‘Cara da mãe’: temporada em Recife

Foto: Rogério Alves

Nos dias 16 e 17 de maio, sábado e domingo, no Teatro Marco Camarotti, em Santo Amaro, Recife (PE), o Coletivo Cênico Tenda Vermelha encerra a primeira temporada do espetáculo Cara da Mãe. O projeto, contemplado com o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2013, é definido pelas bailarinas criadoras do grupo como a construção de uma poética coreográfica inspirada na “jornada da maternidade”; e como uma carta “de amor e gratidão à Mãe”.

Tendo como base esse arquétipo* da mãe – a ideia simbólica primitiva associada à condição maternal –, a proposta de Janaína Gomes, Ana Luiza Bione e Íris Campos é destacar os diversos pontos de interação com o conceito de maternidade, no pensamento e na produção cultural contemporâneos. Para isso, o coletivo busca conexões com a ancestralidade, através da influência de ritos primitivos e de uma herança cultural feminina arcaica. A dramaturgia, e direção ficaram a cargo de Luciana Lyra, pós doutora em Antropologia pela USP e em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e professora doutora dessa disciplina na Universidade de Campinas (Unicamp) – SP; além de atriz e performer.

Quando a arte atende ao “chamado da Mãe”

“Vivemos em tempos difíceis, de guerras, terrorismo, fundamentalismo, violência doméstica, intolerância de toda ordem. Tempos destinados à destruição da voz da alma por vastos territórios. Em cada fragmento do mundo, há uma quebra de votos com a dimensão feminina, de acolhimento, alívio, repouso e devaneio. No entanto, apesar da morte dos sonhos ou dos sonhadores, deste contexto contemporâneo e devastador, um canto de resistência dança no universo, um chamado noturno e invisível: ‘Venha, venha, seja quem for!’. É a Mãe. Arquétipo, cujo a própria energia é céu, terra e águas. Matéria e Tempo”, dizem as criadoras.

Elas acrescentam que esse “chamado da Mãe” chega até as pessoas mais que estiverem mais atentas. Para elas, esse apelo se refletiu nos movimentos das três bailarinas, e acionou seus desejos, com artistas e mães, de dedicar seu primeiro trabalho (enquanto coletivo) ao tema. Elas acrescentam que essa mensagem de agradecimento à ideia universal da mãe é “escrita com as palavras articuladas nas dores, nos conflitos e afetos, nas memórias e reentrâncias do corpo”. Para elas, a obra é convocação coreográfica ao “arriscado mergulho no útero abissal”, reafirmando o cosmo maternal e resguardando a generosidade oceânica da mãe, na sincera esperança que tenhamos um mundo onde o cuidado de si e do outro faça-se carne e nos dê colo. O colo que dança!”.

Mitodologia” e “artetnografia”: novas ideias para a arte

Com a assinatura de Renata Camargo na direção de movimento, Cara da Mãe tem como tema para a criação cênica as experiências das próprias artistas. Essas vivências são tanto aquelas pessoais, quanto as “mitodológicas” e “artetnograficas”, dois conceitos desenvolvidos pela diretora Luciana Lyra. Ela chama de “mitodológicos” os procedimentos de cunho ritualístico, ligados aos mitos primordiais e ao inconsciente, que, segundo ela, fazem eclodir pulsões pessoais e universais dos artistas”. Para a pesquisadora , este é um caminho em que o artista “aperfeiçoa o pluralismo das imagens colhidas nas experiências ditas ‘artetnográficas’, numa relação com seus parceiros de criação e com o público” **. Já o conceito de “artetnografia” vem reafirmar o contato entre as artes e a Antropologia. Ele foi cunhado na tese de doutoramento de Luciana. Surgiu da análise de experiências de performance de vários artistas, em interlocução com uma comunidade, na Zona da Mata Norte do Estado de SP. O conceito se liga à atuação antropológica de campo, “configurando-se como prática realizada por artistas cênicos ao se deslocarem aos locais onde vivem aqueles que intentam observar”, para que esta interação ‘polifônica e subjetiva” possa estmiular a criação da “cena performática” – define a artista pesquisadora.***.

Tanto o conceito de “mitodologia” como o de “artetnografia” são desenvolvidos pelo Unaluna – Pesquisa e Criação em Arte, parceiro do Coletivo Tenda Vermelha na realização do projeto. Leia mais sobre os dois conceitos teóricos abaixo.

Cara da mãe fez sua estreia no Festival Janeiro de Grandes Espetáculos 2015. A temporada alcançou Olinda, além da capital pernambucana.

Cara da mãe

Projeto contemplado com o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2013

Próximas apresentações

Maio 2015

Sábado, 16 – Teatro Marco Camarotti, às 18h.

Domingo, 17 – Teatro Marco Camarotti, às 18h.

Ingressos: R$ 20. Meia-entrada R$ 10.

Endereço: Rua Treze de Maio, 455, Santo Amaro. Recife (PE)

Ficha técnica e artística

Bailarinas / Criadoras: Ana Luiza BioneÍris Campos e Janaina Gomes
Dramaturgia, encenação e direção geral: Luciana Lyra
Direção de movimento: Renata Camargo. Trilha sonora: Isaar e Rama Om. Indumentária: Maria Agrelli. Concepção cenográfica: Luciana Lyra e Nara Menezes
Cenografia: Nara Menezes. Cenotecnia: Nara Menezes, Gustavo Teixeira e Henrique Celibi. Confecção de figurinos: Maria Agrelli e Etiene Rocha. Desenho de luz e operação: Natalie Revorêdo. Registro fotográfico: Rogério Alves. Design gráfico: Zé Barbosa. Produção geral e administração: Karla Martins (Decanter Articulações Culturais). Produção executiva: Renata Phaelante e Coletivo Cênico Tenda Vermelha

Realização: Coletivo Cênico Tenda Vermelha e Unaluna – Pesquisa e Criação em Arte

Sobre o Coletivo Cênico Tenda Vermelha

Formado por Ana Luiza Bione, Janaina Gomes e Íris Campos (que destacam sua condição de artistas, mulheres e mães) o Coletivo desenvolve sua pesquisa em dança contemporânea e teatro, com o objetivo de “refletir o espaço do feminino e do sagrado na sociedade atual”.

SOBRE A Unaluna – pesquisa e criação em arte

Espaço associado à Cooperativa paulista de Teatro (CPT), desde 2007, congrega coletivos, grupos artísticos, e artistas autônomos, que pretendem trabalhar a partir dos procedimentos da Mitodologia em Arte e da Artetenografia. Na sua trajetória, o Unaluna vem desenvolvendo projetos na área de pesquisa, criação, produção e formação artísticas, assim como no campo da pedagogia em arte.

Acesse as fontes de pesquisa

** Mitodologia – http://www.unaluna.art.br/textosDetalhe.php?id=16

http://portalabrace.org/viireuniao/processos/LYRA_Luciana.pdf

*** Artetnografia http://www.bv.fapesp.br/pt/bolsas/128640/da-artetnografia-migracao-da-mascara-mangue-em-duas-experiencias-performaticas/

Sobre Luciana Lyra – atriz, performer, encenadora, dramaturga e professora doutora em Artes Cênicas (UNICAMP/SP), pós doutora em Antropologia (USP) e pós doutora em Artes Cênicas (UFRN).