trabalho. “Acabei olhando para aqueles que me influenciaram e me inspiraram e tomei como recorte 72 (1972), e como marco inicial a ocupação nacional pelo pessoal que ficou conhecido como ‘Pessoal do Ceará’.” Ele disse que ficou surpreso com o resultado da pesquisa. “Me surpreendi com a amplitude dessa produção, a capacidade e a qualidade dessa produção, e ampliei o projeto, que se resumiria a um livro. Acabei fazendo o livro, um documentário e um CD, incluindo informações dos preâmbulos dessa produção. E descobri grupos que, na década de 40, já estavam no espaço nacional, como Quatro Ases e Um Coringa e compositores como Lauro Maia, Evaldo Gouveia e Humberto Teixeira. Uma terra que tem produzido desde Alberto Nepomuceno até compositores que a cada dia surgem e que surpreendem, embora a difusão dessa música ainda seja pequena. E nossa capacidade de amplificar isso também. O estado tem uma grande capacidade de produção, que se revela nos produtos que são gerados – discos, turnês, temporadas, livros, e esse trabalho tenta contribuir para consolidar a memória dessa produção e difundi-la ao máximo possível.”
O livro Pérolas do Centauro aborda, através de textos de vários autores, a trajetória e a produção da música cearense desde seus primórdios até os dias atuais, com destaque para o período de 1972-2012. A publicação traz textos dos pesquisadores cearenses Gilmar de Carvalho, Nirez, Pedro Rogério, Nelson Augusto, Fábio Marques, Flávio Paiva, Pingo de Fortaleza, Mary Pimentel, Joanice Sampaio, Wagner Castro, Marcílio Mendonça, Guaracy Rodrigues e Calé Alencar, com prefácio do jornalista Lira Neto.