O segundo sarau Temos Palco reuniu artistas e grupos de diversas áreas, no Rio de Janeiro, no dia 30 de setembro, terça-feira, às 18h, na Sala Funarte Sidney Miller – Palácio Gustavo Capanema – no Centro do Rio de Janeiro. A programação revela e valoriza novos talentos; e dá oportunidade para que eles mostrem seu trabalho. São jovens artistas que batalham pelo reconhecimento da sua produção, seja no circo, na dança, no teatro, na música, na poesia; ou nas performances diversas, que utilizam uma mescla de linguagens.
A segunda edição do evento começou com o espetáculo teatral e musical Cabaré café Brasil, seguido da apresentação do curta metragem Augusto na Praia (2006) de Rafael Eiras, aluno do Curso de Cinema da Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro). O filme foi selecionado para a 7º Goiânia Mostra Curtas. André de Kabulla falou sobre o obra. Em seguida, o ator Nego Maia (Carlos Maia) arrancou gargalhadas da plateia, com sua “comédia em pé” Nego Maia Pobre Star. Depois do riso, foi a vez das lágrimas de emoção: Joilson pinheiro, coordenador do sarau Os Pequenos poetas da favela, da Rocinha (RJ), declamou um poema. Em seguida, o público se animou, com o espetáculo da Companhia de Dança de Rua de Niterói (Comrua). O Bando Cultural Favelados apresentou uma esquete teatral e o cantor, compositor e violonista Kurth mostrou uma peça autoral e outras músicas do seu repertório. Foi exibido ainda um vídeo de apresentação da exposição coletiva de artes visuais na Funarte Brasília, Bola na rede – que teve como tema o futebol – seguido de uma explanação sobre a mostra. Representando a Funarte, estavam presentes o diretor executivo da instituição, Reinaldo Veríssimo, e Camilla Pereira, coordenadora de comunicação da Casa, entre outros servidores.
Sobre as atrações
O espetáculo de teatro musical Cabaré Café Brasil revive o clima dos anos 60, quando o Rio de janeiro deixa de ser a Capital do Brasil e os bordéis, antes frequentados por muitos políticos, começam a ter prejuízo financeiro, por falta de clientes. Na casa de prostituição e diversão musical, mulheres, homens e travestis fazem música e interpretam um texto de humor. Brincam com a plateia e interage com ela, como num cabaré da época. “Através das personagens, faço uma crítica a acontecimentos verídicos, como abusos dentro de casa; bullyngs de opção sexual, religião e profissão, entre outros sobre tudo”, diz o autor, e ator do elenco, Vanderson Paulino. O texto, feito com base em sua pesquisa universitária, alegra o público, mas o alerta sobre esses fatos. “Obrigado à Funarte pelo espaço e pela confiança; aos técnicos do evento; aos seus idealizadores; e a Valquíria Santana, produtora e apresentadora, pelo convite”, diz o artista.
O elenco do Cabaré Café Brasil foi formado por: Ana luz, Alvin Hyeras, Renato Costa, Francys Crus, Eliane Abreu Rios, Letícia Prado, Tiago Araujo, Rudson Dias, Vanderson Paulino e Guilherme Esteves.
Nego Maia Pobre Star é o nome do show de “comédia em pé” de Carlos Maia, conhecido como Nego Maia. O trabalho nasceu da minha necessidade de experimentar novas linguagens e de um novo tipo de interação com o público”, diz o humorista. Ele acrescenta que a performance é fruto da sua vivência como ator, ao longo de anos, na qual ele aprendeu a “tirar humor até de situações nada engraçadas”. Senti que foi uma grande noite de estréia, disse Nego Maia que, no texto, se confessa “mussumano”, ou seja, discípulo de Mussum, saudoso mestre cômico do grupo Os Trapalhões.
Após declamar seu poema, Joilson pinheiro, coordenador do grupo Os Pequenos poetas da favela, explica que o grupo da Rocinha (Zona Oeste do Rio), se reúne jovens da comunidade, para escrever poesia e falar sobre esse tema. Garçom, ele é idealizou e coordena esse trabalho, cuja meta é inspirar os participantes a buscar a cidadania e a desenvolver talentos, através da a poesia, e da literatura, em geral. Aos sábados, o grupo faz um programa de rádio, com tema e participação livres, no qual cada jovem pega um livro e lê um poema, ao vivo. Joilson defende que é preciso que os tiroteios deixem de serem rotineiros nas comunidades e que, no lugar deles, devem virar rotina os saraus, os encontros, os grupos de poesia, dança e teatro. O poeta lembra que vários coletivos artísticos se organizam nas comunidades, sem apoio nenhum. “Se você educa com cultura, consegue abrir horizontes. Estamos afogados na violência, na fome; e na falta de moradia – os barracos são precários – na falta de coerência e de um bem-estar. E quando você põe um poema neste meio, quem sabe não planta ali a semente uma roseira, cujo futuro é dar flores?”, diz Joilson*.
