A Funarte São Paulo recebe, dias 30 de setembro e 1° de outubro, as duas primeiras apresentações da temporada de estreia do solo Ethos, da bailarina paulistana Bárbara Freitas. Através do espetáculo, a artista apresenta seu percurso na dança – especialmente os meses passados por ela ao lado de Germaine Acogny, fundadora da École des Sables, na cidade senegalesa de Toubab Dialaw.
Bárbara, que desde o início de sua carreira pesquisa as danças populares brasileira e africana, reúne diversos elementos para compor seu novo trabalho. Um deles é o caboclo de lança, figura emblemática presente no carnaval pernambucano, representada por homens com roupas coloridas e alegóricas. Este personagem surge com um cravo branco entre os lábios, símbolo de conexão e de permissão para se integrar ao grupo. É com esta mesma alegoria que a bailarina faz sua primeira aparição no espetáculo.
Do Senegal, Bárbara incorpora a técnica criada por Germaine Acogny, que faz uma síntese de diversas danças tradicionais da África. O método trabalha o movimento a partir da coluna, considerada, nos termos da própria bailarina, como “a serpente da vida”. “Ela traduz no corpo a energia e potência de diversos seres, como plantas e animais”, explica Bárbara. O método valoriza elementos do solo onde se vive o cotidiano. Neste sentido, uma curiosidade são os nomes de alguns de seus movimentos: estrela-do-mar, palmeira e baobá.
Na École des Sables Barbara Freitas participou, com outros 40 artistas da dança, de residência intercontinental cuja proposta é o engajamento e resistência da arte negra. A cidade senegalense Toubab Dialaw fica à beira da rota marítima que levava africanos para o desterro e a escravidão. “Importante estar neste momento neste espaço e ter a oportunidade de conhecer de perto esse Ethos que nos caracteriza como um coletivo, uma comunidade”, comenta a coreógrafa.
A artista ressalta que Ethos não é uma obra de improvisos, mas que há movimentos e “células” de coreografias que criam possibilidades poéticas no local em que se realiza a dança. A atenção ao que ocorre à sua volta também auxiliou outros aspectos do espetáculo: Olivier Kaminski, que assina a criação sonora da obra, caminhou diversas vezes com Bárbara para captar os sons da cidade. “A pesquisa foi ampla. Tentamos compreender a sonoridade dos fluxos de pessoas, da arquitetura e das rotinas”, conta a artista, que também acompanha, ela própria, as mudanças na apresentação com uma cuíca.
A pesquisa resultou numa trilha fixa com sonoridade inspirada na cidade de São Paulo e em outras cidades visitadas pela intérprete, além de elementos que vão sendo adicionados durante os espetáculos, num jogo que depende da sensibilidade de Bárbara com o público e com Olivier.
A iluminação criada por Beto de Faria também responde aos fluxos de movimentos e sonoridades. “Tentamos traduzir na luz a possibilidade de um local ter muita potência ou ser inóspito”, diz Bárbara. Assim, ela também conta com a colaboração do artista Marcus Braga, que alimenta esse trânsito de informações com suas pesquisas, seus traços e novas imagens que surgem com a sobreposição das ações nesta dança.
Logo após a estreia na Funarte, dentro da Ocupação Inquietos, na Sala Renée Gumiel, o espetáculo será apresentado na marquise da Praça do Patriarca (16 e 17 de outubro, às 17h) e em dois lugares em São Bernardo do Campo (SP): o Teatro Elis Regina (6 de novembro, 20h; e 8 de novembro, 19h) e a praça Giovanni Breda (10 e 11 de novembro, ao meio-dia).
Sobre Bárbara Freitas
Bárbara Freitas é bailarina e artista-educadora com experiência em diferentes projetos socioeducativos, como os Programas Piá e Vocacional, em SP, com uma abordagem nas pesquisas que iniciou em 2004 com as danças populares do Brasil. Atua como intérprete, cocriadora e assistente de direção em performances, parcerias e iniciativas de difusão e criação da dança dentro e fora dos palcos. Participou de grupos paulistanos vinculando suas referências e sua formação à arte contemporânea e trilhando um percurso em diálogo com as diversas linguagens artísticas na Cia. Artesãos do Corpo, Núcleo Manjarra, Grupo Afro Ilu Obá de Min e Núcleo Pé de Zamba.
Ocupação Inquietos
Projeto contemplado com edital da Funarte para a Sala Renée Gumiel
Espetáculo: Ethos
Dias 30 de setembro e 1º de outubro | Quarta e quinta, às 20h
Concepção e interpretação: Bárbara Freitas | Orientação: Andreia Yonashiro |Colaboradores: Laura Salvatore, Ana Brandão,Natália Fernandes e Rodrigo Caffer | Criação sonora: Olivier Kaminski | Figurino: Maria Gomes | Arte Gráfica: Marcus Braga | Criação e operação de luz: Beto de Faria e Rafael Araújo | Registro audiovisual: Felipe Teixeira e Francisco Reyer | Produção executiva: Cais Produção Cultural | Direção de produção: José Renato Fonseca de Almeida | Assistente de produção: Larissa Verbisk
Duração: 40min | Classificação etária: livre
Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia). Bilheteria Abre uma hora antes do espetáculo – um ingresso por pessoa. Não aceita cartão
Sala Renée Gumiel do Complexo Cultural Funarte São Paulo. Alameda NOthmann, 1058, Campos Eliseos, São Paulo, SP. Tel (11) 3662-5177