Dança contemporânea traz exemplo da herança banto

"A Cruz que me Carrega" está de volta a São Paulo. Foto: Charles Trigueiro

A força do comunitário na cultura afrodescendente de origem banto envolve plateia e artistas na dança A Cruz que me Carrega, em cartaz sábado e domingo (31 e 1º), na Sala Renée Gumiel da Funarte SP. Produzido pelo Núcleo Pé de Zamba e viabilizado pelo Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna 2012, com apoio do Sesc (SP), o espetáculo estreou em 2013 e retorna, em novembro, para uma série de apresentações na cidade – começando pelo Complexo Cultural da Alameda Nothmann.

Com trilha sonora ao vivo e um elenco de seis intérpretes – entre bailarinos, músicos e atores -, o espetáculo abraça uma perspectiva colaborativa e cria elos entre diferentes universos “através do corpo expressivo”. A montagem recebe forte influência da trajetória da população afro-banto, traficada para o Brasil como escrava.

Para esta criação, o grupo enraizou sua pesquisa na centenária Irmandade de Nossa Sra. do Rosário de Justinópolis (Ribeirão das Neves/MG), um “lugar que acolhe e une a comunidade afrodescendente da região, a exemplo do que acontecia desde a escravidão com tantas outras irmandades dos homens pretos em todo o país”, diz Andrea Soares, diretora do espetáculo. Segundo ela, são especialmente marcantes, nessa comunidade, a forma de se viver em arte e o entendimento da existência em prol do coletivo. Na Irmandade não se carregam cruzes, porque o “peso da vida é partilhado”, conta. Essa filosofia é impressa, no espetáculo, pelo “encontro entre as artes e o corpo, entre o sagrado e o profano, entre a contemporaneidade e a tradição”.

Concebida para espaços não-convencionais, a peça levanta questionamentos em torno de temas sociais e culturais vigentes no país, propondo um encontro entre a cultura tradicional brasileira e a dança contemporânea. A base de pesquisa para o movimento coreográfico apoia-se na Eutonia e no legado deixado pelo pesquisador Klauss Vianna.

Sobre o Núcleo Pé de Zamba: criado em 2009, o grupo pesquisa o corpo como fonte da expressividade cênica em suas múltiplas possibilidades e a sua relação com o público, com foco nas culturas tradicionais brasileiras. Dentro deste universo, os artistas trafegam por artes diversas, gerando resultados que não podem ser classificados só como dança ou teatro ou música, mas sim como algo onde estas linguagens, aliadas ao elemento plástico, atuam juntas e intrínsecas. O primeiro trabalho formal do Núcleo, Silibrina? É a Diana Menina!!– uma intervenção teatral musical para espaços não convencionais – estreou no Sesc Pompeia em dezembro de 2009. Em março de 2010, o grupo estreou Glocalidades – Antropofagia Nossa de Cada Dia, espetáculo de improvisação em dança contemporânea. Em 2011, o Pé de Zamba encena Para Lá das Palavras, também de perfil cênico-musical e interativo, construído a partir de questões do letramento e leitura, considerando os aspectos orais da literatura. Este espetáculo percorreu todas as regiões da cidade de São Paulo, atingindo mais de 40 bairros diferentes. Em 2012, foi contemplado com o Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna, para criação e montagem de A Cruz que me Carrega.

Sobre Andrea Soares: Andrea Soares é artista cênica que trafega pela dança, música e teatro, além de educadora em artes e pesquisadora das culturas tradicionais brasileiras. Graduou-se em Licenciatura em Artes Cênicas pela ECA/USP, unidade onde atuou, em 2012, como professora convidada, na disciplina Folclore Brasileiro. Como artista, trabalhou junto a diversos grupos da cidade de São Paulo, como o XPTO, Cia Ocamorana e fundou em 2002, o Grupo Babado de Chita, que coordenou artisticamente até 2009, conquistando os prêmios Myriam Muniz e Klauss Vianna, em 2006, e Fomento à Dança de SP, em 2007, com projetos de sua autoria. Atualmente é diretora artística e compõe o elenco do Núcleo Pé de Zamba, coletivo com o qual dá continuidade a sua pesquisa de linguagem para a cena, nominada “contemporâneo-brasileira” e que tem como premissa o diálogo entre a cultura tradicional brasileira e as perspectivas contemporâneas para criação.

Ocupação Interlocuções Poéticas
Projeto contemplado por edital público da Funarte em 2015
Idealização e coordenação: Solange Borelli | Produção executiva: Flavia Borsani | Produção técnica (som e luz): Pedro Borelli | Projeto gráfico e identidade visual: Rogerio Salatini | Apoio: Cooperativa Paulista de Teatro

Espetáculo A Cruz que me Carrega
Dias 31 de outubro e 1º de novembro | Sábado, às 20h; domingo, às 19h

Concepção e direção: Andrea Soares | Elenco: Andrea Soares, Joana Egypto, Jô Pereira, Leandro Medina, Cristiano Cunha, Palomaris Mathias | Orientação dramatúrgica: Valéria Cano Bravi | Trilha sonora: Leandro Medina e Andrea Soares, livremente inspirada nos pontos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Justinópolis/MG | Figurinos e elementos de cena: Marcondes Lima | Confecção de figurinos: Maria Gomes | Iluminação: Ligia Chaim | Preparação corporal: Beth Bastos | Preparação em Eutonia: Karen Müller | Preparação vocal: Beth Just/ Sandra Ximenes | Fotografia: Charles Trigueiro | Registro em vídeo: Andre Mello | Designer gráfico: Lucas Länder | Realização: Núcleo Pé de Zamba

Duração: 40min | Recomendação etária: livre
Ingressos: R$20 (meia: R$10). Bilheteria abre uma hora antes do espetáculo – um um ingresso por pessoa. Não aceita cartão

Sala Renée Gumiel do Complexo Cultural Funarte São Paulo. Alameda Nothmann, 1058, Campos Elíseos, São Paulo, SP. Tel (11) 3662-5177

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