Consciência, memória e delírio permeiam monólogo “Eros Impuro”

Jones de Abreu protagoniza Andrei, em "Eros Impuro". Foto: Sérgio9 Martins

A montagem Eros Impuro, do coletivo brasiliense Criaturas Alaranjadas Cia. de Teatro, entra a partir desta quarta-feira, 16 de setembro, na programação da Sala Carlos Miranda do Complexo Cultural Funarte São Paulo. O espetáculo conquistou, em 2012, o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz.

A temporada será de apenas cinco apresentações, a convite da Ocupação Razões 25 Anos – projeto selecionado por edital público da Funarte. Na forma de um monólogo interpretado pelo ator Jones de Abreu (que é também artista plástico), a peça expõe as sequelas de um crime hediondo: o abuso sexual contra crianças e adolescentes. A direção e dramaturgia são assinadas por Sérgio Maggio.

A narrativa revela o drama do pintor Andrei, que sofreu abusos quando criança e tenta se livrar, por meio da arte, da angústia que o persegue. Andrei acredita que encontrará sua redenção quando reproduzir na tela a mesma energia sentida no momento do ato de violência. Mas, como os modelos vivos usados por ele são garotos de programa, sua obra é vista como pornográfica, suja. O pintor é julgado e marginalizado pela sociedade conservadora, e vê-se impedido de expor em galerias e acuado em seu processo obsessivo de criação.

Arte e loucura
Eros Impuro busca inspiração, também, nos limites da arte erótica e no caos da criação artística, que envolve sanidade e loucura. Para criar o personagem Andrei, o ator e artista plástico Jones de Abreu visitou um hospital psiquiátrico em Brasília, onde conversou com pacientes vítimas de abuso sexual e construiu, a partir desta experiência, muitas das características de seu personagem.

De acordo com Sergio Maggio, o método de criação e de ensaio resultou em um roteiro estruturado em três planos, três camadas de linguagem – consciente, memória e delírio. O consciente de Andrei (o “aqui” e “agora”) pinta a tela sob testemunho do público. No plano da memória, Andrei vive diversos personagens e vai resgatando seu drama. O plano do delírio discute o que é real e o que é loucura – a questão da sanidade, da alucinação, o estigma da loucura, o caos da criação.

Eros Impuro – explica ainda a Cia. Criaturas Alaranjadas – tem figurino inspirado na obra de Arthur Bispo do Rosário: um parangolé, espécie de manto usado pelo ator. O cenário reproduz uma tela em branco que vai sendo pintada à medida em que a iluminação traça seu desenho. A trilha sonora inclui trechos de peças radiofônicas do ator e diretor francês Antonin Artaud. Também há o recurso da projeção de vídeos caseiros, retratando casais em relações sexuais e projeções de obras de artes eróticas.

O tema da exploração sexual dialoga com a pesquisa de teatro narrativo da Cia. Razões Inversas, que celebra na Sala Carlos Miranda seus 25 anos de existência. A ocupação, que se encerra dia 20 de dezembro, trouxe numa primeira etapa espetáculos do repertório da companhia, que tratam de assuntos diversos e semelhantes, como diversidade, preconceito, intolerância, discriminação e violência de gênero.

Criado em 2011, Eros Impuro já passou por 16 capitais brasileiras e esteve em São Paulo em 2013, para uma temporada que rendeu à Cia. Criaturas Alaranjadas o Prêmio de Melhor Dramaturgia do Portal R7/Record.

Espetáculo: Eros Impuro
De 16 a 20 de setembro | De quarta a sábado, às 21h30; domingo, às 19h30

Texto e direção: Sérgio Maggio | Atuação: Jones de Abreu | Produção executiva: Claudia Charmillot | Concepção de cenografia: Carlos Chapéu | Iluminação: Vinícius Ferreira e Juliana Drummond | Figurino: Maria Carmem | Provocadora cênica: Ana Paula Bouzas | Assistente de direção: Selma Damasceno | Trilha sonora: DJ Biondo | Visagismo: João Angelini | Animação: Thiago Moisés | Ator em animação: Kael Studart |Arte: Tiago Ianuck

Duração: 60min | Classificação etária: 18 anos
Ingressos: R$20 (meia: R$10). Bilheteria abre uma hora antes do espetáculo – um ingresso por pessoa. Não aceita cartões.

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