Sob a direção de Moacir Chaves, a atriz pernambucana Paula de Renor e as gaúchas Sandra Possani e Bruna Castiel interpretam todos os personagens do espetáculo Rei Lear, inspirado no clássico de Shakespeare. A montagem inédita, contemplada com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2013, tem estreia nacional na sexta, 18 de julho às 19h, no Teatro Glauce Rocha, no Rio, em curta temporada até o dia 27. Antes, nos dias 16 e 17 de julho, também às 19h, serão realizadas sessões de ensaio aberto, com entrada franca. A peça marca o fim das atividades do projeto Ocupação para Todos, responsável pela programação artística da casa, assim como os 450 anos de William Shakespeare, completados em abril desse ano.
“Foram feitos cortes, como em muitas montagens mais tradicionais do texto. O fato de trabalharmos com três atrizes em uma peça com dezenas de personagens já aponta para uma relativização de conceitos de teatro, como os de personagem e enredo”, explica Moacir Chaves. Além de encenar uma peça complexa como Rei Lear com elenco reduzido, o diretor traz outras inovações para o palco. Uma delas é a presença dos operadores de som e luz junto ao elenco, executando a trilha sonora ao vivo e também interpretando alguns papéis. Esses operadores são os compositores Tomás Brandão e Miguel Mendes, responsáveis pela trilha sonora.
Para Moacir, a parceria já consolidada com Paula de Renor e Sandra Possani, que integraram o elenco de “Duas mulheres em preto e branco”, também dirigida por ele e que recentemente cumpriu temporada no Glauce Rocha, facilita o processo. “A montagem de Rei Lear foi pensada exatamente para darmos continuidade ao trabalho que fizemos na primeira peça. Em teatro, como em quase tudo na vida, é essencial o trabalho continuado, ininterrupto. A experiência que vivenciamos agora comprova isso”, afirma.
Na trama, Lear, rei da Bretanha, chegando à velhice, decide dividir o reino entre suas três filhas mulheres, Goneril, Regane e Cordélia, já que não teve nenhum filho. As duas primeiras são casadas, respectivamente, com o Duque de Albany e com o Duque de Cornualha. Cordélia, a filha caçula e preferida do Rei, está prestes a casar, disputada pelo Rei de França e pelo Duque de Borgonha. Na cerimônia de divisão do Reino, Cordélia tem um desentendimento com o pai, ao se recusar a discursar sobre a grandeza do seu amor ao pai, o que as outras filhas já haviam feito com grande desfaçatez. Por conta disso, Cordélia é deserdada e sua parte do reino acaba dividida entre as outras irmãs.
Toda a tragédia se origina desse evento fútil. Na sequência, o ancião é maltratado pelas filhas, que lhe tiram todo o seu séquito. Tudo termina em uma guerra invasiva da França, da qual Cordélia se tornara Rainha, desposada por amor por seu Rei, a despeito de ter ela perdido todo o seu dote. No final, a França é derrotada, e Cordélia e Lear feitos prisioneiros. Cordélia é assassinada na prisão e Lear morre, após ter matado com as próprias mãos o assassino da filha. Em um enredo paralelo, Glocester é traído pelo filho bastardo, Edmundo, que não se conforma em representar o papel secundário destinado aos filhos bastardos e não primogênitos.
“A grande questão da peça é a valorização do indivíduo, do sujeito. Seja através de um vilão, como é o caso de Edmundo, que seria, de alguma maneira, uma espécie de precursor da universalização dos direitos dos homens, independente de condições de classe, seja pela figura do Rei da França, o homem que aceita casar com Cordélia mesmo quando esta perde seu ‘valor’ ao ser deserdada”, conta o diretor. “Não temos interesse no tempo de Shakespeare. O espetáculo, na verdade, remonta ao agora. O que interessa não é a história, mas a reflexão sobre a vida. A intenção não é montar um clássico, mas pensar o mundo”, destaca Moacir Chaves.
Rei Lear
De 18 a 27 de julho
Quinta a domingo, às 19h.
Ensaio aberto, com entrada franca, nos dias 16 e 17 de julho.
Teatro Glauce Rocha
Av. Rio Branco, nº 179 – Centro, Rio de Janeiro (RJ)
(21) 2220-0259
Ingresso: R$ 20
Duração: 80 minutos
Classificação: 14 anos
CAPACIDADE: 202 espectadores
Horário de funcionamento da bilheteria: de 4ª a domingo, das 14h às 20h
Ficha técnica:
Texto: William Shakespeare
Direção: Moacir Chaves
Cenografia: Fernando Mello da Costa
Direção musical e execução ao vivo: Tomás Brandão e Miguel Mendes
Elenco: Paula de Renor, Sandra Possani e Bruna Castiel