A transformação do corpo como uma luta, em Curitiba (PR)

O espetáculo de dança e performance La Lucha se apresenta no Paraná, no Studio Grazzy Brugner, no Centro de Curitiba, de 11 a 14 de dezembro, às 21 horas. Os ingressos custam R$ 5. A obra tem como eixo a caracterização e a transformação do corpo como elemento de linguagem artística e performance política; e de transgressão e mudança do comportamento social. O trabalho foi contemplado com o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna /2013.

Para essa investigação, os autores mesclam linguagens, como a do transformismo com as expressões de outras práticas de arte e estéticas. São utilizadas as expressões de transformismo de gênero – por exemplo, a dos travestis e crossdressers, misturadas com as linguagens dos chamados “ciborgues” (em referência aos que se fazem parecer com “seres humanos tecnológicos”, mistos de gente e robô); dos transanimais, que buscam parecer-se com bichos, dos transmutantes (que podem ir além disso, e querer ser como vegetais ou minerais); e também de adeptos de práticas eróticas fetichistas, como o BDSM – sigla de “bondage” (fetiche de submissão, em que alguém é amarrado), disciplina, dominação, submissão,sadismo e masoquismo. Em La Lucha, isso tudo se funde às linguagens dos artistas de rua e dos clowns, bem como às estéticas da luta livre; dos cosplayers, os que se fantasiam de personagens fictícios da cultura pop – entre eles o “drags-heróis” (“dragqueens” com trajes de super-heróis); e de indígenas que reinventam seus corpos de forma “glocal” (ou seja: com referências globais misturadas a símbolos locais).

O espetáculo toca também no tema da exploração sexual das travestis, tanto da periferia quanto de bairros nobres, incluindo a questão das sul-americanas que se profissionalizam no sexo, nos EUA.

La Lucha é uma criação em parceria entre os curitibanos Leonarda Glück, Gabriel Machado e Gustavo Bitencourt e a uruguaia Lucía Naser. Em suas pesquisas individuais, cada um já trazia o interesse na caracterização, como forma de entender a relação entre o cotidiano e a ficção – cada um direcionado para uma das estéticas utilizadas no espetáculo (ou em mais de uma delas).

Foi a partir de um documentário sobre o grupo Los Exóticos – trupe mexicana de luta livre que usa a caracterização drag – que eles começaram a entender o desejo por um formato que misturasse o espetáculo e a competição esportiva; em que o público pudesse se envolver, torcer, rir, gritar, e conversar. Os autores buscam, com recursos de humor, melodrama, e dos espetáculos de luta, construir um vocabulário e, com ele, dialogar com os públicos mais diversos. “A gente quer algo engraçado, dramático, violento, que possa envolver as pessoas, e que a gente também possa se surpreender fazendo”

La Lucha fala um pouco de várias lutas que a gente vivencia na prática. Desde esses embates que existem no nosso pequeno grupo, que nunca tinha trabalhado junto, até questões mais amplas, que afetam todo mundo, como identidade, gênero, disputas territoriais, políticas, éticas, estéticas. Também é uma afronta ao conservadorismo, ao bom-mocismo e à caretice. Nesse embate, luta-se contra dogmas parasitários da alma; contra a apatia e pelo direito de não ser uma só coisa a vida inteira; pela fantasia e pelo direito ao próprio corpo: esse mesmo corpo que é o nosso campo de batalha”, dizem os criadores.

Para a criação dos diferentes climas da peça, um dos elementos importantes aspecto foi a escolha dos espaços de apresentação. A estreia foi em Montevidéu, Uruguai, em um clube noturno, de 27 a 29 de novembro. Em Curitiba as apresentações serão numa escola de “pole dance”. Segundo os artistas, isso foi essencial para mudar o ambiente de “formalidade” dos teatros, “ou de outro espaço comum de apresentação de dança ou teatro”.

Em Montevidéu, o espetáculo foi apresentado em paralelo à ação complementar de formação intitulada Fala Performática – Travestindo o mundo. Nela, foram discutidas questões como a transexualidade e a inclusão social de transexuais, pelas artistas performáticas brasileiras Leonarda Glück e Dalvinha Brandão – uma mulher trans e uma drag queen. Segundo a produção, as artistas falaram “com a banalidade de um programa de TV matinal, sem o menor compromisso com os bons modos e com muito pouca vergonha na cara”.

La Lucha
espetáculo contemplado pelo Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna/2013

11 a 14 de dezembro de 2014, às 21 horas
Local: Studio Grazzy Brugner
Rua Treze de Maio, 234 – Centro
Curitiba – Paraná
Ingressos: 5 reais

Realização: Selvática Ações Artísticas
Espetáculo contemplado com o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna /2013

Ficha técnica/artística
Criação: Gabriel Machado, Gustavo Bitencourt, Leonarda Glück e Lucía Naser
Orientação dramatúrgica: Carmen Jorge
Luz: Fábia Regina. Música original: Jo Mistinguett. Arte gráfica: Rafael Bagatelli.
Produção Geral: Mari Paula e Renata Cunali.
Produção – Montevideo: Agustina Pezzani e Cecilia Lussheimer.
Assessoria de imprensa: Victor Hugo
Fotos: Tamíris Spinelli.

Mais informações: selvaticaacoesartisticas@gmail.com