Marília Pêra fala aos jovens no Teatro Cacilda Becker, no Rio

Marília Pêra - Diálogos com Amir Haddad - Foto: Jorge José Pinheiro-Cachinho

O primeiro dia da série Diálogos com Amir Haddad teve histórias sobre os bastidores de montagens, encontros memoráveis, personagens polêmicos, peças que marcaram épocas, confissões e desabafos. Por quase duas horas, a atriz Marília Pêra abriu suas memórias para falar sobre sua trajetória no teatro, na primeira entrevista ao diretor Amir Haddad, realizada na terça (28/10), no Teatro Cacilda Becker, na Zona Sul do Rio. A plateia, em sua maioria formada por jovens estudantes e profissionais de teatro, ouviu com atenção e encantamento as saborosas histórias contadas pela atriz. Ao final da conversa, alguns espectadores fizeram perguntas a Marília sobre os recursos que ela utiliza para a construção e desconstrução de um personagem e pediram sugestões para a iniciação na profissão. O presidente da Fundação Nacional de Artes, Guti Fraga, acompanhou o encontro da plateia, seguido da diretora do Centro de Artes Integradas, Maria Ester Lopes Moreira e da coordenadora de Teatro, Heloísa Vinadé, do Centro de Artes Cênicas. Também outros funcionários da Funarte estiveram presentes ao evento.

Iniciativa do Centro de Artes Cênicas da Fundação Nacional de Artes, o projeto propõe encontros entre personalidades do teatro brasileiro e o público. O condutor da conversa é o diretor Amir Haddad. Os outros convidados são a atriz Renata Sorrah (11/11) e os diretores José Celso Martinez Corrêa (04/11) e Aderbal Freire Filho (18/11). As entrevistas abertas ao público têm entrada franca, sempre às 19h. Com exceção da conversa com o diretor José Celso que será no Teatro Oficina, em São Paulo, as demais serão realizadas no Teatro Cacilda Becker, no Rio.

O presidente da Funarte, Guti Fraga classificou como emocionante o resultado do encontro, pelo interesse demonstrado pelos jovens em conhecer a experiência da atriz na profissão. “A gente precisa mesmo trabalhar a nossa memória. Essa volta é importante, aprender caminhos reais na nossa profissão de ator, a disciplina, a responsabilidade. Isso é a única forma das coisas funcionarem. É um exemplo de artista, para todo mundo seguir, é um brilho no caminho.” Guti também disse que pretende estender o projeto às outras áreas artísticas da Funarte. “Pegamos uma carona com o Amir, no trabalho que ele já tinha. É importante que todas as manifestações artísticas tenham esse momento tão forte.”

Marília Pêra começou a entrevista falando sobre o início da carreira, ainda menina, na tragédia Medéia. Ela fazia a filha de Jasão, interpretado pelo seu pai, Manoel Pêra. A atriz lembrou a convivência com mestres da arte de representar como Mesquitinha, Cazarré, Henriette Morineau, Elza Gomes, Dulcina de Moraes, Rodolfo Mayer, Armando Rosas, além de outros. E também de um espetáculo que encenou na juventude, Onde canta o sabiá (1966), com direção de Paulo Afonso Grisoli, no mesmo espaço onde hoje é o Teatro Cacilda Becker, e que, segundo ela chamava-se Teatro do Rio, ocasião em que conheceu Amir Haddad. Ao falar do ofício, a atriz comentou também sobre a obediência do ator às decisões do diretor, como nesse texto, em que ela ‘embarcou’ nas marcações de Grisoli, e disse que isso se devia à paixão do ator pela arte de representar. Ela falou também sobre o mesmo sentimento comum ao público de outra época. “A paixão pelo teatro era muito de um tempo em que não havia TV, pois ela preencheu um espaço das pessoas com produções belíssimas”. A atriz assinalou que hoje os teatros cativam pouco o público e criticou a abertura das salas quase no início dos espetáculos. “O público não é bem tratado como eu gostaria, entra em cima da hora, não tem tempo de sentar e ler o programa, se inteirar do que vai assistir.”

A artista disse que muitos não gostam do seu trabalho. “Não sou uma unanimidade”. E revelou que necessita de disciplina, para vencer a insegurança de uma estreia. “Tenho inseguranças, preciso chegar, repassar o texto, me acalmar para entrar em cena. Preciso de concentração. Eu acredito no tempo. Tento ser rigorosa, acho bonita a disciplina, chegar na hora e fazer direito.” Marília Pêra lembrou também de muitos de seus espetáculos – os que não fizeram sucesso e aqueles que levaram enormes plateias aos teatros, como os que interpretou personagens femininas reais de grande projeção em suas áreas de atuação. Carmem Miranda (A Pequena Notável /1971/1972), Dalva de Oliveira (A Estrela Dalva /1987), Maria Callas (Master Class/1996/1997) e Coco Chanel (Mademoiselle Chanel/ 2004 a 2007) foram alguns comentados pela artista. Ela ainda falou sobre as dificuldades com esses papéis, como cantar as 55 canções de A Estrela Dalva e as dores nas costas adquiridas com a postura em Chanel. A atriz não esquece também do susto ao encenar Roda Viva (1968), em São Paulo, durante o regime militar, quando o teatro foi invadido pelo Comando de Caça aos Comunistas, e quebraram o cenário e espancaram os artistas, e das dificuldades com os censores em Apareceu a Margarida (1973). “Precisei ir várias vezes à Brasília para liberar a peça.”

Ao final da entrevista, a atriz respondeu as perguntas da plateia e foi aplaudida de pé por muitos minutos pelo público.

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Diálogos com Amir Haddad

Programação

11  de novembro, às 19h
Entrevistada: Renata Sorrah
Local: Teatro Cacilda Becker

18 de novembro, às 19h
Entrevistado: Aderbal Freire Filho
Local: Teatro Cacilda Becker

Teatro Cacilda Becker
Rua do Catete, 338
Largo do Machado – Rio de Janeiro (RJ)
(21) 2265-9933

Foto: Jorge José Pinheiro-Cachinho
Foto: Jorge José Pinheiro-Cachinho

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