O Bando Cultural Favelados, também da Rocinha apresentou a montagem Brasil – Um País de poucos. Com texto de Joilson Pinheiro, a esquete denuncia a angústia, o medo e o anseio de superação das pessoas que vivem em risco social, diante da violência e o descaso com que historicamente são tratadas; e narra as desventuras de algumas delas. “Os atores, através do poder da palavra e do trabalho de movimentos criados através de experimentação, levam o público a fazer uma viagem ao passado e, ao mesmo tempo, prendendo-o ao presente, causando uma ‘distorção mental'”, diz Castelo Branco, coordenador do grupo e diretor do espetáculo. Ele diz que a missão do grupo é levar a cultura à todas as camadas sociais. “Queremos trabalhar o ser humano com igualdade e auxiliar a transformação de vidas, através da arte e da cultura”, completa Castelo Branco.
A montagem da premiada Comrua – Companhia de Dança de Rua, de Niterói (RJ) prendeu a atenção dos espectadores. Com um elenco grande, composto por jovens, e uma coreografia e movimentos complexos da “street dance”, do break e de outros estilos urbanos, o trabalho explora os diversos recursos dessas linguagens. O coletivo foi fundado pelo coreógrafo Rodrigo Pires, em 1998. “O grande desafio da Comrua é conquistar o público, buscando métodos coreográficos de qualidade, mantendo as características, o carisma, o sotaque, o jeito de ser da gente de sua terra”, explica o diretor. Ele destaca que o compromisso da Companhia é com o desenvolvimento das coreografias e com o alcance de níveis cada vez mais altos de excelência.
O músico carioca Kurth relata que compôs seu primeiro trabalho em 1998, incentivado por sua professora de musica, para um festival interescolar e ficou em terceiro lugar. Seu primeiro grupo foi Luar da cidade e Universo de prazer fazia pagode. Quando ele decidiu “dar um tempo” do estilo, em 2004, começou a participar de várias bandas e estilos diferentes. “Me encontrei na MPB, em 2009. Comecei fazer shows nos bares, com voz e violão. Com os pagamentos, investi na gravação do meu primeiro CD autoral. Mas minha profissão sempre foi instalador de cortinas. Sem tempo e sem grana, levei cinco anos para mostrar um pouco do meu trabalho musical. Ainda não ganho a minha vida com a musica. Faço meu minhas apresentações na noite e componho. Pretendo fazer um novo CD com parcerias novas. Esse e o meu objetivo de vida”, revela o artista.
Sobre o Temos Palco
O sarau Temos Palco surgiu do encontro de jovens Curto Circuito da Juventude, promovido pelo Ministério da Cultura e pela Funarte, em março deste ano, em Brasília. Os participantes vieram dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Manaus, Brasília e Recife e se encontraram com a Ministra da Cultura, Marta Suplicy. A partir do evento, aconteceram reuniões do grupo de jovens do Rio de Janeiro, com Guti Fraga, Presidente da Funarte, nas quais surgiu à ideia do Sarau. Ele promove ainda trocas de experiências, de conhecimentos e de cultura – entre os participantes e no público. O objetivo é descobrir e incentivar vocações artísticas, abrindo espaço todas as expressões de arte; além de promover o intercâmbio cultural.
O Temos Palco é realizado sempre de forma descontraída e divertida – para que as pessoas criem uma identidade com o evento e se sintam parte dele, formando um movimento cultural. Para a Funarte, o Temos Palco é uma atividade de grande valor artístico. Ele representa uma oportunidade única para que se desperte o gosto pela representação, pela música, pela escrita, pela leitura e para valorizar a participação popular.
Sarau Temos Palco
Segunda edição – Rio de Janeiro
30 de setembro, terça-feira, às 18h
Produção: Valquíria Santana/Funarte/Assessoria Especial da Presidência
Entrada franca
Sala Funarte Sidney Miller
Palácio Gustavo Capanema
Rua da Imprensa, n° 16 – Centro, Rio de Janeiro (RJ)
Organizadores: Valquíria Santana (produção cultural), Thiago Roderich, Dafne Rodrigues, Marcelo de Moraes, Janaina Mariano, Leila Tupinambá, Viviane Macedo, André de Kabulla e Felipe Milhouse
Supervisão artística: Fátima Domingues
Programação visual: Fernanda Lemos
Mais informações
Fundação Nacional de Artes – Funarte
Assessoria Especial da Presidência
Tel.: (21) 2220 3510
Contato: Valquíria Santana
*Blog do jornalista Galeno Amorim